A Europa tão longe deles. Choque frontal entre velhos e exasperados rivais: empate de teor bélico no Estádio do Mar. Leixões e Vitória de Guimarães, na reedição de confrontos antigos, anularam-se em tudo: na ambição, na exibição, nos nervos excessivos, até na paixão. Jogo de sentimentos vibrantes em Matosinhos, sem lucidez nem consciência para mais. E também sem inteligência.
Assim, os triunfos ficam mais longe. Por isso a divisão de pontos não surpreende. A entrega dos contendores foi irrepreensível, o esforço dinamitou as rotações, mas a serenidade andou sempre bastante longe.
Num contexto deste género, sobreviveu o erro. O erro foi, aliás, protagonista maior. O árbitro errou vezes a mais, Nilson errou e pagou bem caro, a defesa do Leixões também foi penalizada por ter errado a defender uma bola parada.
O 2-2 final sugere uma noite generosa para os amantes do desporto. Sugere, sim, mas erradamente. O que se viu, essencialmente, foi uma questiúncula ancestral a ser dirimida dentro das quatro linhas. Sem grande espaço para a arte e a criatividade. E a Europa tão longe deles.
O erro, sempre o erro
O erro. Os erros. Parte integral e decisiva nesta partida. O primeiro golo do Vitória, por exemplo, nasce de um erro. Neste caso da equipa de arbitragem, iludida pelo mergulho artístico de Milhazes. Nuno Assis aproveitou-o da melhor forma.
Mas a igualdade leixonense tem origem num erro ainda maior. Desta vez do guarda-redes Nilson. Sem pressão, decidiu reter a bola quando a deveria ter despachado para a frente. Tanta retenção fez que permitiu a aproximação do renascido Braga. Depois, há margem para discussão: teria o guarda-redes a bola completamente agarrada quando o avançado toca para golo? Parece que sim. Nesse caso, o erro seria distribuído equitativamente por Nílson e pelo árbitro.
Almas errantes não faltaram no Mar. Sem medo do castigo, da pena a aplicar em nome dos pecados, as defesas fartaram-se de errar. Descontando o segundo golo do renascido Braga (já lá vamos, está prometido), todos os outros têm a sua génese no erro. Sim, o 2-2 também pede meças à defesa do Leixões: livre na direita do ataque mal afastado, Beto choca com um adversário e golo.
Braga, nome profano em Guimarães
Braga. Já havíamos falado nele? Pois, o homem renasceu. Talvez imbuído da relevância do seu nome perante um adversário de nome Guimarães, o rapaz soltou-se. Braga é persona non grata em Guimarães. Seis meses e 20 jogos depois, fez dois golos e foi o melhor em campo.
Braga, palavra proibida para os lados da Cidade-Berço.
Em bom rigor, terá sido ele o único a escapar à pandemia do erro.
Tudo junto, o empate é a conclusão óbvia e justa. E a Europa tão longe deles.