Atenção aos primeiros minutos no estádio Wojska Polskiego e ao ânimo que o apoio dos adeptos dará ao Legia Varsovia. Conselhos, estes e outros, a partir da Polónia, onde o Sporting joga nesta quarta-feira o futuro na Europa.

O Sporting visita o Legia na última jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões a precisar apenas de um empate para se qualificar para a Liga Europa, mas se perder fica fora. E uma vitória fará toda a diferença, não apenas em termos financeiros (vale 1,5 milhões de euros), mas também a pensar no estatuto de cabeça de série nos 16 avos de final.

Está muito em jogo para o Legia também. Como salienta quem conhece bem o adversário dos leões e o futebol polaco. Os irmãos Paixão, Flávio e Marco, que chegaram ao país em 2013 e jogam ambos no Lechia Gdansk. «É um jogo muito importante para o Legia. Vai entrar com tudo nos primeiros 20 minutos. Os adeptos vão puxar muito pela equipa», diz Flávio ao Maisfutebol.

«Os adeptos vão estar dentro do campo, a atmosfera é forte e a equipa cresce com isso. Eles vão dar a vida», garante por sua vez Marco Paixão: «As equipas polacas em jogos desta dimensão dão tudo.»

Flávio reforça: «Sempre que alguma equipa vai a Varsóvia não param de cantar durante os 90 minutos, sempre a apoiar, são muito emotivos. Têm grande influência na equipa», continua, dando o exemplo da última visita da sua equipa ao Wojska Polskiego: «Nós este ano fomos jogar a Varsóvia depois do jogo deles com o Sporting. Os adeptos puxaram ao máximo e durante os primeiros 20 minutos o Legia jogou a 200 por cento.» O Legia venceu esse jogo por 3-0.

A fama dos adeptos do Legia, ou dos adeptos radicais do clube polaco, está também associada a uma série de episódios de violência e consequentes castigos da UEFA. Foi assim em Portugal há quatro anos, na única ocasião anterior em que o clube defrontou os leões, para os 16 avos de final da Liga Europa, quando se envolveram em desacatos que levaram a várias detenções. Foi tudo mais tranquilo em setembro deste ano, depois de montado um forte dispositivo de segurança em torno dos fãs do Legia que viajaram para Lisboa. Mas, se em Alvalade não houve problemas, em apenas cinco jogos na fase de grupo o Legia já foi castigado duas vezes pela UEFA por causa do comportamento dos seus adeptos.

Os protestos e incidentes que se registaram durante e após a derrota caseira com o Dortmund na primeira jornada levaram a que o Legia tivesse de jogar com o Real Madrid à porta fechada. Precisamente o jogo em que empatou com os campeões europeus em título. Antes disso o Legia já tinha jogado em casa do Real Madrid e alguns dos seus adeptos provocado distúrbios na capital espanhola. Em consequência, o clube foi impedido de vender bilhetes para a viagem a Dortmund na quinta jornada. «Nós estamos dentro de campo, estamos à parte disso. Em campo nunca tivemos problemas e creio que não haverá problemas no jogo com o Sporting», diz Marco, que, como jogador, evita elaborar muito sobre este assunto: «Com o que se passa fora de campo não temos nada a ver, é com a polícia. Mas os adeptos polacos vivem muito o futebol. Infelizmente acontecem coisas que não deviam, mas não é assunto nosso.»

A pressão garantida para o Sporting será em campo, num jogo que se antevê intenso mas no qual, quem conhece ambas as equipas não tem dúvidas, a diferença de qualidade é clara. «O Sporting vai encontrar essa pressão, mas acho que o Sporting tem jogadores para lidar com isso», diz Flávio: «Acredito que o Sporting é muito melhor que o Legia.»

«O Sporting é claramente superior, acho que não vai ter problemas em ganhar», reforça Marco. «Mas», continua, «Liga dos Campeões é Liga dos Campeões». «Não é um adversário ao nível do Sporting, mas é uma equipa motivada, que pode crescer de um momento para o outro.»

Portanto, um dos primeiros conselhos que os irmãos Paixão deixam ao Sporting é sobre a abordagem ao jogo. «O importante é que o Sporting entre para ganhar e não para empatar», alerta Flávio: «Se o Legia faz um golo vai ser perigoso.»

«Se o Sporting imprimir intensidade forte ao jogo, o Legia não vai ter hipótese. Se vier com a mentalidade de jogar à Sporting e com a intensidade que é capaz de pôr nestes jogos, sabendo que é preciso entrar forte, o Sporting ganha», diz Marco, que deixa outra ideia sobre aquilo que os leões podem explorar: «O Sporting pode aproveitar a fragilidade defensiva deles. Sofreram oito golos no último jogo», lembra Marco.

O Legia sofreu até agora 24 golos na Liga dos Campeões, no último jogo perdeu em Dortmund por 8-4, jogo com recorde de golos em que, de caminho, igualou o pior registo defensivo da fase de grupos da Champions, que pertencia ao BATE Borisov. Mas, não tendo ainda vencido qualquer jogo, também marca com aparente facilidade. Ficou em branco em apenas dois jogos, o 0-6 com o Dortmund a abrir e a visita a Alvalade na segunda jornada, onde o Sporting venceu por 2-0.

O único ponto que conseguiu foi no surpreendente empate com o Real Madrid, 3-3. Marcou mais os quatro golos ao Dortmund e ainda um na outra goleada que sofreu, 5-1 em Madrid. Leva oito golos marcados nesta fase de grupos, contra cinco do Sporting.

Flávio Paixão insiste na ideia de que o início do jogo é importante: «Se o Sporting conseguir marcar primeiro vai ser mais tranquilo.»

Também por outro factor, nota Marco: o frio. A temperatura em Varsóvia está agreste, à hora do jogo é de esperar que seja negativa, e isso pode fazer diferença nos primeiros minutos de jogo. «É importante um bom aquecimento. Neste momento está muito frio e nos primeiros 15 minutos pode afetar os jogadores. Depois aquecem e já não é relevante.»

O percurso do Legia no campeonato polaco tem sido sólido, desde a chegada do treinador Jacek Magiera, que aliás se estreou em Alvalade. Está nesta altura em quarto lugar, a sete pontos da liderança, partilhada precisamente pelo Lechia Gdansk e pelo Jagiellonia Bialystok. Tem o melhor ataque do campeonato. «Começou muito mal a época, esteve quase no último posto no campeonato, mas conseguiu ir à Liga dos Campeões, que era o grande objetivo. Depois mudou de treinador e começou a melhorar, agora já está lá em cima», observa Flávio.

Mas não mudou muito desde Alvalade em termos de onze, acrescenta. «Basicamente, vai ser 99 por cento a mesma equipa que jogou em Alvalade», acredita, alertando para os jogadores que considera serem os mais perigosos do Legia: «O Radovic, o Odjidja-Ofoie e o Guilherme podem mexer com o jogo do Legia, podem fazer a diferença quando têm a bola nos pés. Mas creio que o Jorge Jesus tem bem noção do Legia e preparou o jogo para todos os aspectos.»

Os irmãos Paixão vão «torcer pelo Sporting», mas ao longe. De Gdansk a Varsóvia são quase 300 quilómetros e os compromissos com o seu clube inviabilizaram a viagem. «Não podemos ir porque temos treino de tarde. São três horas de viagem de carro. Tentámos mas infelizmente não vamos conseguir.»

Flávio e Marco preparam agora as últimas jornadas antes da paragem de inverno: há agora duas rondas, depois o campeonato polaco só volta em fevereiro. E os gémeos Paixão esperam que, para eles, só termine com o título na mão. «Somos os melhores marcadores da equipa, com seis golos cada um, estamos a fazer uma época muito boa. O objetivo é sermos campeões, queremos voltar também no primeiro lugar depois da paragem de inverno.»