Moeda de troca no negócio de Miguel Veloso, Zapater chegou a Alvalade como um desconhecido, mas com o exigente calcio no currículo. O médio espanhol entrava numa equipa ainda a encontrar-se, a procurar referências, e teoricamente atrás de uma dupla internacional experiente e de quem se esperava muito: Pedro Mendes e Maniche. Isso somado às boas prestações de André Santos e alguns erros quando chamado retiraram-lhe espaço. Mas, paradoxalmente, deram-lhe tempo.

Zapater não é o mais elegante dos médios, não tem qualquer característica que os outros não tenham. Tem a mesma força, talvez a mesma vontade, e de há quatro dias para cá passou a acreditar mais do que os outros. Só isso explica quatro golos em outros tantos dias, aos dois de cada vez. Apareceu no cruzamento de Vukcevic onde devia estar um avançado, e fez o 2-0 por se assumir como criativo. Ver o espanhol a fintar, naquele momento, é algo contra-natura para «El Toro», que em situações normais carregaria sobre a baliza.

Ao não ser opção, ao sair de debaixo das luzes, Zapater ganhou tempo e respirou fundo para quando voltassem a pensar nele. Arregaçou as mangas e preparou-se para ser o herói improvável de dois jogos fundamentais para os leões, à queima na luta pelo segundo lugar e pressionados pelo quarto classificado. Os dois golos que marcou ao Marítimo fazem dele a inevitável figura da jornada.