A 26 de março, a Argentina reviveu o pesadelo de La Paz, na Bolívia. Jogando a 3650 metros de altitude, Ángel di María precisou de uma bomba portátil de oxigénio, a par de outros, com Leo Messi a vomitar a caminho dos balneários. Mas há pior.

As visitas ao Estadio Hernando Siles despertaram a atenção da FIFA. Porém, o organismo reconhece que este não é o recinto desportivo situado a maior altitude no mundo. No Perú, a 4,330 metros acima do nível da água, joga-se futebol.

Cerro de Pasco. A cidade (cerca de 80 mil habitantes) mais próxima do céu. Localizado no topo da cordilheira dos Andes, este espaço remoto não é mais que uma gigantesca mina com pessoas à sua volta. Um perigo ambiental.

A exploração mineira ditou o surgimento de uma cidade que não devia existir. A mina a céu aberto afeta a saúde dos locais mas dás-lhes trabalho. Fonte de subsistência. O futebol é a fonte de diversão.

Jogar no topo dos Andes é um desafio

O Estádio Daniel Alcides Carrión é, segundo a FIFA, o recinto em que se disputam encontros a maior altitude. Para as equipas forasteiras, chegar ao local torna-se penoso. Aguentar noventa minutos de futebol ainda mais.

Durante largos anos, o Unión Minas representou Cerro de Pasco nas competições nacionais do Perú. O fator casa era incontornável. A equipa manteve a invencilidade no seu reduto durante dois anos.

Jogar no topo dos Andes é um desafio para o corpo. Beto Carranza protagonizou um episódio célebre no futebol local, em 2000, quando correu setenta metros para marcar um golo do Universitário de Deportes, não abrandou o ritmo nos festejos e caiu logo depois. «A máscara de oxigénio ressuscitou-me», recorda o ex-jogador (ver vídeo).

O Unión Minas foi desaparecendo do mapa mas o futebol subsiste em Cerro de Pasco. Na temporada passada, o Juventud Ticlacayán chegou à etapa nacional da Copa Peru, obrigando o Defensor de Zarumilla a uma visita ao Estádio Daniel Alcides Carrión, agora modernizado e com um tapete artificial.

«É para os duros»

Lá no alto, o Juventud Ticlacayán mostrou jogar em Pasco «é para os duros», como dizem os habitantes. Venceu por 2-0. Contudo, trazia uma derrota por 4-1 da primeira mão e foi eliminado.

Não há fórmula mágica para suportar a altitude. Algumas equipas preferem passar a noite a meio do caminho, em Huanuco (a 2000 mil metros), chegando a Cerro de Pasco já perto do início da partida. Abrir as fossas nasais e os brônquios é essencial. Tudo para evitar o soroche, o mal estar provocado pela altitude.

Em novembro, com o regresso da etapa nacional da Copa Peru, o Estádio Daniel Alcides Carrión poderá voltar a provocar calafrios aos visitantes.

«Nesta altura, joga-se apenas a etapa distrital de Chaupimarca com as seguintes equipas: Deportivo Valle, Sport Sausa, J Pasco, Deportivo Bolognesi, Alianza Amauta, Deportivo UNDAC, ADEM, Estudiantil Carrion, Deportivo INEI, Hospital Esperanza. O Juventud Ticlacayan só entra na fase seguinte», explica, ao Maisfutebol, um jornalista do site Futbol de Pasco.

Doni Guamani conta algo mais. Chegou recentemente à região para representar o Juventude Ticlacayan. Disputar a Copa Peru em representação de Pasco é uma ambição mas a adaptação comporta tremendas dificuldades. «Começa logo pelo frio, com muitos dias de temperaturas negativas.»

«Depois nota-se alguma falta de ar quando se faz mais esforço. Os primeiros dias são difíceis, sente-se mal estar, algumas tonturas, mas depois as coisas vão melhorando. Vir de Lima (a capital do Perú) para aqui é uma grande diferença, são 300 quilómetros mas com partes no meio da montanha, mas é uma experiência linda», frisa o jogador, ao nosso jornal.