Este é um trabalho do Maisfutebol sobre os últimos anos da vida de José Torres. Foi publicado originalmente a 31 de Julho de 2006

O ex-internacional José Torres vive com uma pensão baixa, mas a família garante que não passa por necessidades. Sente-se no discurso da mulher Alcinda Torres e do filho, Francisco, alguma mágoa por não ter sido feita uma homenagem ao «Bom gigante» em tempos em que ele ainda pudesse sentir o carinho que as pessoas lhe têm. «Mesmo que queiram fazer algo, ele não poderá estar presente, porque não está em condições», explica a esposa. Já o filho pede que o nome do pai não seja usado para recolha de fundos que não chegam ao destino, ou demoram a chegar.

O apelo surge depois de um processo que se arrastou por um ano e que só teve desfecho por estes dias. A família teve conhecimento, através da comunicação social, de que teria sido feito um leilão a favor de José Torres num jantar, realizado a 9 de Junho de 2005, na Casa do Benfica de Albufeira. Quanto rendeu a iniciativa não sabiam. Aliás, tudo o que sabiam estava nas páginas do jornal. Um ano depois, ainda nada se sabia do dinheiro: «Lamentei que usassem o nome do meu pai porque as pessoas que contribuíram até podiam ter dificuldades. Não estamos à espera de ajudas, nem do que quer que seja. Só gostávamos que o nome do meu pai não fosse usado, para depois as coisas não chegarem a quem de direito.»

O Maisfutebol procurou perceber o processo, em contactos sucessivos que revelaram uma série de mal-entendidos. Depois de muito tempo sem notícias sobre este assunto, a família de Torres foi contactada por Abreu Rocha, da Comissão instaladora do Museu do Benfica, que estava interessado em ver a Bola de Prata exposta, entre outras lembranças, no futuro espaço. Confrontado com a questão sobre a iniciativa de Albufeira, o antigo dirigente procurou informar-se. «Falei com a família para nos cederem alguns objectos e soube da situação. Procurei desbloqueá-la e resolver o assunto, mas não consegui, muito pelos meus problemas de saúde. Ao fim de um ano... Considero que este episódio é caricato e é lamentável que tenha chegado a este ponto», diz Abreu Rocha ao Maisfutebol.

Abreu Rocha, assim como os responsáveis da Casa de Albufeira, nomeadamente Miguel Mesquita, dizem ter falado com Carlos Colaço, responsável pela organização de jogos, para encontrar uma forma de fazer chegar o dinheiro à família. Este aponta que a questão «nada teve a ver com o Benfica» e que a ajuda que tentou dar «foi a nível particular e não envolveu o departamento». Uma vez que lhe transmitiram que a família não fornecia o NIB (número de identificação bancária para ser feita a transferência), Carlos Colaço sugeriu às pessoas ligadas à iniciativa que «enviassem uma carta registada».

Miguel Mesquita, um dos vice-presidentes da Casa de Albufeira, ficou encarregue de guardar o dinheiro (cheque) e lamenta que não tenha existido resposta de Carlos Colaço aos seus pedidos: «Ninguém se preocupou. Fiquei à espera de um contacto e tentei consegui-lo, por várias vezes, e só me disseram que iam tentar.»

Passou mais de um ano desde a recolha dos donativos, mas, finalmente, a família de José Torres e as pessoas envolvidas na iniciativa entraram em contacto. Bastou um telefonema e a situação foi desbloqueada. Esta segunda-feira, os 630 euros chegaram ao destino, chegaram a José Torres.