A seleção dos Estados Unidos realizou no último mês o «estágio de janeiro», um programa de trabalho habitual da «equipa nacional masculina» de futebol norte-americana, como é designada no seu país. É um programa regular, mas, neste ano de Campeonato do Mundo, tem por isso mesmo um âmbito especial.

Mais. Dentro do enquadramento Mundial 2014, este foi o primeiro da planificação de Jürgen Klinsmann para o Brasil. Este estágio de janeiro [«training» ou «preparation camp»] teve como propósito não só aferir quem dos jogadores chamados tem capacidade para encarnar a cultura que o selecionador dos EUA quer na sua equipa, como para encarnar essa cultura no Campeonato do Mundo – onde vai ser adversária de Portugal no Grupo G.

Este programa do calendário nacional do futebol dos EUA insere-se na altura do ano em que a atividade dos clubes está parada porque o campeonato nacional (MLS) só começa em março – enquanto nos principais campeonato europeus (que têm jogadores norte-americanos) as épocas vão precisamente a meio. O estágio de janeiro é, assim, geralmente utilizado para chamar vários jogadores pela primeira vez à seleção cruzando-os com mais experientes que estão sem competição.

O conjunto entre estreias e jogadores experientes pode ser ilustrado com os exemplos de Luis Gil (20 anos e nenhuma internacionalização até este primeiro estágio do médio do Real Salt Lake) e de Landon Donovan (31 anos e 154 internacionalizações até à última sexta-feira são os números do avançado do LA Galaxy). Desde sábado, não só Donovan somou mais uma internacionalização, como Luis Gil se estreou também pela seleção principal dos EUA no jogo frente à Coreira do Sul – o habitual epílogo do estágio de janeiro fechando com um jogo frente a uma seleção de valor idêntico cuja época nacional esteja também parada.



Selecionador dos EUA desde 2011, o treinador alemão dizia em dezembro do ano que passou (desde esse mês também diretor técnico nacional) que quer os jogadores a atuarem tendo como guia «o que fazem para a equipa». Klinsmann exige aos seus homens uma dedicação mental de «24 horas por dia e sete dias por semana» fundamental para quem quer representar a seleção dos EUA.

E Klinsmann parece estar satisfeito com os resultados, pois, já reconhece etapas alcançadas. Em 2013, a seleção norte-americana já conseguiu «criar a cultura» de pensar em função do (objetivo) que «vem a seguir». O selecionador dos ÊUA afirmou que com o estágio de janeiro se «inicia a contagem para o estágio de maio», quando escolherá os 23 que vão ao Mundial. E para este primeiro programa de 2014 iniciado a 6 e janeiro chamou 26 jogadores.

Os atletas convocados pertencem todos a clubes da MLS – com a exceção de Mikkel Diskerud, pois o médio joga no Rosenborg cujo campeonato da Noruega também só começa em março. Os 25 jogadores da MLS convocados chegaram de 11 clubes, com o campeão Sporting Kansas City a ser o mais representado com cinco. Além de Luis Gil, Michael Harrington, Chris Klute, Shane O’Neill e DeAndre Yedlin estrearam-se pela primeira vez num estágio. No plano inverso, houve dez jogadores neste programa que participaram na qualificação dos EUA para o Mundial.

Na agenda do estágio esteve a presença entre 13 e 25 de janeiro no Brasil para experienciar in loco como vai ser. Klinsmann fez então uma alteração ao programado. Dos 26 inicialmente chamados ao centro de estágio da seleção dos EUA, em Carson, na Califórnia, deveriam sair três e só viajariam 23 para o Brasil. O selecionador acabou por levar todos.

«Ficámos extremamente agradados com o trabalho do grupo na primeira semana. Os jogadores vieram em boa forma e têm treinado bem. Por isso, acredito que todos eles merecem a oportunidade de ir ao Brasil nos próximos 12 dias. Estamos ansiosos por chegar a São Paulo e continuar a trabalhar. Esta é uma grande oportunidade para conhecer o nosso meio ambiente no Campeonato do Mundo», declarou o germânico no site da federação dos EUA.



Testar as instalações onde a seleção norte-americana vai trabalhar, os campos do São Paulo, o hotel onde vão ficar alojados, «estabelecer uma ligação com o Brasil, com as circunstâncias que se vai encontrar lá, perceber como vai ser em junho» foram as intenções da equipa liderada por Klinsmann. Cobi Jones explica também que «como as coisas têm o seu próprio ritmo» e no Brasil é diferente (também jogou no Vasco da Gama), «é importante apreender o que se passa lá».

O antigo internacional dos EUA (164 vezes) destaca que a sua seleção tanto terá como preocupação «a comida» como «a segurança». Em comentário na «Fox Sports», Jones lembra que as famílias dos jogadores irão também para o Brasil e há muitas coisas que podem distraí-los, nomeadamente as questões de segurança. Foi por isso importante «estar lá quando acontecem os protestos» sociais. «É nestas situações que se pode ver quem é o verdadeiro profissional e se consegue concentrar no campo. Jürgen quer perceber que jogadores conseguem aguentar isto física e emocionalmente: se um jogador aguenta bem isto, a viagem, se joga bem no Brasil, se consegue corresponder bem no jogo com a Coreia», disse o atual dirigente do Cosmos.

Klinsmann ficou satisfeito no regresso do Brasil, pois «todos os jogadores trabalharam imenso». O selecionador elogiou o desempenho «extremamente bom» dos estreantes esperando que regressem aos seus clubes «com um entendimento melhor do que é jogar a nível internacional» como têm os estrangeiros como Clint Dempsey, Jermaine Jones ou Jozy Altidore, ausentes deste programa de trabalho.

Para o final do estágio estava marcado o jogo com a Coreia do Sul, a «grande oportunidade para os jogadores mostrarem aquilo a que estão dispostos». Klinsmann deu-a a 17 perante 28 mil espectadores que esgotaram a lotação do StubHub Center, em Carson: Nick Rimando; Brad Evans (DeAndre Yedlin, 74), Matt Besler (Clarence Goodson, 60), Omar Gonzalez, Michael Parkhurst; Kyle Beckerman, Mix Diskerud (Benny Feilhaber, 60), Landon Donovan (cap.), Graham Zusi (Eric Alexander, 82), Brad Davis (Luis Gil, 75), Chris Wondolowski (Eddie Johnson, 60). Os EUA venceram 2-0. Wondolowski foi a estrela do dia marcando os dois golos.


USA vs South Korea 2 -0 All Goals Highlights...