No ano passado, por esta altura, o Maisfutebol publicou uma entrevista a Juary, autor do segundo golo do F.C. Porto na final da Taça dos Campeões Europeus frente ao Bayern Munique (2-1). Agora, os azuis e brancos voltam a disputar a final da prova, depois de eliminarem o Corunha, motivo suficiente para recuperar o trabalho jornalístico.
A imagem é célebre: depois de marcar o golo ao Bayern de Munique, o segundo do F.C. Porto na final da Taça dos Campeões Europeus de 1987, Juary ficou de joelhos no relvado, de mãos unidas, a conversar com Deus. Agradeceu a inspiração para selar o triunfo numa jogada «de muita inteligência». A classe de Madjer foi meio golo, depois de um drible rápido no lado esquerdo, antes de cruzar para o segundo poste onde apareceu o brasileiro a finalizar.
Maisfutebol - Se não me engano, o golo que você marcou ao Bayern, o segundo do F.C. Porto, é marcado com o joelho e de uma forma muito acrobática. Atrapalhou-se na hora do remate?
Juary - Não, eu marquei o golo com a parte de dentro do pé. Só podia chegar à bola com aquele gesto. Ou chegava de cabeça ou com o pé. Optei pelo pé. Aquele lance é um lance de inteligência. Tudo começa com o Rodolfo Moura, que está fora do relvado a dar assistência médica ao Madjer. Quando acaba, empurra-o para dentro do campo, sem pedir autorização ao árbitro. A bola é colocada no Madjer, que faz um bom trabalho do lado esquerdo e cruza em direcção ao segundo poste, onde eu apareço vindo de trás.
- No primeiro golo, você assiste o Madjer para o famoso golo de calcanhar. Houve alguma intenção da sua parte em colocar a bola no calcanhar dele?
- A minha intenção é colocar a bola na área. Sabia que o Madjer e o Futre estavam na área. Quando recebi a bola a minha preocupação foi metê-la na área, porque sabia que alguém poderia aparecer para marcar o golo. Nunca tive a intenção, nem sequer imaginei, que ele fizesse o golo daquela maneira.
- Estabelecendo um paralelo entre a equipa de 1987 e a actual, que jogadores da altura encaixariam neste F.C. Porto?
- Muitos jogadores encaixariam nesta equipa. Por exemplo, o Madjer, o Futre e o André. Eram jogadores muito determinados e que não gostavam de perder. Eles personificavam o espírito do F.C. Porto. Digo mais, o nosso grupo todo encaixaria bem nesta equipa, precisamente pela vontade que tínhamos em vencer.
- Faço-lhe a pergunta ao contrário. Que jogadores de agora teriam lugar no F.C. Porto do seu tempo?
- O Deco é um dos que poderia jogar na nossa equipa. Faz-me lembrar o Frasco, porque vai para cima dos adversários e cria situações de perigo. Por aquilo que vejo, a união desta equipa tem sido muito importante e faz-me lembrar o espírito que havia no nosso tempo.