O Benfica começa a afastar o peso que todas as manhãs carrega sobre os ombros, quando levanta a cabeça da almofada e a ergue para o mundo. É por isso uma equipa cada vez menos inconstante, menos trémula e emocionalmente menos instável.
 
É uma equipa menos errática, enfim, que já vai conseguindo resistir ao ritmo dos próprios medos.
 
Esta terça-feira, por exemplo, entrou muito bem no jogo. Excelente, aliás. Porventura de espírito mais limpo depois da goleada doméstica, começou por encostar o Galatasaray às cordas.
 
Foi coisa de vinte minutos, não mais, mas foi provavelmente do melhor que já se lhe viu fazer esta época. Estruturada em redor da subida de forma dos melhores valores individuais, a equipa apresentou sinais muito animadores para início de conversa.

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Apresentou, por exemplo, uma capacidade rara de ganhar a bola em zonas subidas do terreno. Pressionava alto, não deixava o adversário jogar e com uma frequência admirável iniciava os ataques perto da grande área do Galatasaray. Ora essa é a melhor forma de uma equipa se encorajar.
 
Foi o que o Benfica fez.
 
Nesta altura convém fazer um parêntesis para dizer que muito do que esta equipa começa a ser tem a ver com a entrada de Raul Jimenez no onze.
 
O mexicano desperdiçou dois ou três golos esta noite, é verdade. Um, pelo menos um, na cara de Muslera. Convém não ficar pelos detalhes, porém: para além disso trouxe uma maior capacidade de jogar fora da área, caiu na direita, caiu na esquerda, pressionou, ganhou a bola, arrastou defesas, abriu espaços para os companheiros.
 
É um ponta-de-lança diferente de Mitroglou, que é um animal de área, mais parecido com Lima, por exemplo, o que favorece até Jonas: quando o mexicano arrasta adversários, o brasileiro ganha espaço na área para fazer a diferença vindo de trás.


 
Ora por isso, e porque os melhores valores individuais - particularmente Jonas e Gaitán - estavam endiabrados, o Benfica criou nos primeiros vinte minutos três ou quatro oportunidades para marcar.
 
Não o fez e veio por aí abaixo.
 
Veio por aí abaixo sobretudo depois do primeiro remate turco, num esforço de Podolski que saiu enrolado. Não chegou a a ser uma oportunidade de golo, mas foi suficiente para levantar suspeitas e outras desconfianças.
 
Sim, esta equipa ainda não afastou todos os medos. Mas já consegue lutar contra eles.
 
Talvez por isso regressou forte dos balneários, outra vez autoritária, pressionante, dominadora e assente na qualidade dos melhores valores individuais. Por isso chegou finalmente ao golo: Jonas, na sequência de uma bola parada, abriu o marcador.
 
O Galatasaray reagiu e aproveitou uma falha defensiva para empatar seis minutos depois, o que levantou dúvidas no estádio: era um golpe duro para uma equipa que ainda está a crescer.

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Mas a verdade é que este Benfica já consegue lutar contra os próprios medos: já não se esconde à primeira infelicidade. A equipa voltou para a frente e chegou ao golo do triunfo através de Luisão.
 
Esse foi o sinal, enfim, que permite dizer que este é um Benfica menos inconstante, menos trémulo e emocionalmente menos instável, lá está. Jogo a jogo a equipa aprender a reagir perante às infelicidades e outras ingenuidades.
 
É claro que até ao fim, é preciso dizê-lo, o Galatasaray desperdiçou duas ou três ocasiões claras de golo. Nessa altura, a formação encarnada foi beijada pela sorte: e já agora pela capacidade de sofrer com menos um jogador, depois da expulsão de Gaitán.

Tudo isso é verdade, mas é muito verdade também que este Benfica já sabe reagir ao medo, já sabe ir atrás da felicidade quando ela lhe parece fugir entre os dedos.
 
Já vive melhor ao sol do que à sombra, portanto.