Pinto da Costa já o tinha elegido como um dos grandes do futuro, António Salvador não perdeu tempo e ofereceu-lhe o que não tinha oferecido a nenhum treinador. Nem a Jesus, nem Domingos, nem sequer a Jesualdo: um contrato de três anos com a maior cláusula de rescisão de um técnico do Sp. Braga.

Leonardo Jardim respondeu com o que também não tinha feito em nenhum clube e mudou o centro gravitacional: pela primeira vez deixou de viver sozinho no continente, trouxe a mulher (psicóloga) e o filho de quatro anos, que inscreveu num colégio privado de Braga. A Madeira ficava em definitivo para trás.

Dentro de campo manteve a filosofia de sempre. Sem ser um génio, é competente. «Não é um especialista táctico, como agora se fala muito, ou técnico, ou físico, ou psicológico», conta o professor Hélder Lopes. «Entende o futebol como um fenómeno complexo e tenta jogar com todas as variáveis.»

Perfil: um homem nascido para treinar

«É sobretudo um homem que procura dominar todas as vertentes do jogo, que se rodeia de especialistas em cada área e que funciona como o coordenador.» Carlos Pinto e Fangueiro concordam: não é um treinador egocêntrico. «Só sabe trabalhar em grupo. É o líder, mas faz tudo em conjunto.»

Para Braga levou uma equipa: António Vieira é o número dois, Nélson Caldeira é metodólogo, e com ele estuda e define os treinos, Miguel Moita é preparador-físico e observador: o Braga tem uma equipa de scouts que estuda os adversários, mas Jardim não abdica da observação do homem de confiança.

O treino de guarda-redes está entregue a Carlos Pires, que tem uma história curiosa: avançado dos distritais de Vila-Real, teve uma lesão que tentou debelar em Chaves, não conseguiu e terminou a carreira cedo. O clube convidou-o a dar uma ajuda no futebol jovem e começou a treinar os guarda-redes jovens.

O dia em que fechou o estádio a cadeado

As qualidades profissionais do antigo avançado empolgaram Leonardo Jardim. Levou-o para a equipa técnica e incentivou-o a tirar formação específica. Pires desenvolveu-se na função e Leonardo nunca mais abdicou dele. No fundo é assim, dizem: ligado às pessoas e sobretudo um homem terra-a-terra.

Só teve, por exemplo, dois carros na vida: um Punto e um Leon que só encostou porque o Sp. Braga lhe deu um automóvel. «Eu até brinco que se um dia quiser fazer uma poupança, entrego-lhe o dinheiro. Com ele sei que está seguro, não há gastos supérfluos ou desnecessários», sorri Duarte Freitas.

A história do adeus difícil à Madeira

É essa austeridade que impõe no trabalho. José Moniz foi o padrinho de carreira e diz que lhe passou «os valores de seriedade, rigor e organização». «Comigo só trabalham pessoas competentes, não permito fretes. Ele tornou-se um rapaz cheio de qualidades. Foi um adjunto espectacular.»

O resto é confiança e organização. Em Braga, por exemplo, adora a mediatização, sente-se bem no desafio, mas não perde tempo a preparar as conferências de imprensa: julga-se capaz à partida. Mas também não deixa nada ao acaso: sempre que chega, gosta de provocar uma revolução nos plantéis.

Na equipa titular do Sp. Braga, aliás, só há quatro jogadores que repetem a presença no onze mais utilizado da época anterior. Antes disso, já tinha feito o mesmo no Chaves e no Beira Mar. «Quer jogadores novos, que venham de um plano inferior e que estejam cheios de vontade de se mostrar.»

Como ele. Homem simples, que prefere passar por uma churrascaria e levar um frango para jantar com a família em vez de grandes banquetes, mas que não aceita a mediocridade. «Há uma frase que lhe disse muitas vezes: Deus gosta de todos», diz José Moniz. « Mas gosta mais do que ganham