Antes de tudo, vamos estabelecer as diferenças, para que a história não nos pregue alguma partida: Adriano, nascido na Hispânia, foi imperador romano. Adrián, nascido em Espanha, foi imperial em Roma.

Perante a adversidade da lesão de Brahimi, seguida do bis do prodígio Zaniolo, foi o avançado espanhol o gladiador improvável que disparou a flecha e freou a loba. Ao fazê-lo, Adrián deu vida ao dragão na arena dos milhões.

Adrián voltou a marcar na Liga dos Campeões quase quatro anos e meio depois. Mais precisamente foram 1609 dias de longo jejum do avançado de 31 anos, que até já jogou uma final (pelo Atlético frente ao Real, na Luz, em maio de 2014)… Até este golo, que deixa o FC Porto a um escasso 1-0 no Dragão de poder seguir em frente na «Champions» e de arrecadar mais 10,5 milhões.

A bem da verdade, diga-se: Adrián foi importante, mas não foi o único protagonista no palco Olímpico, esse coliseu romano dos tempos modernos.

O papel de herói local ninguém o tira a Nicolò Zaniolo, miúdo de 19 anos que Di Francesco puxou das costas do ponta de lança para o lado direito do ataque e que acabou por fazer estragos, com Dzeko no inusual papel de seu escudeiro.

Em apenas seis minutos, Zaniolo fez dois golos (70’ e 76’), ambos com o bósnio Dzeko na origem, e deixou os dragões perto de sucumbir.

Até que três minutos depois do segundo da Roma, Adrián aproveitou um espirro de Tiquinho para reduzir.

Tudo isto é o epílogo da dura batalha desta noite. Antes dos golos, houve 70 minutos de equilíbrio.

Roma-FC Porto, 2-1: ficha e filme do jogo

À entrada na arena, dragões e romanos tinham cada um os seus galões para puxar: os italianos foram semifinalistas na época passada, o FC Porto foi a melhor equipa de toda a fase de grupos.

Sem Marega, lesionado, e sem Corona, cujo castigo foi agravado pela UEFA, Sérgio Conceição promoveu a estreia absoluta de Fernando Andrade na Liga dos Campeões. Do lado contrário, Marcano falhou o reencontro, ao não sair do banco.

O brasileiro – reforço de inverno chamado à titularidade, tal como Pepe – fez dupla na frente com Tiquinho Soares, que também se estreou na edição desta época.

O 4-4-2 portista contou também com Otávio sobre a direita, no lado oposto a Brahimi, além de Danilo e Herrera no miolo, à frente da defesa habitual.

No Olímpico, apareceu um FC Porto de combate, pressionante na frente e a batalhar por cada centímetro do meio-campo. A equipa de Sérgio Conceição teve mais posse de bola (55%-45%) e chegou sempre com relativa facilidade ao último terço romano. A partir daí, é que as coisas se complicavam: faltava discernimento para definir melhor.

Por sua vez, a Roma desdobrava-se bem ofensivamente, com os laterais Florenzi e Kolarov bem projetados pelo flanco. E, claro, quem tem Edin Dzeko na frente, tem um bombardeiro pronto a detonar qualquer muro. Aos 38’, a bomba do bósnio só parou no ferro e a Roma desperdiçou a melhor oportunidade de toda a primeira parte.

Dzeko havia de ser decisivo lá mais para a frente, pela forma como serviu para o primeiro golo e como disparou ao poste para o segundo. Zaniolo aproveitou ambas as ofertas e agarrou o protagonismo.

Os seis minutos de desconcentração portista, que valeram a primeira derrota nesta edição da Champions e a primeira derrota de sempre em Roma para os azuis e brancos, foram compensados pelo tal golo de Adrián... E por uma ponta final corajosa, em que os dragões estiveram perto do empate: em particular por Herrera, que disparou a tirar tinta do poste (86’).

O FC Porto teve também Casillas. Muito Casillas.

Com o passar dos anos, o guarda-redes espanhol volta a mostrar por que motivo é um nome maior na Europa do futebol. Tem nível mundial, como Sérgio Conceição fez questão de sublinhar antes do jogo, apontando para os pergaminhos do FC Porto. Os tal estofo que também mostraram Militão e Danilo: notável exibição que ambos fizeram.

A tal bitola europeia só faltou lá na frente. Mesmo assim, há que ter em conta as contrariedades nesta equação. Sem Aboubakar (não inscrito) e Marega, lesionados, e sem Corona, castigado, o dragão teve de superar ainda mais uma provação, com a entorse que tirou Brahimi do jogo. 

Nem todos podem ter Dzeko como referência ofensiva... E isso faz a diferença. Ainda assim, o golo de Adrián disfarçou as debilidades e segurou o campeão nacional à eliminatória.

O desafio, ainda assim, está ao alcance do melhor FC Porto. Cabe agora ao Dragão fazer o resto, a 6 de março. Para derrotar esta legião romana será preciso cuspir fogo e bater asas.