Mudam-se os tempos, mudam os actores principais. Até os clubes mudam. Vale a pena dizer isto na abordagem ao Leixões-Benfica, um dos jogos com mais história no futebol português. Os números confirmam-no: o emblema da Luz visita este sábado pela 25ª vez o Estádio do Mar em jogos a contar para o campeonato nacional. E, verdade seja dita, não se tem dado mal.
O Benfica perdeu apenas duas vezes em Matosinhos para a liga portuguesa. A primeira derrota surgiu na época 1969/70, quando o Leixões venceu por 2-0 uma equipa que tinha monstros sagrados da estirpe de Eusébio, Simões, Jaime Graça e Nené.
Todos os números do Leixões
Seis anos depois, a segunda e última vitória dos bebés do Mar na recepção ao Benfica: 1-0 na temporada 1975/76. O Leixões já não derrota, por isso, a formação lisboeta em jogos do campeonato há 34 anos, apesar de, ainda na última campanha, terem afastado as águias da Taça de Portugal, após um efervescente desempate através de grandes penalidades.
Tibi: «O Aimar e o Saviola tinham lugar no Benfica de 60»
No final da década de 60 um jovem guarda-redes começou a cativar a atenção generalizada do público português. Tibi, então com 19 anos, foi chamado ao plantel principal do Leixões precisamente na época 1969/70. O Leixões salvou-se por pouco da descida (11º lugar) mas em casa venceu nove dos 13 encontros disputados. Num deles o Benfica caiu sem honra nem glória.
Todos os números do Benfica
Uma luxação no ombro atirou Tibi para o banco, mas nem assim a memória desse jogo histórico é menos nítida. «Foi o meu colega Ferreira que defendeu. Vencemos com mérito, embora eles tivessem uma equipa de sonho. Marcar o Eusébio não é o mesmo que marcar o Cardozo. Quem me dera ter apanhado o Cardozo como ponta-de-lança do Benfica na minha altura. De certeza que não apanhava 8-0 e 6-0 na Luz como apanhei», recorda com saudade ao Maisfutebol o antigo guarda-redes.
Tibi elogia os craques do passado, como Eusébio e Simões, mas deixa palavras de apreço para dois dos homens às ordens de Jorge Jesus. «O Aimar e o Saviola tinham lugar no Benfica de 60 e 70. São craques.»
Num piscar de olho ao passado, Tibi reconhece que o Leixões era «há 30 anos» um clube «mais relevante no panorama nacional». «Todos os anos vendíamos jogadores aos maiores clubes. Albertino, Chico Fonseca, Praia, Fonseca, eu próprio... Tínhamos umas escolas de formação formidáveis.»
Até o ambiente no estádio é agora diferente. Mas, no entender de Tibi, neste caso o Leixões melhorou. «Dantes havia muitos benfiquistas em Matosinhos. Agora a cidade tem, acima de tudo, leixonenses e portistas. Por isso acredito que o Benfica vai ter dificuldades. E ainda mais se o Leixões tiver 11 guerreiros em campo, como teve contra o Porto.»
Toni: «O Leixões fazia a vida negra aos grandes»
Em 1975/76 Toni 30 anos e mandava no meio-campo do Benfica. Ao lado de Shéu e Vitor Martins foi incapaz de contrariar um Leixões hiper-inspirado no Estádio do Mar. O treinador lembra-se bem dessa derrota por 1-0, como diz ao Maisfutebol. «Nesse período o Leixões era um clube famoso. Fazia a vida negra aos clubes grandes no Estádio do Mar. O ambiente era complicado. Aquelas bancadas eras fervorosas.»
Toni considera, inclusivamente, que os viveiros mais produtivos dessa altura eram os de Matosinhos e do Barreiro. «Eles davam tudo, motivavam-se por defrontar o Benfica e depois tinham grandes executantes. O Osvaldo Silva, que depois foi para o Sporting, era um deles.»
O Leixões desta época é uma equipa que vive em sobressalto, mas Toni não estranha. «O ano passado fez uma época brilhante, mas viu-se amputado de vários atletas. O Wesley, o Bruno China, o Roberto Sousa. Não é fácil resistir. Mas está a lutar pela sobrevivência e é uma equipa perigosa.»