1,68 metros de gente a pegar numa alma sem fim. Jogada sublime de Rabah Madjer, olhos trocados a um alemão caído em desgraça, o centro para a finalização surreal de Juary. Consagração máxima de uma grande equipa de futebol. Nunca é de mais recordar Viena, 1987.

«Eu nem devia ter jogado», diz o baixinho brasileiro ao Maisfutebol. «Estava lesionado no tornozelo direito, sem condições nenhumas. Mas a psicologia única do Artur Jorge fez-me tocar o céu. Ele pediu ao Rodolfo Moura para me deixar em condições de jogar. Não precisa de ser muito tempo, em 30 minutos o Juary decide. E pronto, perante isto, eu tinha mesmo de entrar.»

«Eu explico ao Villas-Boas como se faz um hat-trick ao Barcelona»

Juary começou a aquecer perto do intervalo. Foi ao balneário e escutou o discurso do rei Artur. «Foi simples, muito simples. O campeonato de Portugal podemos ganhar quase sempre. Fazer história tem de ser hoje. O que preferem vocês? Vão lá para dentro e joguem à Porto. Disse-nos isso, deixou-nos o peito a ferver. Só queríamos ir para cima do Bayern.»

Artur Jorge, de resto, merece as mais sinceras loas de Juary. «Tínhamos uma relação de pai e filho. Respeitava-o muito. Como treinador e como homem. Era uma pessoa educadíssima, inteligente e culta. Para ele todos os jogadores eram iguais», conta Juary, voz embargada pela saudade.

«O maior mérito dele era a comunicação, talvez. Conseguia fazer com que o plantel percebesse a relevância de cada jogo. Nunca o questionei por ser suplente ou titular, nunca. Aceitava as escolhas dele e aproveitava ao máximo o que ele me dava.»

«Pensava que o Futre se ia perder»

A entrevista percorre nomes sagrados na nação azul e branca. Fala-se da «genialidade» de Rabah Madjer, do «menino» Futre, dos «senhores» Gomes e Eurico, e ainda de Lima Pereira, Jaime Pacheco, João Pinto, Zé Beto, Mlynarczyck e Celso.

«O Pinto da Costa não escolhia nenhum jogador que não fosse um grande homem. Estudava-nos a todos. Construiu a equipa devagar, minuciosamente, até chegar ao título europeu. Sinto uma grande nostalgia porque todos eram meus irmãos. Se eu estava mal havia sempre alguém disposto a ajudar.»

Um disco gravado, a terra a tremer e um tiro a mudar a vida

Juary sente falta, por exemplo, «dos almoços de sexta-feira». «Eram fantásticos, mas para participar tínhamos de conquistar a confiança dos jogadores mais influentes. Eu consegui. Dava-me bem com toda a gente, mas tenho de destacar os exemplos do Eurico, do Gomes e do Lima Pereira. Tiveram lesões gravíssimas e nunca deixaram de estar connosco.»

Paulo Futre é outra «criatura especial». «Era o nosso menino. Vi-o crescer, vi aquele talento extraordinário e vi também algumas asneiras. Às vezes pensava que ele se ia perder. Enfim, joguei com o Pelé, defrontei o Maradona e o Van Basten, mas o que mais me orgulha é ter jogado naquele F.C. Porto», conclui o ex-atacante.



A final de Viena em resumo: