Só não vai ver quem não quiser. A sentença de Oscar Pistorius começa a ser lida esta quinta-feira em Pretória e estará tudo em direto, através de imagens e das redes sociais. Foi assim desde que o atleta matou a sua namorada, Reeva Steenkamp, a 14 de fevereiro de 2013, o dia dos namorados. Foi assim ao longo dos sete meses de julgamento e será ainda mais agora, que o mundo vai conhecer a decisão sobre o homem que foi durante muito tempo um exemplo para tantos.

Chamam-lhe o julgamento do século, já chamaram o mesmo a outros antes deste, mas na era do mundo ligado como nunca o caso Pistorius foi mediatizado como talvez nenhum outro. O grande termo de comparação, no que diz respeito a celebridades, é OJ Simpson, o jogador de futebol americano acusado de matar a mulher e um amigo.

O caso apaixonou os norte-americanos, que assistiram em direto à decisão que absolveu OJ, em 1995. Mas o julgamento de Pistorius foi transmitido em direto, minuto a minuto: a juíza autorizou a transmissão da sala do tribunal, com alguns condicionalismos, e foi criado um canal online a emitir 24 horas por dia, com streaming espalhado pelo mundo em sites ou blogues. No Twitter cada pormenor do julgamento era replicado instantaneamente.

Desde que começou o julgamento, em março, escreveram-se mais de dois milhões de tweets usando as hashtags #OscarPistorius e #OscarTrial, escreve o jornal Sidney Morning Herald. Milhões e milhões de interações: informações, opiniões, piadas, comentários. Fora da rede, horas e horas de televisão, páginas e páginas de jornais. Reconstituições, testemunhos, teses, teorias.  Há centenas de jornalistas de todo o mundo em Pretória, a prepararem-se para contar tudo em direto.


A própria defesa de Pistorius percebeu o potencial das redes sociais para passar a sua mensagem. Chegou a criar uma conta de Twitter, a que chamou @OscarHardTruth, para veicular a sua informação. E também Pistorius, que foi julgado em liberdade son fiança, o fez em nome próprio.

A história de Pistorius tem todos os ingredientes de drama para potenciar a loucura à sua volta. Ele é a criança que superou dificuldades, o duplo amputado que conseguiu chegar a correr entre os melhores nos Jogos Olímpicos. Vivia um sonho ao lado de Reeva Steenkamp, modelo e estrela da televisão, com quem parecia formar um casal perfeito.

Tudo mudou naquela madrugada, quando Pistorius disparou quatro tiros sobre Reeva, que estava na casa de banho do quarto do casal. Ele diz que a confundiu com um ladrão, a acusação defende que a matou deliberadamente, após uma discussão.

É a partir destes dois argumentos opostos que a juíza Thokozile Masipa terá de tomar a sua decisão em relação às acusações: uma de homicídio e mais três relacionadas com armas. Em cima da mesa há vários cenários. Na análise de vários meios de imprensa internacional, a decisão pode ir da condenação por homicídio, com pena mínima de 25 anos até poder sair em liberdade condicional, à absolvição, se a juíza considerar que Pistorius não queria matar e agiu de forma razoável. Pode passar também por uma condenação por homicídio involuntário ou negligente.

E a decisão pode demorar. De acordo com a lei sul-africana, a juíza, que liderou o caso junto com dois assessores legais, terá de fazer um resumo dos 37 testemunhos ouvidos em tribunal, explicando as conclusões a que chegou em cada caso. Isto pode demorar horas, e pode significar que não será conhecida a decisão já nesta quinta-feira.

Depois de Masipa dizer se considerou Pistorius culpado, ainda será preciso deliberar a sentença que terá de cumprir. E isso não acontecerá no próprio dia, haverá uma nova audiência para determinar a pena.