O presidente do Benfica foi detido esta quarta-feira no seguimento de uma investigação sobre negócios e financiamentos que poderão ter acarretado prejuízos para o Estado e para algumas sociedades.
Além de Luís Filipe Vieira, o empresário de José António dos Santos, o agente de futebol Bruno Macedo e o filho do dirigente, Tiago Vieira, também foram detidos por factos ocorridos desde 2014 e que são sucetíveis de configurar a prática de vários crimes.
Luís Filipe Vieira: presidente da SAD do Benfica desde 2002 e do clube desde 2003, foi reeleito em outubro do ano passado para um sexto mandato à frente dos encarnados. Antes, foi dez anos presidente do Alverca, entre 1991 e 2001. Paralelamente, desenvolveu atividade de empresário com negócios em vários setores. Nos últimos anos tem visto o seu nome ser envolvido em casos de justiça: além dos processos de envolvem o clube no âmbito da justiça desportiva, é um dos arguidos da Operação Lex, na qual é acusado de recebimento indevido de vantagem. Em maio deste ano foi ouvido por deputados na Comissão de Inquérito sobre as perdas registadas pelo BES/Novo Banco, por ser um dos maiores devedores desta entidade. Esta detenção, confirma o Ministério Público, prende-se com factos ocorridos desde 2014 até agora e que são sucetíveis de integrarem a prática, entre outros, de crimes de abuso de confiança, burla, qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento.
José António dos Santos: conhecido como o «rei dos frangos», é o presidente do Grupo Valouro, o maior grupo agrícola português que tem perto de 40 empresas espalhadas pelos setores da agricultura, indústria de rações, produção de aves, distribuição e comércio alimentares, transportes, produção de energia, seguros, turismo e outras atividades. É também o maior acionista privado da SAD, detendo, a título pessoal ou através das empresas que controla, mais de 16 por cento do capital da sociedade que gere o futebol profissional. Em 2019, a Benfica SGPS lançou uma OPA sobre 28 por cento das ações da SAD ao custo de 5 euros por ação. Isso permitiria ao clube ter a quase totalidade (cerca de 95 por cento) das ações da SAD através de si próprio (clube) e da SGPS. José António dos Santos, suspeita o Ministério Público, seria um dos principais beneficiados desta operação que lhe geraria uma mais-valia de 11 milhões de euros. O Ministério Público acredita que seria uma espécie de contrapartida depois de este empresário ter recomprado por 8 milhões de euros a dívida da Imosteps - empresa do ramo imobiliário de Vieira - ao Novo Banco, permitindo que o presidente dos encarnados evitasse a insolvência. Em 2020, a OPA do Benfica foi travada pela CMVM, que considerou a operação ilegal por entender que esta seria feita com fundos da própria SAD que seriam canalizados para o clube, que acabaria, suspeita a investigação, prejudicado em detrimento de Vieira e José dos Santos.
Bruno Macedo: empresário de futebol, representou Jorge Jesus na ida do treinador para o Flamengo e que esteve envolvido também nas negociações com vista ao regresso do treinador ao Benfica no verão do ano passado. É parceiro do Benfica em vários negócios de transferências de jogadores, sobretudo provenientes do mercado brasileiro. Tem uma relação de amizade de longa data com o Vieira. O processo que resultou, por agora, em quatro detidos, investiga negócios e financiamentos em montante total superior a 100 milhões de euros. «Poderão ter acarretado elevados prejuízos para o Estado e para algumas das sociedade», lê-se no comunicado do Ministério Público.
Tiago Vieira: filho de Luís Filipe Vieira. É braço direito do pai em negócios do ramo imobiliário em Portugal e no Brasil. Entre as empresas que gere está a Promovalor, responsável pela maior parcela de uma dívida de centenas de milhões de euros das empresas de Vieira ao Novo Banco.