1- Perdeu-se um grande clássico, ganhou-se um último terço de Liga para ser discutido a três. Ao empatar no Dragão, o Sporting conseguiu o equivalente a salvar um matchpoint com o adversário a servir. Continua a ser o candidato com a posição mais desconfortável, até porque em caso de igualdade tem desvantagem no confronto directo com os rivais. Mas atendendo ao ponto de partida, às 20.30 de sábado, o facto de continuar a respirar duas horas mais tarde já é positivo.
2- Para o F.C. Porto, o cenário é inverso. Não perdeu a posição privilegiada, e fecha o ciclo dos clássicos com o melhor saldo dos três. Mas desperdiçou duas oportunidades sucessivas para deixar KO um dos rivais e só venceu um dos últimos cinco jogos em casa. Mantendo a cadeira de favorito número um, a equipa de Jesualdo Ferreira deixou suficientes pontos de interrogação nestes dois terços de prova para alimentar as ambições dos grandes de Lisboa. No rescaldo de um clássico inconclusivo, a visita ao estádio do Mar, no sábado, pode definir melhor a ténue linha entre segurança e decepção.
3- O Benfica foi o grande beneficiado da jornada. Não resolveu as dúvidas, continuou a não conseguir gerir avanços confortáveis, mas o sofrimento nos minutos finais teve, desta vez, atenuantes fortes. A vitória pré-clássico era um indispensável sinal de vida, e acaba por ser bem ilustrada pelo regresso aos golos de Nuno Gomes, também ele a ganhar protagonismo numa altura importante da carreira ¿ dele próprio e da equipa.
4- A derrota na Luz vira uma página no estatuto do Leixões, que deixou de ser o quarto mosqueteiro na corrida ao título. José Mota não é homem para ficar satisfeito com derrotas honrosas, e isso só valoriza o seu trabalho. Mas teria marcado pontos se traduzisse de outra forma a irritação pelo antijogo encarnado, nos minutos finais. A forma como a exprimiu só vai reforçar o escrutínio ao comportamento dos seus jogadores, quando estiverem na situação oposta. E não deve haver técnico sem telhados de vidro neste particular.
5- Fim-de-semana gordo para a Madeira. Depois do duplo desaire, há uma semana, Nacional e Marítimo reforçam a candidatura à Europa com vitórias expressivas. A equipa de Manuel Machado voltou ao quarto lugar, por obra e graça dos suspeitos do costume, com o que poderá muito bem ter sido o último golo de Nenê, que deixa vago o trono dos goleadores. Já Carlos Carvalhal entrou em cena com estrondo: os 5-1 ao V. Setúbal, melhor resultado da época, mantêm a equipa a três pontos do objectivo assumido, reforçando-lhe o moral numa altura chave da temporada. Parece claro, aliás, que a chave do título está na Madeira, com Benfica (26ª e 27ª jornada), F.C. Porto (27ª e 28ª) e Sporting (29ª e 30ª) submetidos ao duplo teste insular com a meta à vista.
6- Depois há o Sp. Braga, que confirmou também por cá o estatuto europeu, ao levar a melhor no «derby» frente ao V. Guimarães. A equipa de Jorge Jesus não descola do grupo de candidatos aos lugares europeus. Quanto ao Vitória, sofreu mais um rombo na confiança e nas expectativas da época.
7- Se os candidatos ao título ainda são três, a luta pela permanência está reduzida a cinco, já que a vitória da Naval no Restelo, numa semana difícil para Ulisses Morais, lhe permitiu descolar de vez da zona mais ingrata da tabela. O Trofense marcou passo em casa, sim, mas ainda assim esteve bem melhor do que o trio da cauda: entre ser derrotado por um adversário directo (Rio Ave), perder o terceiro jogo seguido em casa (Belenenses) ou ser goleado, sem apelo e sem ânimo para resistir (V. Setúbal) venha o diabo e escolha.
8- 13 milhões de euros de prejuízos acumulados para os três grandes. Estrela da Amadora e V. Setúbal cada vez mais incapazes de disfarçar que não têm condições de facto para participar numa prova profissional. Esta é, também, uma Liga de aparências: os reis vão nus, os nobres em pêlo e os outros, esfolados.