A Liga 2012/2013 arranca depois de um verão de mercado anormalmente calmo, claramente condicionado pelos tempos de crise. Nem sequer vai ter futebol na televisão em canal aberto, para já. Mas qualquer análise mais profunda será bem mais sustentada se for feita daqui por 15 dias, quando fechar o mercado.
O primeiro sinal que dá o campeonato português é de contenção. Não houve grandes mexidas, os três tradicionais «grandes» mantiveram os treinadores e das equipas da frente só o Sp. Braga mudou no banco ¿ saiu Leonardo Jardim para entrar José Peseiro. O FC Porto contratou o avançado colombiano Jackson Martinez, o Benfica foi buscar Salvio e o holandês Ola John. O Sp. Braga fez alguns ajustes, tem agora Ruben Micael e Eder, não tem Miguel Lopes e Ewerthon, o Sporting tem muitas caras novas, contratadas essencialmente numa política de custo zero: Boulahrouz, Pranjic, Rojo, Labyad, Viola e Gelson Fernandes. De resto, todos alargaram os jogadores nos seus quadros, a pensar nas regressadas equipas B.
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Posto isto, restam duas semanas e a ideia de que ainda muita coisa pode mudar nos plantéis dos grandes. NO FC Porto Alvaro Pereira já nem treina, Hulk e Moutinho são os nomes mais ativos nas bolsas de mercado internacionais. Do lado do Benfica também pode haver ainda mudanças, com notícias recorrentes sobres saídas, nomeadamente de Witsel. Por isso, a partir de 31 de agosto, aí sim, podemos ter uma noção mais concreta do equilíbrio de forças.
Numa Europa há muito em crise, as dificuldades agudizam-se agora também no futebol. Há clubes históricos em colapso: o caso mais emblemático é o do Glasgow Rangers, que entrou em falência e começa esta época na III Divisão escocesa. Na Turquia, o Besiktas foi excluido pela UEFA das competições europeias por não cumprir os requisitos financeiros.
Por cá, a esse nível o verão deu alguns sinais de agitação, com vários clubes a mostrarem dificuldade em cumprir os requisitos financeiros da Liga, nomeadamente o V. Guimarães e o V. Setúbal. Acabaram por ver levantados os impedimentos, depois de apresentarem certidões da Segurança Social e repartições de finanças a dar conta de regularização de dívidas. Mas há muitos sinais de que a crise é generalizada e transversal ao futebol português.
O problema tem como ameaça de fundo a regra do fair play financeiro da UEFA, que condicionada o licenciamento dos clubes a um equilíbrio entre receitas e despesas. Esse processo será progressivo. Para o licenciamento dos clubes a partir de 2013/2014 vão ser ponderados os exercícios dos três anos anteriores, e a margem de prejuízos que os clubes podem ter vai decrescendo até chegar a um break even. Mas o controlo aperta a partir de agora, feito pela Instância de Controlo Financeiro da UEFA, que será liderada a partir de outubro pelo português Cunha Rodrigues, antigo Procurador-Geral da República.
Outro sinal dos tempos diz respeito ao futebol na televisão. Pela primeira vez em muitos anos, não está previsto que um dos jogos da jornada dê em canal aberto. Nenhuma das televisões generalistas apresentou propostas à SportTV, detentora dos direitos e, apesar de estar definido pelo Governo como de interesse público esse jogo em canal aberto, o processo não chegou sequer a desenrolar-se.
Nos gabinetes, a agitação do verão foi alimentada também pela aprovação em Assembleia Geral da Liga do fim dos empréstimos entre clubes dos principais campeonatos. um recurso que tem ajudado os grandes a escoar excedentes e os pequenos a compor plantéis sem dinheiro. A alteração acabou por ser recusada pelo Conselho de Justiça. E a bola começa a rolar, mais ou menos como de costume.