No ano passado, por esta altura, o Maisfutebol publicou uma entrevista a Juary, autor do segundo golo do F.C. Porto na final da Taça dos Campeões Europeus frente ao Bayern Munique (2-1). Agora, os azuis e brancos voltam a disputar a final da prova, depois de eliminarem o Corunha, motivo suficiente para recuperar o trabalho jornalístico.
Foi um dos heróis da noite cintilante de Viena, onde o F.C. Porto impôs a sua imagem de marca e abafou os propósitos do Bayern de Munique (2-1) na final da Taça dos Campeões Europeus de 1987. Se a reviravolta foi possível, não só se deveu à inspiração divina de Madjer como também à chama de Juary. O brasileiro entrou depois do intervalo para o lugar de Quim e esteve ligado aos dois golos azuis e brancos: assiste o argelino para o famoso gesto de calcanhar e marca o tento da vitória a passe do mesmo colega.
Maisfutebol - Na final de Viena, o rendimento do F.C. Porto na segunda parte é manifestamente superior ao exibido durante o primeiro tempo. O que vos disse Artur Jorge, ao intervalo, para ter conseguido mudar a forma de jogar da equipa?
Juary - Pediu-nos para lutar e jogar aquilo que sabíamos jogar. Conversámos muito ao longo da semana, o treinador passou-nos muitas informações e achava que podíamos surpreender o Bayern de Munique no segundo tempo através da nossa velocidade, porque achava que o adversário era lento do meio-campo para trás. Também nos disse que éramos um grupo quase a encerrar a carreira. Era a nossa grande oportunidade para entrarmos na história do futebol mundial e sermos vistos como uma geração de vencedores e não como um grupo de perdedores. Isso mexeu muito connosco.
- Mesmo assim, é capaz de explicar por que a primeira parte do F.C. Porto foi muito aquém daquilo que se esperava?
- Estávamos numa final europeia e defrontámos logo o Bayern Munique, uma equipa muito poderosa e que era favorita para vencer a Taça dos Campeões Europeus. Isso, no início, influenciou o nosso rendimento. Depois, recuperámos a nossa confiança e começámos a acreditar que podíamos vencer. A união do grupo foi fundamental, porque todos nós queríamos aquela vitória.
- Quando o F.C. Porto venceu o Bayern Munique e se sagrou campeão europeu, o feito conseguido foi uma surpresa ou algo de normal?
- Nem uma coisa, nem outra. Nós tínhamos a obrigação de lutar pela vitória, mesmo que corrêssemos o risco de sermos derrotados. O mais importante desse jogo acabou por ser a semana que o antecedeu. O Artur Jorge colocou-nos na cabeça que o Bayern era muito forte e superior ao F.C. Porto. Ele soube trabalhar o grupo de uma forma que o nosso pensamento no dia do jogo era ganhar, ganhar e ganhar. Até para lhe provar o quanto estava errado. Sem dúvida, foi o maior treinador que tive ao longo da minha carreira.
- Quando vê o vídeo dessa final da Taça dos Campeões Europeus, a partir de que momento começa a sentir arrepios?
- Desde o início do jogo que começo a sentir arrepios, apesar de saber o resultado. Na segunda parte, vêm-me as lágrimas aos olhos. Para mim, é um prazer rever jogadores como o Futre, o Celso, o Madjer, o Eduardo Luís e o Mlynarzcyk. A alegria estampada no rosto de todos os colegas, especialmente no rosto do falecido Zé Beto, dá-me uma enorme satisfação. Quando vejo o jogo, lembro-me das coisas boas, não só daquele jogo mas também pelos cinco ou seis anos que passámos juntos. Quando tenho saudades, só as consigo matar quando pego no vídeo