Imagine uma troca de argumentos entre um adolescente ansioso por crescer e uma Velha Senhora, bem vivida. O teenager segue à risca as normas da boa educação e convida a Velha Dama, gentilmente, a sair. De orgulho ferido, a senhora, perto dos seus 121 anos, parece cambalear rumo à porta de saída. Porém, esta Velha Senhora, dissimulada, sábia e cínica, acabou por colocar o adolescente no seu sítio. 

Foi desta forma que Tottenham e Juventus dialogaram em Wembley, com a bola a funcionar como meio de linguagem universal. Os spurs, na quarta participação na Champions da sua história, procuraram chegar aos quartos de final pela segunda vez (a outra tinha sido em 2010/11), mas caíram perante a Juventus, presença habitual (32 participações) na mais prestigiada competição de clubes a nível europeu.

A equipa de Pochettino respeitou o adversário – como mandam as regras da boa educação, lá está – mas não o temeu. Apresentou argumentos mais válidos durante mais tempo na discussão com o campeão italiano. Esteve perto de triunfar, mas acabou por sucumbir no espaço de três minutos perante a frieza transalpina. 

Antes da bola rolar, houve um momento que merece ser sublinhado: o minuto de silêncio cumprido em memória de Davide Astori. Tarjas nas bancadas, Buffon de olhos fechados, imagens fortes.

Mas vamos ao espetáculo. Heung-Min Son, logo ao minuto quatro, deixou o primeiro aviso, mas Buffon, o fiel escudeiro da Velha Dama, impediu o primeiro golo da noite. Pouco depois, ao minuto 20, os dois jogadores voltaram a estar em evidência, novamente com Buffon a levar a melhor. O guarda-redes italiano impediu que o cabeceamento do sul-coreano acabasse no fundo da sua baliza.

Depois de ter falhado um pontapé cruzado, Son conferiu justiça ao marcador e deixou Pochettino a sonhar, um sonhador por natureza como se descreveu no lançamento da partida. 

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A Juventus esboçou uma ténue reação após o golo sofrido e sacudiu a pressão contrária. Pjanic teve nos pés a oportunidade de igualar, mas atirou ao lado. Pouco produção ofensiva para quem defende o estatuto de finalista vencido. O resultado ao intervalo era, portanto, inquestionável.

O pontapé de Son, em arco, no início da segunda parte, significou um interregno no domínio inglês. A partir daí, Allegri lançou Asamoah e Lichtsteiner os lugares de Benatia e Matuidi e a Juventus começou a jogar como nunca até então.

Por consequência ou não das substituições, os italianos criaram mais situações para marcar em cinco minutos do que na restante hora de jogo. Dybala desperdiçou uma soberana ocasião, mas Higuaín não lhe seguiu o exemplo e conseguiu mesmo igualar o marcador, aproveitando um cabeceamento de Khedira na zona do primeiro poste. Volvidos três minutos, Dybala surgiu na cara de Lloris e consumou a reviravolta. Um pé esquerdo que quebrou quase por completo o sonho de Pochettino.

A Juventus uniu-se, deu as mãos e sofreu com a investida contrária. Harry Kane, em cima do minuto 90, cabeceou ao poste, com Barzagli a conseguir depois o corte em cima da linha. Foi o canto do cisne para o Tottenham que perdeu pela primeira vez em Wembley nesta edição Champions. Um desaire que chegou na pior altura e que prova que organização, talento e qualidade não são suficientes quando ainda se é um adolescente nesta competição. 

Segue em frente a Juventus, finalista vencida em duas das últimas três edições Uma vitória de uma Velha Senhora cínica, capaz de se reinventar constantemente. Os anos não passam por si, pois não?