O Estoril continua a dar passos seguros e bonitos na construção de uma «short story» europeia, com mais uma vitória que deixa o clube bem encaminhado para chegar à fase de grupos da Liga Europa. Um lance de Vagner com Petrovic quase estragava a noite, mas um árbitro que ia marcar um penalty mal, voltou atrás e deu um canto, também mal. Um pormenor que podia ser determinante numa eliminatória que está com cores amarelas e azuis.

A eficácia da primeira parte antecipou-se a problemas que podiam surgir de um Pasching que joga no terceiro escalão da Áustria, mas que correu 45 minutos atrás dos canarinhos como estivesse na Liga Inglesa. Evandro mais uma vez e a arte de Carlitos ditaram o desfecho do jogo ainda no primeiro tempo. Com vantagem ao intervalo, o Estoril provou ainda que continua a ser uma formação que sabe gerir jogos, mas que não se limita a ficar contente com o que tem.

Evandro é sempre o primeiro

As primeiras impressões do jogo foram para Kablar. Que tamanho, que gigante, a destoar de toda a gente em campo. A luta do Estoril no ataque, sobretudo de Luís Leal, podia ser injusta. Mas o futebol, como as pessoas, não se mede em centímetros de altura. Por isso, em dez minutos o Estoril argumentou tecnicamente frente aos austríacos. Foi esse o tempo que precisou para marcar. Demorou pouco, ao contrário do que acontecera, por exemplo, frente ao Hapoel Ramat-Gan, perante o qual apenas faturou em Israel e que, já agora, até é menos organizado que este Pasching.

O Estoril tinha feito 0 mais difícil perante um adversário misterioso (um desconhecido completo das lides europeias, apesar de este ser também apenas o terceiro encontro dos canarinhos na UEFA), mas teoricamente inferior. O Pasching mostrou, porém, ser um grupo com muito boa vontade. Onde havia uma camisola amarela, havia uma sombra verde. Daí que a fluidez do miolo estorilista não fosse a desejável no resto do primeiro tempo. Ainda assim, Vagner tinha cativo para o resto do tempo e viu Carlitos fazer um pontapé acrobático que saiu ao lado.

O futebol nalgumas vezes, na maioria até, é previsível. E a previsibilidade deste encontro dizia que, apesar de o Estoril não estar com a dinâmica que devia, tinha qualidade individual para abrir a defesa austríaca de um momento para o outro. Ora, entra o remate de Carlitos e 2-0 passou muito tempo. 21 minutos para se ser preciso. Mas a técnica demonstrada pelos canarinhos no segundo golo revelou que quem tem mais argumentos técnicos estará sempre mais próximode ser melhor equipa, logo, de ganhar.

A jogada é tão boa que vale a pena recordá-la.

Susto e equívocos

Na segunda parte, o Estoril foi quase tudo aquilo que não foi no primeiro tempo. Foi mais rápido, mais intenso, trocou a bola muito melhor e criou imensas ocasiões de golo para lá das três dos 45 iniciais. Só que, como não era o que tinha sido, falhou na eficácia. Evandro, Filipe Gonçalves, o suplente Diogo Amado, João Pedro Galvão. Nomes que podiam ter aumentado a diferença para números que deixavam o Estoril com 90 por cento de certeza de que vai estar na fase de grupos.

Ora, «apenas» com 2-0, a percentagem diminui, mas perante as diferenças entre as duas formações as probabilidades canarinhas são, ainda assim, muito boas. Para além disso, houve aquele equívoco do árbitro. Petrovic foi derrubado por Vagner, ainda fora da área, mas o juiz turco assinalou penalty. Isso poderia complicar tudo, mas o Bülent Yildirim voltou atrás e apontou para canto, quando devia ter assinalado livre e ter mostrado apenas e só cartão amarelo ao guarda-redes dos portugueses. A jogada consequente não deu em nada, o Estoril saiu com o 2-0, mas ali ficou ainda um aviso: apesar da história ser bonita, apesar do controlo e domínio do jogo, apesar das ocasiões todas, também convém marcá-las. Se assim fosse, a ida à Áustria poderia servir para ver paisagens. Ou quase isso.