Dolorosa e evitável, a primeira derrota do Benfica nesta edição da Liga dos Campeões. Não porque os 3-2 trazidos de São Petersburgo sejam uma desvantagem insuperável para o jogo de dia 6, na Luz, muito longe disso.

Mas sim porque, resistindo à temperatura (dez graus negativos à hora do pontapé de saída), às condições difíceis de uma relva queimada pelo frio, e à lesão madrugadora de um jogador influente - Rodrigo, substituído à meia hora - o Benfica esteve durante largos períodos do jogo em vantagem na eliminatória, e com todas as condições de trazer um resultado bem mais animador.

O último quarto de hora acabou por transformar o bom em apenas sofrível. Foi nesse período que o Zenit, transfigurado pela entrada de Bystrov, encontrou um segundo fôlego, que lhe permitiu chegar por duas vezes à vantagem (2-1 e 3-2). E foi também nesse período que Aimar, penalizado com um cartão amarelo demasiado severo, ficou fora do jogo da segunda mão.

Até então, com maior ou menor sofrimento, o Benfica tinha feito o que lhe era exigível. Adaptando o futebol de circulação veloz a um conceito mais utilitário e directo, como tributo a um piso que era tudo menos um relvado digno desse nome, a equipa só demorou cinco minutos a encaixar-se nas circunstâncias.

Matic, bem apoiado por Witsel, disfarçava bem a ausência de Javi. E mesmo a lesão madrugadora de Rodrigo (provocada por uma entrada muito dura de Bruno Alves) foi compensada com o golo, que chegou em inferioridade numérica. Após livre de Cardozo, Maxi respondeu com uma recarga oportuna a uma das muitas bolas largadas para a frente pelo habitual suplente Zhevnov (20 m).

Mas, mesmo com muitas baixas de vulto, este Zenit é uma equipa temível. Provaram-no os dez minutos que se seguiram ao golo de Maxi. Com Rodrigo a arrastar-se em campo, dando tempo a Aimar para acabar de aquecer, os russos pressionaram, ameaçaram, e fizeram o empate, num desvio feliz de Shirokov, a cruzamento de Hubocan.

A entrada de Aimar voltou a estabilizar o Benfica, que nos últimos quinze minutos da primeira parte voltou a equilibrar as operações e a dispor de oportunidades. A segunda parte era assim lançada em bases optimistas, confirmadas pelos primeiros 25 minutos. O Zenit, nessa fase, não se aproximava da baliza de Artur, e o Benfica mandava na bola, embora com dificuldades para criar lances de perigo.

A entrada de Bystrov transfigurou o jogo, e o Benfica sujeitou-se a nova fase de pressão. Mas mesmo depois do calcanhar artístico de Semak, ainda teve força e fortuna para fazer o empate (2-2), em mais uma oferta de Zhevnov, bem aproveitada por Cardozo.

No lance imediato, porém, a falha de Maxi, que permitiu a Shirokov o seu segundo golo da noite, foi o derradeiro incidente de jogo desfavorável aos encarnados, encerrando uma tarde que, sem ser desastrosa, se pareceu muito com uma oportunidade perdida para deixar bem mais aberta a porta dos quartos.