A revelação foi feita esta quinta-feira pelo advogado Pedro Henriques: a Polícia Judiciária (PJ) indicou o nome de um jornalista à Doyen na investigação do caso Football Leaks, para passar a versão por parte do fundo de investimento.
Pedro Henriques expôs a informação esta manhã, na fase inicial da 29.ª sessão do julgamento do processo, no Tribunal Central Criminal de Lisboa. O colaborador do antigo diretor executivo (CEO) Nélio Lucas, explicou que a sugestão surgiu durante uma «situação de stress» para a Doyen, face à «preocupação» com a revelação de documentos confidenciais na plataforma eletrónica criada pelo português Rui Pinto.
«Foi indicado um jornalista em concreto, mas não sei quem é, não me lembro. Mandei esse e-mail [ndr: com o nome do jornalista] ao Nélio e ao departamento de comunicação da Doyen», afirmou o causídico, que, questionado pela presidente do coletivo de juízes, Margarida Alves, acrescentou: «indicaram por iniciativa deles um jornalista e é a eles que têm de perguntar, a Doyen não pediu nada à PJ».
Margarida Alves ficou com dúvidas sobre a questão, relembrando a audiência de quarta-feira, na qual foi debatida uma troca de e-mails, em novembro de 2015, entre Pedro Henriques e o inspetor da PJ Rogério Bravo, na qual este tratava o colaborador de Nélio Lucas por «tu» e em que chegou a enviar uma sugestão de requerimento para apresentação à Procuradoria-Geral da República, cargo então ocupado por Joana Marques Vidal.
«A minha questão volta à interferência ou sugestão de um inspetor nestas questões que extravasam o normal andamento do processo e as suas competências», afirmou Margarida Alves, garantindo a Pedro Henriques que esta questão «não ficará por perguntar» no futuro.
O colaborador de Nélio Lucas, que testemunha pelo terceiro dia, confessou ainda ter «ideia» do que falou pela «última vez» com a PJ sobre o processo no «final de 2015» e que só soube da identidade de Rui Pinto como responsável do Football Leaks «pela comunicação social».
Tribunal extrai certidão do processo
Na mesma sessão, ao final desta manhã, após as afirmações de Pedro Henriques, o tribunal decidiu extrair uma certidão do processo Football Leaks para investigar a ligação entre o inspetor da Polícia Judiciária, Rogério Bravo, e o advogado Pedro Henriques.
A decisão do coletivo de juízes ocorreu após um requerimento da defesa do arguido Aníbal Pinto, que, na sequência do depoimento de Pedro Henriques, considerou que se «demonstram fortemente indiciados a prática dos crimes de falsidade de depoimento, corrupção, abuso de poder e denegação de justiça, pelo menos». De acordo com o requerimento apresentado pelo advogado João Pereira dos Santos, importa «esclarecer para defesa da própria credibilidade do sistema judicial todos os factos relativamente à colaboração entre a PJ e a Doyen, quais os seus contornos e objetivos e também a influência dessas condutas ilícitas na validade das provas obtidas e produzidas».
A procuradora do Ministério Público (MP), Marta Viegas, sublinhou que essa matéria «já se encontra apreciada em processo-crime, que se encontra neste momento arquivado», mas não se opôs à extração da certidão «para que seja reaberto pelo processo», o que o tribunal confirmou.