A História tem peso e a de Anfield tem nas bancadas anos de sucesso na maior prova do futebol europeu, transportados nesta quarta-feira para um relvado em que o Liverpool foi eletrizante em 45 minutos e em que a ideia de Guardiola foi atropelada nesse mesmo período.

Num jogo em que os autocarros só seriam notícia pela chegada ao estádio, os reds inclinaram a eliminatória com uma primeira parte perfeita em todos os momentos e uma segunda em que ficaram sem ofensiva, mas em que foram sólidos como uma muralha.

Há 15 anos que o Manchester City não vencia em Anfield. E desde 1981 apenas o fizera duas vezes. Esse era um lado do duelo. O outro trazia Klopp e Guardiola, dois treinadores que tinham cinco vitórias um sobre o outro. Duas ideias de futebol, distintas, mas viradas sempre para o golo.

As equipas entraram fiéis a elas e se a do City parecia que ia prevalecer depois do vislumbre inicial, foi a que Klopp preconiza que venceu. O Liverpool foi de uma intensidade a fechar o meio que obrigou o City a atirar a bola para os flancos para depois atingi-lo em força.

Sem jogo interior, o líder do campeonato inglês teve de procurar a maioria das vezes Sané, pela esquerda. Ou, com menos frequência, Walker na direita. Também aí os reds ganhavam os duelos e quando um ou outro ganhavam espaço, era simplesmente para cruzar para uma área onde de azul celeste estava apenas Gabriel Jesus. Ao lado dele, Virgil van Dijk.

O Liverpool trazia, então, a outra parte do jogo: uma cavalgada das valquírias rumo à baliza de Ederson.

O 1-0 exemplifica. Canto para o City, Sané passa mal a bola e coloca nos pés de Mané. O senegalês deixa em James Milner. O médio rompe toda a defensiva contrária, com Salah a sair de cima da linha do meio-campo e a correr velozmente vários metros pela direita. Uma primeira tentativa de Firmino que Ederson defende, uma falha de Walker e o rei do golo em Inglaterra sem misericórdia: Salah marcou primeiro e o jogo inclinou-se.

A vencer, o Liverpool ficou ainda mais confortável. Sempre concentrado na defesa do miolo, sempre pressionante de cada vez que De Bruyne recebia. Só havia espaço junto às laterais. Mas pouco. Por outro lado, o City continuava a dar espaço e Oxlade-Chamberlain aproveitou o que teve quando recebeu em posição frontal. Um tiro fortíssimo sem hipótese para Ederson.

Enfim, o jogo decidia-se no mesmo sítio, mas em meio-campos diferentes: os reds sempre compactos e pressionantes, os azuis demasiado espalhados e longe da reação ideal. O 3-0 surgiu com naturalidade. Salah serviu Mané com o ManCity ainda a recuar para a área.

Ora, com os reds a marcarem de dez em dez minutos, era urgente o Manchester City fazer alguma coisa. E, no imediato, era preciso respirar e desligar o Liverpool da corrente.

Os citizens voltaram para o segundo tempo mais determinados, a vencer mais duelos no meio e com Fernandinho a fazer sentir a sua presença em campo. O City melhorou, não deixou sair o Liverpool em contra-ofensiva e para isso contribuiu também um fator externo à equipa de Guardiola: a lesão de Mo Salah.

O Liverpool não precisava de ser tão acutilante na frente como no primeiro tempo. O resultado assim dizia. E atrás esteve absolutamente perfeito, a fechar sempre o meio e em apoios constantes nas laterais.

Por isso mesmo, o Manchester City, líder incontestável da Premier League, futuro campeão inglês, saiu desta primeira mão dos quartos de final da Champions vergado ao peso de Anfield... e sem uma única ocasião real de golo iminente na área de Karius!

Terá de fazer tudo diferente em Manchester.