Um golo à Maradona e o nome salta para as bocas do mundo. O apelido, de resto, já é bem conhecido do futebol espanhol, mas Saúl, o nome próprio, faz pela vida para catapultar de vez uma família de futebolistas e, ao mesmo tempo, constituir legado a título próprio.

Filho de um ex-jogador e com mais dois irmãos também profissionais, ambos com passagem por Portugal, Saúl Ñíguez foi a grande figura da vitória do Atlético Madrid sobre o Bayern Munique, que deixa os «colchoneros» em vantagem para o jogo da segunda mão, em Munique. Foi dele o único golo do encontro.

A história da família, essa, vem de muito antes do momento de génio de Saúl, o mais novo dos irmãos, ao minuto 11 do jogo do Calderón. Começa em José António, no início da década de 80. Foi em 1981 que Ñíguez pai, conhecido no futebol por Boria, se estreou na equipa principal do Elche, o clube mais representativo da sua carreira.

Por aí se vê, de resto, que não conseguiu, em todo o seu percurso, atingir o brilhantismo agora reservado ao filho. Ao mais novo dos filhos, sublinhe-se, pois Jony, de 31 anos, e Aaron, de 27, já têm carreiras encaminhadas. E qual o dado mais peculiar? Também nenhum deles chegou tão longe como o caçula Saúl, de apenas 21 anos.

Jony Ñíguez fez a sua formação no Valência, passou pela equipa C do Real Madrid, mas nunca jogou na I Liga espanhola. Na temporada passada chegou a Portugal, para representar o Rio Ave, onde também não conseguiu papel de destaque: apenas quatro minutos jogados, dois na Taça da Liga e outros tantos na 33ª jornada, ambos, naturalmente, como suplente utilizado.

Jony Ñiguez no Rio Ave

Seguiu para o Feirense onde voltou a não ser feliz. Novamente apenas dois jogos efetuados, embora desta vez com mais tempo de utilização. Em janeiro rumou à Eslovénia, para jogar no FC Koper, onde tenta, de uma vez, reanimar uma carreira que prometeu e não cumpriu.

Mas bem mais prometedor foi o início de Aaron Ñíguez, atualmente no Sp. Braga. Não é difícil encontrar nas redes sociais comentários de quem sublinhe que era neste que estavam depositadas as maiores esperanças do clã familiar.

De facto, Aaron ainda hoje é recordado como «a pérola» do Valência. Na época 2006/07, Quique Flores lançou o jovem avançado no jogo frente à AS Roma da Liga dos Campeões. Tinha 17 anos e seis meses. A noite que deveria ser de sonho virou pesadelo. Ainda antes da meia hora, Aaron deixou terreno de jogo, lesionado no joelho. Teria de parar um mês. Nunca mais voltou a vestir a camisola do Valência.

Na temporada seguinte foi emprestado ao Xerez, primeiro, e aos grregos do Iraklis, depois. Em 2008 mudou-se para a Escócia, para o Glasgow Rangers, onde chegou com estatuto de diamante por lapidar. Deixou o clube com três jogos efetuados.

Ainda seguiu na época seguinte a saga de empréstimos, agora a Celta de Vigo e Recreativo Huelva. Em 2011, quando assinou pelo Almería, já não tinha, nem de perto nem de longe, o estatuto de outros tempos. Mesmo a nível internacional. No Mundial Sub-20 de 2009 foi uma das figuras da seleção espanhola, orientada por Luis Milla, com quatro golos em outros tantos jogos.

Aaron teve um ano e meio interessante em Almería, mudando-se depois para o Elche, o clube do seu pai. Chegou este ano a Braga, mas a concorrência feroz não lhe têm dado muito espaço. Apesar disso, já marcou presença em 14 encontros, continuando, ainda, à procura do primeiro golo.

Aaron em ação pelo Sp. Braga

Saúl na melhor época da carreira

Enquanto os irmãos afundavam as expectativas que criaram no início, Saúl crescia nas Academias dos colossos de Madrid. Dois anos na do Real, os seguintes na do Atlético.

Tal como o irmão Aaron, fez o primeiro jogo como sénior numa competição europeia, mas na Liga Europa, em março de 2012, num jogo contra os turcos do Besiktas. Jogou seis minutos, apenas, entrando para o lugar de Koke e, tal como o irmão, não voltaria a vestir a camisola «colchonera»…nessa época.

Em 2012/13 dividiria o seu tempo entre a formação principal e a equipa B, antes de seguir para um empréstimo ao Rayo Vallecano, para crescer.

Tinha sobre si a pressão dos falhanços dos irmãos e a porta do Calderón poderia não voltar a abrir-se se falhasse em Vallecas. Mas rapidamente se tornou referência da equipa. Terminou a época 2013/14 com 37 jogos somados. Estava pronto a voltar.

Desde a temporada passada que é uma das figuras da equipa de Diego Simeone sendo esta, facilmente, a melhor da carreira até ao momento. Já atingiu a marca dos 44 jogos e está a um golo da dezena.

O desta noite não foi, porém, mais um. Foi o próprio quem o disse, quando, no final, assumiu a dedicatória ao irmão Aaron: «É o golo mais importante da minha carreira, seguramente, e também deve ser o mais bonito.»

A festa do golo de Saul

1-0 tem sido suficiente

Costuma dizer-se que o resultado de 1-0 é enganador e traiçoeiro, mas numa eliminatória europeia a situação é diferente. Pelo menos quando falamos de meias finais.

Nas últimas oito vezes em que a primeira mão terminou com uma vantagem de 1-0 para a equipa da casa, só numa delas houve reviravolta. Foi em 2007, quando o Chelsea de José Mourinho venceu o Liverpool em casa pela margem mínima e perdeu pelo mesmo resultado em Anfield Road, sendo, depois, eliminado nas grandes penalidades.

Nas outras sete, portanto, foi suficiente, conjugado com o resultado da segunda mão, para seguir para a final.

É nessa estatística que o Atlético apoia a sua fé para repetir 2014, ano em que também chegou à final da Liga dos Campeões, em Lisboa, frente ao Real Madrid.

Aliás, embora não seja tão animadora, a percentagem de sucesso global em todas as provas da UEFA, diz que e 54 por cento dos casos, 1-0 na primeira mão significa apuramento.