Lado B é uma rubrica que apresenta a história de jogadores de futebol desde a infância até ao profissionalismo, com especial foco em episódios de superação, de desafio de probabilidades. Descubra esses percursos árduos, com regularidade, no Maisfutebol:

Dimitar Berbatov contribuiu com um golo para a vitória do AS Monaco no terreno do Arsenal (1-3). Aos 34 anos, o avançado búlgaro provou que tem argumentos para continuar a jogar ao mais alto nível, marcando o seu primeiro golo da época na Liga dos Campeões.

Leonardo Jardim tira o máximo proveito de Berbatov, num setor ofensivo que ficou privado de Radamel Falcao. O Monaco sobreviveu.

Berbatov explica vitória em Londres: «Somos bons»

Eis uma boa altura para recuperar uma história que marcou a carreira do ponta-de-lança búlgaro. Pelo caminho, explore   o seu gosto pelo desenho e o interesse por caricaturas.

O que seria de Dimitar Berbatov, filho de um jogador de futebol e de uma praticamente de andebol, se tivesse ficado sob o controlo do gangster local que ordenou o seu rapto aos 18 anos?

O jovem seguiu os passos do pai Ivan, iniciando o seu percurso no FC Pirin antes do salto para o CSKA de Sofia. Em 1998, o avançado fez a sua estreia pelo clube da capital e destacou-se de imediato.

Nessa altura, Berbatov era já um jogador à imagem dos seus ídolos: Marco Van Basten, a referência de sempre, e Alan Shearer, o finalizar inglês que o encantou durante o Campeonato da Europa de 96.

Margarita, a mãe, revelaria mais tarde que o jovem chegou a dormir com uma réplica da camisola que Shearer utilizava no Newcastle.

«Dimitar estava sempre a usar essa camisola, que recebeu no seu 18º aniversário, e até chegou a dormir com ela. Ele dizia-me que o seu sonho era jogar em Inglaterra e no Newcastle com o mesmo número de Shearer.»

Berbatov não cumpriu esse desejo de representar o Newcastle mas esteve durante oito épocas no futebol inglês. E foi num palco britânico, aliás, que voltou a marcar na Liga dos Campeões, nesta quarta-feira.

Voltemos ao passado. O avançado era nessa altura uma grande promessa do futebol local e prepara-se para a experiência mais assustadora da sua carreira. Provavelmente, da sua vida.

Em 1999, ainda com 18 anos, Berbatov foi surpreendido no final de um treino do CSKA por três homens que o raptaram a mando de Georgi Iliev.

Iliev, poderoso gangster búlgaro, queria convencer o jogador a assinar pelo seu clube: o FC Levski Kjustendil.



O jovem conseguiu reagir e, pelo caminho, fez um telefonema para o seu pai. A família contactou de imediato o presidente do CSKA de Sofia e este fez valer o seu estatuto. Ilia Pavlov era na altura um dos homens mais poderosos do país e convenceu Georgi Iliev a abortar o seu plano.

Ilia Pavlov e Georgi Iliev, dois antigos lutadores de wrestling, viriam a ser assassinados por ‘snipers’ em 2003 e 2005, respetivamente.

Dimitar Berbatov, por seu turno, continuou a representar o CSKA até se transferir para o Bayer Leverkusen. O avançado passou ainda por Tottenham, Manchester United e Fulham antes de chegar ao AS Monaco.

A história do sequestro aos 18 anos foi relatada ao pormenor no livro ‘Berbatov - His Life and His Struggle’ e confirmada pelo jogador numa entrevista ao jornal britânico The Times.

«É verdade. Foi um episódio horrível mas já aconteceu há vários anos.»

Em 2009, enquanto representava o Man. United, Berbatov foi novamente assombrado pela máfia do seu país. Desta vez, recebeu uma ameaça de rapto da sua mulher e da sua filha, que tiveram de fugir da Bulgária num jato privado.

Esta triste realidade búlgara não privou o avançado do seu desígnio: uma carreira ao mais alto nível no futebol.