O futebol é emoção, alegria e, por vezes, dor. Que o diga um lateral direito de uma equipa indiana, que se arriscou a deixar de contribuir para a elevadíssima taxa de natalidade do país só por tentar evitar um golo.

Num jogo da Liga Europa, Benjamin Kololli, jogador do Zurique, deu um salto (literalmente) para o desconhecido enquanto celebrava um golo apontado em casa do AEK Larnaca e acabou dentro de um fosso.

Tal como episódios de dor, o desporto está cheio de casos de superação que nos inspiram a todos. Conseslus Kipruto, reputado atleta queniano, ganhou a prova dos 3.000 metros obstáculo das finais da Liga Diamante depois de ter perdido uma sapatilha ainda no primeiro quilómetro.

E o que dizer, ainda que a nível amador, de um canalizador de 26 anos que se inscreveu numa meia-maratona, enganou-se no percurso e acabou por fazer 42 quilómetros? Ah, valente!

Por cá, Rui Vinhas, vencedor da Volta a Portugal em 2016, voltou a ser herói em 2018, mas por uma razão diferente. Um choque com um carro de apoio deixou-o inconsciente a 120 quilómetros da meta. Com escoriações na face, nos braços, nas pernas, e contra a vontade dos médicos, voltou a pôr-se em cima da bicicleta e terminou a etapa e a prova.

Sim, nem tudo no desporto é hilariante. Há histórias que tocam o mundo. Como esta do menino argentino de nove anos que perdeu as duas pernas e uma mão por causa de uma doença bacteriana e que cumpriu o sonho de conhecer por dentro o clube do coração: o Atlético Madrid.

Na Argentina, uma outra criança tocou-nos. Pôs à venda os brinquedos para ter dinheiro para ir ver ao Estádio Monumental o River Plate-Boca Juniors, a contar para a 2.ª mão da final da Taça Libertadores. A iniciativa levou uma filial espanhola do River Plate a oferecer dois bilhetes para que ele e a mãe pudessem ir ver o jogo. Renzo não precisou de vender os brinquedos, mas a finalíssima também não foi jogada no estádio do River, mas sim no Santiago Bernabéu, em Madrid.

Em Inglaterra, um clube do quarto escalão ajudou um adepto que 94 anos, que sofre de demência, a cumprir um sonho antigo. Nunca é tarde para tocar um coração.

Árbitros agressores, colegas hostis e mulheres nuas

O azar faz parte do desporto. O autogolo, a bola que bate no poste e não entra, que queima a linha de golo, volta para trás e nega o golo e uma vida e um Puskás invalidado por causa da lei 11. Por mais planos que se façam, o destino encarrega-se muitas vezes de nos pregar partidas.

Num FC Porto-Boavista, Sérgio Oliveira escorregou enquanto batia um penálti, ainda marcou, mas viu o golo anulado pelo VAR: dois toques na bola.

Na Bélgica, no Standard Liège-Sevilha para a Liga Europa, Orlando Sá esteve envolvido numa das jogadas do ano com mais suspense e que, bem vistas as coisas, pode muito bem ter custado ao clube belga a eliminação das competições europeias. Quando o português se preparava para marcar, um colega roubou-lhe o protagonismo e atirou… à barra.

Com colegas assim, que precisa de inimigos? No Milan, Kessié mandou Musacchio para o estaleiro até ao final de 2018 durante um jogo com o Betis.

Haverá pior do que ter onze adversários e companheiros pouco amistosos num só jogo?

Olhe que sim! Diego Carlos, antigo jogador do FC Porto e do Estoril, acabou pontapeado e expulso pelo árbitro, depois de este ter sido derrubado de forma involuntária pelo defesa do Nantes num jogo com o PSG.

Imagine, por exemplo, o que é sofrer uma entrada de um… canídeo?

Por falar em animais de quatro patas, qual é a probabilidade (esqueça aquele filme) de um cão salvar a pele a um guarda-redes que meteu água, substituí-lo momentaneamente na baliza e evitar um golo?

Não tão raros como este tipo de episódios mas menos comuns do que seria desejável são os gestos de fair-play, que há quem ainda insista em preservar. Da Distrital do Porto chegou-nos um fantástico exemplo disso mesmo.

Independentemente dos bons costumes, há algo que ninguém dispensa no futebol: ganhar. E isso é comum a todos os clubes. Na 3.ª divisão da Holanda, um jogo foi interrompido pela entrada de uma mulher nua no terreno de jogo. Segundo a imprensa local, tudo não passou de uma estratégia da equipa da casa para distrair o adversário. Não podia ter corrido pior…

Seja lá o que tenha feito, não foi pelo fair-play que um adepto fanático de uma equipa da 2.ª divisão turca foi proibido de ver os jogos da própria equipa durante um ano. Mas ele lá arranjou solução para o problema: alugou uma grua e assistiu lá do alto a uma goleada.

Amnésias, tropeções, desculpas esfarrapadas e o japonês mais azarado de sempre

O futebol é apaixonante. E eletrizante: não acredita? Veja isto, vindo diretamente da Noruega.

O futebol é uma caixinha de surpresas. Que o diga Jhonatan, guarda-redes que chegou à zona de entrevistas rápidas a pensar que o Moreirense tinha perdido com o FC Porto e saiu de lá com um ponto. Uns tempos depois verificou-se na Áustria um acontecimento ainda mais estranho: é que a equipa do jogador em questão tinha vencido o jogo e ele falava como se tivesse… perdido.

O futebol prega-nos rasteiras. Mourinho que o diga e não por ter sido despedido do Manchester United com o Natal à porta: há uns meses foi literalmente ao tapete em Wembley, espécie Meca do futebol mundial. Ou o árbitro que caiu num jogo e acabou a ver o cartão amarelo exibido por um jogador? Se fosse com o amigo de Diego Carlos, era capaz de piar mais fino.

Ser futebolista pode não ser fácil. Para Mertesacker, por exemplo, chegou a ser um inferno. Mas se há coisa que é indiscutível é que, apesar da pressão e do escrutínio a que estão constantemente sujeitos, os jogadores, sobretudo os das grandes equipas, têm tratamento privilegiado. Bruno Fernandes até uma oferta para passar uns tempos na casa de férias de Sousa Cintra recebeu, num momento insólito que antecedeu uma conferência de imprensa.

Ser treinador também não é fácil. Imagine o que terá pensado o selecionador da equipa sub-21 da Roménia quando soube que dois jogadores não queriam ir à seleção por causa de um… género musical?

Sim: ser treinador não é, definitivamente, fácil. Dê o futebol as voltas que der, os maiores bodes expiatórios dos maus resultados serão sempre os mesmos: os treinadores, claro está. Mas a paciência tem limites. E a Mick McCarthy, treinador do Ipswich, a tampa saltou-lhe: depois de ter sido contestado pelos adeptos por uma substituição num jogo que até ganhou, o técnico surpreendeu na flash interview ao anunciar que se ia embora.

E ser adepto? É fácil? Só quando se ganha, não é assim? Há umas semanas contámos-lhe a história de um hincha japonês do Boca Juniors. Isamu Kato (na foto abaixo), que em português significa azar (não acredite nesta parte), tirou um dia de férias no local de trabalho e meteu-se a caminho de Buenos Aires para assistir à 1.ª mão da final da Taça Libertadores. Só que o problema é que uma chuvada torrencial levou ao adiamento do jogo quando o adepto até já estava na Bombonera. Isamu Kato, que tinha de ir trabalhar, lá teve de voltar a meter-se no avião e regressou ao Japão sem ver o jogo, que se realizou no dia seguinte.

Conceição com os «fusíveis avariados» e o jornalista armado em Ronaldo

Aos jornalistas cabe a missão de registar os acontecimentos. Mas há alturas em que eles se transformam no acontecimento. Em Inglaterra, um jornalista da BBC foi alvo de uma partida montada por alguns camaradas em «conluio» com o treinador do modesto Newport Cunty, equipa que ia defrontar o Tottenham para uma eliminatória da Taça. «Vamos fingir que já começámos. Quando ele chegar, vou dizer: ‘Mais alguma pergunta?’» E assim foi.

Sim: um jornalista diverte-se e sofre no exercício da profissão. Passa, também, por momentos embaraçosos. Como por exemplo quando nos esquecemos de pôr o telemóvel em modo avião enquanto gravamos uma conferência de imprensa e o treinador, que responde às perguntas, resolve atendê-lo: não é, senhor Unai Emery?

Por cá, uma pergunta de uma jornalista deixou Sérgio Conceição com os «fusíveis meio avariados».

Como entre os adeptos nas bancadas de um estádio, há jornalistas que acham que têm jeito para o futebol e que o que os profissionais fazem dentro das quatro linhas está perfeitamente ao alcance deles. Na Argentina, uma imitação da fantástica bicicleta de Cristiano Ronaldo em Turim (ainda) pelo Real Madrid acabou com uma perna partida.

Isto é mesmo verdade?

Numa era em que as fake news se disseminam de forma assustadora, todo o cuidado é pouco. Em maio, uma fotografia de Radamel Falcao apareceu publicada no twitter oficial do Sevilha. A imagem fez furor, sobretudo entre os adeptos do clube espanhol, que acreditavam que o clube do coração tinha garantido um reforço de peso para a temporada seguinte. A verdade: um hacker tinha entrado na conta do Sevilha e Falcao ainda é jogador do Mónaco.

Mas há também notícias verdadeiras que, de tão insólitas que são, parecem falsas e requerem um trabalho minucioso de fact check. Mas nós aqui, que também corremos o risco de cair na ratoeira, prometemos dizer a verdade e nada mais do que a verdade.

Ora aqui vai: os ultras do Hapoel Be’er Sheva, equipa onde alinha o português Miguel Vítor, desfraldaram uma tarja gigante com a cara de Kim Jong-un. Será dos ares? É que o Beitar Jerusalém, também de Israel, resolveu acrescentar à designação do clube o nome de Donald Trump, numa espécie de homenagem ao reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel por parte dos Estados Unidos.

Um admirador do avançado francês Lacazette tatuou a imagem do jogador do Arsenal num lugar... incaracterístico.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

When you invite the fan who tatooed your face on his.. body 😂😂😂 #CrazyFan #Coyg

Uma publicação partilhada por Alex Lacazette (@lacazettealex) a

No Paraguai, o presidente de um clube assumiu ter mantido uma relação com um jogador da equipa.

No Brasil, um casal fã de Riquelme resolveu batizar os 13 filhos com nomes que começam pela letra «R» para homenagear o antigo craque argentino. E outubro, o 14.º estava a caminho e damos-lhe uma pista: começa por «R».

Esta não passou de uma piada. O Íbis Sport Club, equipa brasileira que está no livro do Guinness como a pior equipa do mundo, perguntou ao Liverpool se estaria disposto a vender Loris Karius na ressaca da noite difícil do guarda-redes na final da Liga dos Campeões contra o Real Madrid.

Vanuatu, 163.ª classificada do ranking de seleções da FIFA, procurou selecionador através de um anúncio nas redes sociais.

No Equador, um ataque de abelhas obrigou à interrupção de um jogo.

Na Lituânia, o FK Panevezys anunciou com pompa e circunstância a contratação de um letal goleador angolano chamado Barkley Miguel-Panzo. «Quem?», pergunta o leitor. A página do jogador na Wikipedia dizia que tinha jogado uns anos antes no Queens Park Rangers, equipa pela qual marcara 45 golos em 36 jogos, registo por estes dias (e por aqueles, também) só ao alcance de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. O emblema da segunda divisão da Lituânia justificou depois que tudo não passava de um equívoco e que Barkley Miguel-Panzo foi contratado depois de um período de testes.

Em Itália, Davide Iovanella, um antigo jogador de divisões menores, cansou-se. Primeiro cansou-se de jogar futebol, tornou-se gigolô e evoluiu de seguida para a indústria de filmes pornográficos. Davide Montana, de nome artístico, deixou de o ser, até porque percebeu que a nova profissão escolhida também era exigente: «Há pressão e requer consistência. Não é como estares na cama com a tua parceira. É um trabalho real e as posições não são fáceis.» Depois de arrumar as botas, Davide pendurou… vá, ficamos por aqui, pode ser?

[Artigo originalmente publicado às 23h46 de 23-12-2018]