Figura: Marega deixa a Europa a olhar para si

As limitações técnicas que possuiu são unanimemente reconhecidas. A força bruta, a velocidade e o poderio físico também e o maliano faz delas as principais (ou únicas) armas. E não deixa de assustar quem o defende, que se confessem Marcano, Juan e Manolas. Cansa só de o ver: luta cada bola como se fosse o último lance, bate, cai, levanta-se, enfim, parece imparável. Os números não enganam: anotou o sexto golo em sete presenças na maior prova de clubes do Velho Continente. Além do pontapé certeiro nas costas de Marcano e Kolarov, o internacional maliano criou, juntamente com Corona, o golo inaugural. Marega forçou o erro de Manolas e desatou a correr da linha de meio-campo até à linha final. O mexicano respeitou o movimento do colega e deixou-lhe a bola nos pés para este assistir Soares. Para quem nunca tinha marcado na Liga dos Campeões até à época 2018/19, Marega não está a fazer por menos este ano. 


Momento: Alex Telles, um remate para os oito melhores da Europa

A Roma exibiu a sua melhor exibição no prolongamento, empurrou o adversário para o seu meio-campo e anulou praticamente todas as tentativas de contra-ataque portista. Numa das raras vezes em que se furou o cerco dos gladiadores romanos, o FC Porto conquistou uma grande penalidade. O pontapé cruzado de Maxi passou toda a área, Fernando Andrade tentou o desvio e foi derrubado por Florenzi. Após recurso ao VAR, o árbitro assinalou grande penalidade. Alex Telles teve nervos de aço e fez o 3-1 a favor dos dragões quando faltavam quatro minutos (mais descontos) para o apito final. Um pontapé que garante a presença nos quartos de final da prova pela primeira vez em quatro anos.

Ao vivo no Coliseu do Porto: um dragão assim vence qualquer legião romana: a crónica de jogo


Outros destaques:

Militão: aos 21 anos está a aprender que os degraus para o sucesso são duros. Era titular indiscutível tanto a lateral-direito como a defesa central até que um erro o tirou da equipa quase cerca de um mês. No regresso à titularidade, o internacional brasileiro não se revelou fiável como habitualmente e mostrou dificuldades em dar profundidade no corredor. Para piorar a noite, Militão cometeu a grande penalidade que De Rossi transformou em empate antes do intervalo (36’). Com o passar dos minutos desapareceu ofensivamente, acabando por sair em claras dificuldades físicas na meia hora adicional. Uma exibição aquém do seu potencial e do que já mostrou.

De Rossi: é a alma romanista, é o último gladiador. Nado e criado em Roma, o internacional italiano é um ícone do clube, sente-o e vive-o como ninguém em campo. O que De Rossi tem de bom para o símbolo que representa, tem de mau para os adversários. Apontou o único golo dos giallorossi, de grande penalidade, e decidiu mostrar o orgulho na camisola que enverga ao exibi-la para a bancada portista e para o banco, em jeito de provocação. Fortuna, a deusa romana da sorte, pregou-lhe uma partida: saiu lesionado em cima dos primeiros quarenta e cinco minutos. A Roma perdeu aquele que estava a ser o seu ponto de equilíbrio.

Marcano: regressou ao Dragão e dividiu corações. Foi substituído à entrada para o último quarto de hora do tempo regulamentar e ouviu uma mescla de assobios e aplausos. Fez meia parte à imagem do que se lhe conhece: sóbrio, com tempo de entrada oportuníssimo e com a concentração nos píncaros. Um contraste com o segundo tempo. O espanhol fez mais faltas, errou mais e repartiu as culpas do 2-1 com Kolarov quando perdeu Marega de vista. Quando se voltou para o maliano, já a bola estava no fundo da baliza de Olsen (51').

Corona: não houve Brahimi durante 70 minutos, mas houve muito Tecatito. Dois dos três primeiros lances de perigo do FC Porto na partida tem a assinatura do mexicano. Desafiou a sorte ao atirar sem deixar cair logo ao terceiro minuto – errou o alvo por pouco – e, mais tarde, tentou bater Olsen à bomba. Porém, a influência de Corona não se limitou a aparições fugazes em pontapés de meia-distância. Uns furos bem acima do que fez contra o Benfica, o extremo portista criou, combinou com os seus companheiros e fez soar os alarmes na defesa romana sistematicamente. A jogada que resulta no 1-0 anotado por Soares é sintomática: recebeu de Marega, encarou Karsdorp e esperou o apoio do maliano. O desfecho foi o que já se conhece. Coroou a sua prestação com a assistência para o 2-1.

Pepe e Felipe: quase nem se deu por Dzeko, figura maior da Roma. Esse é o maior elogio que se pode fazer à dupla de centrais portista. Intransponíveis no jogo aéreo, «limparam» praticamente tudo o que foi possível pelo chão e, mesmo o que parecia impossível – como o corte do internacional português quando a bola picada por Dzeko seguia para o fundo da baliza (111’). Nem sempre deram as melhores soluções na saída de bola, ainda assim, limparam a imagem deixada na Cidade Eterna e apresentaram-se ao nível das melhores duplas da Europa.