Está confirmado. Esta é a pior temporada do futebol brasileiro na história recente da Taça Libertadores da América. Após ter garantido os últimos quatro troféus da prova de maior prestígio na América do Sul, o Brasil eclipsou-se e desapareceu das meias-finais, como já não sucedia há longos anos.

Mais concretamente, há 23. Desde 1991 que pelo menos uma equipa brasileira marcou presença nas meias-finais da Libertadores. A eliminação do Cruzeiro frente ao San Lorenzo retirou ao futebol canarinho a possibilidade de fazer algo inédito na competição, ganha pela primeira vez por uma equipa brasileira em 1962, quando o Santos de Pelé derrotou o Peñarol orientado por…Bela Guttman.



Naquele ano de 1991, o Flamengo era o resistente brasileiro, quando lhe saiu o Boca Juniors nos quartos de final. Depois de vitória no Rio de Janeiro, os cariocas ainda tentaram uma operação de charme. Chegaram à Bombonera com um cartaz dedicado a D10S: «Maradona, o Flamengo te ama, hoje e sempre.» 

A estratégia funcionou ao contrário, com o estádio inteiro a gritar «Diego, Diego». Um rapaz chamado Gabriel Batistuta já tinha marcado no Brasil e começou a resolver de penálti, com Diego Gambetita La Torre a bisar a seguir. 

O clube de Buenos Aires chegaria à ronda seguinte. O Fla caiu e o Brasil ficou sem representantes. O que só confirmava as más campanhas anteriores: em 1983 o Grémio foi campeão, em 1984 finalista e, depois disso, um espaço em branco de equipas brasileiras na final. 

Mas o futebol canarinho reagiu. E reagiu tão bem que nas 22 edições seguintes a 1991 só por três vezes não teve um representante na final: 1996, 2001 e 2004. Ou seja, nos últimos dez anos houve sempre Português no jogo decisivo. E logo a seguir a 1991, o São Paulo venceu duas vezes consecutivas, algo que só uma equipa brasileira tinha conseguido: o Santos de Pelé. 

Em 2011, o Santos, de Neymar, conquistou o terceiro título. O Peixe é, a par do São Paulo, o clube brasileiro com maior currículo na Libertadores. O Independiente, da Argentina, é recordista com sete  troféus


Nas últimas 22 edições houve uma clara tendência brasileira. Para além de todas as presenças em meias-finais e finais, o Brasil recuperou terreno: venceu 12 títulos contra sete da Argentina. Os outros três foram repartidos por Paraguai (Olimpia), Colômbia (Once Caldas) e Equador (LDU Quito).

Ora, em 2014 o futebol canarinho procurava algo inédito: vencer cinco Libertadores seguidas. As últimas quatro ficaram para Internacional, Santos, Corinthians e Atlético Mineiro. Ou seja, um tetracampeonato igual aos dois que a Argentina tem: o Independiente venceu entre 1972 e 1975, Racing e Estudiantes de La Plata (três vezes) entre 1967 e 1970.

O campeonato brasileiro é também o único da América Latina que tem vencedores do recente Mundial de Clubes. São Paulo, Internacional e Corinthians ganharam esse troféu, mas, este ano isso poderá deixar de ser uma exclusividade do Brasil.

Campeões inéditos, Bela Guttman e Rei Pelé

San Lorenzo e Nacional (Paraguai) já estão apuradas para as meias finais. Falta conhecer outros dois semifinalistas, que vão sair dos jogos Bolívar-Lanús e Defensor Sporting-Atlético Nacional. Esta última formação colombiana é, das que restam, a única que venceu a Libertadores. Fê-lo em 1989.

Assim, se forem os uruguaios a passar, haverá um campeão inédito. Se o Lanús se qualificar na Bolívia, haverá um finalista argentino, pois o vencedor do jogo de La Paz defronta o San Lorenzo, em julho.

Como acontece sempre em ano de Campeonato do Mundo, o campeão da Libertadores só será conhecido depois do Mundial.

Foi, aliás, essa particularidade que permitiu a Bela Guttman ser, ainda hoje, o único treinador a disputar uma final da Liga/Taça dos Campeões Europeu e uma da Libertadores.

Depois de ser bicampeão europeu com o Benfica em 1962, o húngaro partiu para o Uruguai e orientou os três jogos do bicampeão Peñarol na final com o Santos. Perdeu em Montevideu (1-2), venceu em São Paulo (3-2).

Na finalíssima, no Monumental de Buenos Aires, Rei Pelé (dois golos no 3-0) acabou com as esperanças do húngaro (pelos vistos também perdia finais) em vencer a Libertadores no mesmo ano em que tinha sido bicampeão europeu com o Benfica e o Santos iniciava a história brasileira na prova, agora interrompida em 2014.

A finalíssima entre Santos e Peñarol