Um ponto em São Petersburgo, contas enredadas e um destino por gravar. O FC Porto sai da Rússia envolvido num ponto de interrogação gigante. O que vale este dragão? Até onde terá capacidade para ir nesta Liga dos Campeões?

Só um mentalista do FBI poderá decifrar o enigma que é a equipa de Paulo Fonseca. Quem a elogia num instante, corre o risco de ser desmentido na jogada seguinte; se alguém a der por morta, ela risca o caixão por dentro e ergue-se na pele de um zombie temível.

Veja-se o sucedido no Estádio Petrovski: a primeira parte do FC Porto é quase irrepreensível, convincente em quase todos os capítulos, arrebatadora quase do primeiro ao derradeiro instante.

Quase, quase, quase.

O FC Porto assumiu a bola, explorou bem o bloco baixo do Zenit e fez um golo excelente: cruzamento de Danilo e cabeceamento letal de Lucho. Minuto 23 e o esplendor do dragão retomava as cores vivas de outrora.

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Duraram pouco os sorrisos, porém. Uma vez mais, de forma absolutamente indesculpável, a defesa errou e o oponente marcou. Helton hesitou na saída, Alex Sandro travou e deixou Hulk arrancar e marcar, Mangala e Otamendi ficaram sem perceber o que ocorria nos seus terrenos de jurisdição.

Um lapso amador, de profunda desconcentração, ridículo. Ridículo como no Restelo e na derrota diante do Atlético Madrid. A alta competição veda a entrada a equipas imaturas, por muito boa vontade e desejo de acesso elas tenham.

Escrevemos isto porque o FC Porto foi sério, de facto. Teve excelente atitude, arreganho e honestidade. Mas a interrogação mantém-se, seja como for: o tricampeão nacional tem, nesta altura, qualidade para tocar os oitavos-de-final?

Não nos atrevemos a dar a resposta.

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As incidências do primeiro tempo obrigavam-nos a considerar o 1-1 injusto, por aquilo que o FC Porto jogara e quisera do jogo. 61 por cento de posse de bola, 13 remates contra quatro do Zenit, mais futebol e mais oportunidades de golo.

Tudo mudou na etapa complementar, se nos permitem o lugar comum. Depois de lidos com rigor os 90 minutos, ficámos até com a impressão que o Zenit deu e retirou o que pretendeu à partida. Assumiu a postura expetante até sofrer um golo, teve a benção de empatar de imediato, aguentou até ao intervalo e foi superior no segundo tempo.

Os russos podem lamentar, inclusivamente, um penalty desperdiçado por Hulk. Mão de Otamendi na área e o Incrível a sentir-se incapaz de provocar a desfeita ao antigo clube. Bola rasteira e Helton a voar para a direita, redimindo-se das culpas no golo do Zenit.

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Helton, de resto, passou a ser o melhor do FC Porto até ao suspiro final e aos 74 minutos fez a defesa do jogo, parando a finalização de Arshavin no mano a mano com o ex-Arsenal.

Lucho desapareceu, em óbvia quebra física, Fernando e Defour diminuíram o ritmo, Varela foi do ótimo ao péssimo e Josué acabou esgotado e substituído. Com tudo isto, mais o semi-desaparecimento de Jackson, sobrou o arrojo e o bom jogo dos laterais, Danilo e Alex Sandro.

Tudo somado fica a clara ideia deste empate ser insuficiente e, pior, agudiza-se a crise de identidade. Voltamos ao início: o que professa este FC Porto?