Novo desperdício da marca de penalty do FC Porto, novo deslize do campeão, aproveitamento máximo do rival Benfica. A corrida ao título tem agora um líder mais destacado, conclusão óbvia da jornada 23.

Ainda assim, é preciso olhar a outros fatores no empate dos dragões com o Marítimo e no triunfo encarnado em Guimarães. O 1-1 dos Barreiros é tão preocupante pela diferença que deixou na tabela como pela exibição do FC Porto.

Ainda que o treinador Vítor Pereira declarasse que a equipa teve «estofo de campeão», a verdade é que os bicampeões nacionais não reagiram à eliminação europeia como outras equipas do clube, noutras épocas, fizeram. O FC Porto teve posse de bola, mas isso é apenas um meio para um fim: que não chegou. Porque só teve dois remates de perigo em 45 minutos e, apesar de um deles ter dado golo, foi «compensado» com um erro muito pouco normal na defesa azul e branca. Depois, quando quis acelerar, ficou sem tempo.

Em contraste com esta palidez, o encarnado garrido que se viu em Guimarães. O Vitória começou por equilibrar o jogo com o Benfica, mas assim que os encarnados se apanharam na frente o rumo do jogo foi (quase) num só sentido. A equipa de Jorge Jesus beneficiou de superioridade numérica, é certo, mas por isso mesmo fez o que se lhe exigia: avolumou o resultado perante os vimaranenses e aumentou para quatro a distância para o rival.

Em resumo, os últimos sete jogos do campeonato partem da premissa de que em cima da paragem para as seleções,o Benfica está com maior dinâmica, não só de resultados, como de fulgor exibicional e até mental em relação ao FC Porto, que anteriormente teve oportunidades e não aproveitou deslizes do rival.

Aliás, voz de comando dentro do balneário portista, Lucho surgiu agastado após o 1-1 com o Marítimo. O «matematicamente» de El Comandante soa até a exagero, pelo que falta de campeonato, e contrasta inclusive com anterior declaração do treinador portista: «Que ninguém pense que o título está atribuído.»

Ainda assim, é invulgar que um dos jogadores mais reputados e familiarizados com a cultura azul e branca tenha uma frase que, na verdade, espelha alguma resignação ou, igualmente preocupante, um estado de espírito nada comum para este período de campeonato.

O outro penalty

Abaixo dos concorrentes ao campeonato continua o Sp. Braga, que venceu de forma categórica em Barcelos e evitou assim que o P. Ferreira, vencedor em Olhão, o voltasse a ultrapassar. Por aqui, tudo corre igual, ao contrário do que acontece com a equipa de Manuel Cajuda, que caiu nos lugares de descida: na próxima jornada, o Olhanense mede forças precisamente com a única equipa que está abaixo na tabela: o Beira Mar. Os aveirenses desperdiçaram duas vantagens frente a um Nacional que sprinta para as provas europeias. A equipa de Costinha tem de deixar os triunfos morais para passar aos resultados urgentemente.

Nessa parte debaixo da tabela, o Moreirense deu um valente salto (venceu o Rio Ave), enquanto Gil Vicente, Académica e também o V. Setúbal continuam em risco. Os estudantes perderam perante o sensacional Estoril, que é dono do último lugar europeu da Liga. Pode não acabar lá, mas a verdade é que o futebol da formação de Marco Silva merece, pelo menos, «beijar» o posto.

A concorrência é feroz, porém, com o Sporting a meter-se ao barulho. No outro penalty da jornada, Labyad fez o que Van Wolfswinkel não conseguira até então: marcar. Os leões ganharam ao V. Setúbal e estão a quatro pontos do Estoril. Mas mais do que isso foi a capacidade ofensiva que a equipa demonstrou que dá alguma esperança aos adeptos leoninos. Pela primeira vez na época, terão visto algo bom para o futuro, com, provavelmente, uma das melhores exibições da temporada.

Em suma, o calendário aperta para Benfica e FC Porto, mas também para todos os outros. Por exemplo, quando os dragões visitarem Coimbra na próxima ronda, não serão os únicos debaixo de pressão nesse jogo.