O secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, admitiu esta quarta-feira a possibilidade de haver um cenário de «abuso de confiança e usurpação de poderes» na Federação Portuguesa de Judo (FPJ), e por parte do antigo presidente da instituição, Jorge Fernandes.

Correia foi ouvido numa audição pedida pelos grupos parlamentares do PSD e do PS, na qual afirmou que as denúncias feitas podem originar um novo inquérito ao ex-dirigente.

«Aquilo que ouvimos ontem [terça-feira] foi um conjunto de denúncias que podem configurar usurpação de poderes e abuso de confiança por parte do ex-presidente da Federação de judo, com a conivência da atual direção da FPJ. E ouvimos também denúncias acerca da ausência de um departamento técnico no seio da federação, revelando que o ex-presidente exercia funções para além das funções da presidência, exercia funções técnicas. Inevitavelmente, darão lugar a um novo inquérito, que terá de ser célere e conclusivo», disse, citado pela Lusa.

«A entidade que fiscaliza é o IPDJ, o Governo tem de assegurar que o IPDJ tem condições para essa atividade fiscalizadora, mas, no caso concreto, após a carta aberta [as denúncias de um grupo de sete judocas em agosto do último ano], entendi que devia exercer uma função de diplomacia, com a federação e atletas», prosseguiu.

João Paulo Correia garantiu ainda que a secretaria de Estado não avançará com uma retirada de estatuto de utilidade pública à FPJ, até por causa dos apoios para os Jogos Olímpicos de 2024.

«A faculdade de retirar a utilidade pública será sempre de última instância, que impedirá o estado de financiar a modalidade […]. O nosso principal objetivo foi garantir o apoio à modalidade a um ano e três meses dos jogos de Paris2024. Apesar desta crise, grave, desde a primeira hora procurámos garantir o financiamento, para que os atletas, estes que exerceram o direito de denuncia, para que não ficasse em causa a preparação para Jogos Olímpicos e Paralímpicos», referiu.

«O que faltou sempre foi bom senso, isto não acontecia se a Assembleia Geral tivesse recusado a lista de Jorge Fernandes [a uma recandidatura, que o tribunal desconvocou]. Se houver bom senso por parte dos órgãos sociais, o assunto fica resolvido no minuto seguinte. Porque é manifestamente público que o ex-presidente Jorge Fernandes está, com o seu comportamento e atitudes, e com algumas conivências, a implodir o prestígio de uma modalidade e que a ajudou a afirmar o desporto nacional na cena internacional», defendeu ainda João Paulo Correia.

Esta audição, diga-se, surge na sequência da crise que foi conhecida em agosto do ano passado, quando um grupo de judocas portuguesas denunciou um clima de opressão e um ambiente tóxico na federação, com especiais críticas a Jorge Fernandes, antigo líder da organização.