Lado B é uma rubrica que apresenta a história de jogadores de futebol desde a infância até ao profissionalismo, com especial foco em episódios de superação, de desafio de probabilidades. Descubra esses percursos árduos, com regularidade, no Maisfutebol:

Aos 29 anos, Leighton Baines prepara-se para ocupar o lado esquerdo da defesa inglesa no Campeonato do Mundo do Brasil. O lateral do Everton sucede a Ashley Cole, que ficou de fora da convocatória. Luke Shaw, jovem de 18 anos (Southampton), será a alternativa.

Este é o cenário ideal para um craque que não acreditava em si mesmo. No Lado B, as histórias costumam girar em torno de episódios de superação. De jogadores que nasceram em contextos desfavoráveis, enfrentaram a pobreza, a guerra, as rejeições constantes e venceram. Desta vez, apresentamos um relato diferente.

O problema de Leighton Baines não parece tão grave como os outros. Nasceu em Kirkby, nos arredores de Liverpool, por lá cresceu sem relatos de grandes dificuldades. Porém, algo terá contribuído para uma timidez excessiva, uma falta de confiança angustiante.

Não há por aqui ponta de exagero. Recentemente, o lateral tentou afastar essa imagem, garantindo que alguns dos episódios relatados não foram tão preocupantes como o próprio confessara anteriormente.

A caminho dos trinta, Baines quer acreditar totalmente em si mesmo. Nem sempre foi assim.

Numa célebre entrevista ao jornal The Guardian, em 2007, o jogador abriu o seu coração e revelou um problema sério. Um entrave psicológico.

«Sempre tive dificuldades em relação à minha autoconfiança. Queria muito assinar pelo Everton mas, depois de tudo estar finalizado, fiquei preocupado com a dificuldade que seria entrar na equipa, e preocupei-me com o que os outros jogadores iam pensar de mim».

Hoje em dia, Leighton Baines é um dos jogadores mais conceituados na Premier League. Gosta apenas de jogar futebol, evitando tudo o que rodeia o fenómeno. Sem luxos, sem tiques de celebridade. 

 

A sua confiança aumentou. Não poderia ser de outra forma. O que pensar de um jogador que, com 18 anos, teve vergonha de revelar aos dirigentes, treinadores e colegas de equipa que tinha sido pai?

«Agora estou melhor, quando estava no Wigan, com 18 anos, era tão mau que nem tive coragem de contar a toda a gente que tinha sido pai. Tinha medo da reação das pessoas. Tinha receio que achassem que eu iria dar mais trabalho, que passaria a andar distraído, a dormir pouco à noite…»

Duas rejeições no Everton a aumentar as dúvidas

Leighton John Baines é adepto do Everton desde tenra idade. Porém, sentiu dificuldades para se impor no clube de Liverpool e foi rejeitado um par de vezes. Por isso mesmo, aumentaram as dúvidas.

«Jogava no meio-campo ou na frente. Estive no Everton até aos doze anos mas foi dispensado na mesma altura que Phil Jagielka e Joey Barton. Aos 15 anos, voltei ao Everton para o teste mas eles deixaram-me sair novamente. Ainda fui ao Liverpool mas também não funcionou. Senti como se fosse o fim do mundo, senti que estava tudo acabado, que não era suficientemente bom.»

O esquerdino não desistiu e procurou um clube mais pequeno. Baines deixou boas indicações durante um treino no Wolverhampton Wanderers mas fez o mesmo no Wigan e optou por este último. Por lá ficou.

Já como lateral, chegou à primeira equipa com naturalidade e convenceu todos. Menos a si mesmo.

«Sempre que jogava pelo Wigan no Championship, pensava que ia ser ‘descoberto’. Achava que mais tarde ou mais cedo todos iam perceber que eu não era suficientemente bom. Sei que é uma parvoíce, mas era assim que eu pensava. Quando subimos à Premier League, em vez de festejar, passei grande parte do verão a pensar que ia estar no banco de suplentes ou nas reservas na época seguinte.»

Leighton Baines era assim. Tímido, introvertido, apreciador da sua zona de conforto. Dentro das quatro linhas, por outro lado, é um lateral imparável, confiante. Tanto que, em 2007, regressou ao seu Everton. Três anos mais tarde, tinha via aberta para a presença no Campeonato do Mundo. Porém, à última hora, ficou de fora.

A imprensa britânica garante que o jogador foi afastado por ter dito que teria saudades de casa enquanto estivesse na África do Sul. Mais uma confusão em torno da sua personalidade. Desta vez, não há dúvidas nem problemas de confiança. Baines pode acreditar: será o titular de Inglaterra no Mundial de 2014.