O entendimento entre o Benfica e os adeptos está como aquelas relações em que o casal decide dar uma nova oportunidade. Existe a esperança de que as coisas podem melhorar, mas ao menor atrito há faísca. E a coisa torna-se penosa de assistir.

Não és tu, sou eu. Em campo, a equipa a equipa não entusiasma e até a vontade parece ser pouca, por vezes. Não há imaginação ou alegria.

Mas tu também não cumpres a tua parte. Nas bancadas, os adeptos – cada vez menos, nesta fase, diga-se -, à mínima falha, assobiam. Perante a falta de ideias, apupam. Um passe para trás, refilam.

Se ao menos me ouvisses. Com a bola a rolar, muitas vezes os momentos de união aparentam ser perfeitos. Os adeptos cantam, os jogadores entusiasmam-se e parecem ganhar energia extra... mas surge um passe errado e tudo volta a ser colocado em causa.

Temos de pensar nos miúdos. Paciência, só para os mais novos. João Félix sempre que toca na bola, e Gedson até quando falha depois de surgir isolado na cara do guarda-redes.

Podes ficar com o dinheiro, o estatuto e o prestígio?

Há muita coisa em que temos de pensar. Apesar de rotulado como «jogo a feijões», estava muita coisa em cima da mesa na partida desta quarta-feira do Benfica com o AEK. Desde logo, 2,7 milhões de euros. Mas era muito mais do que isso.

De imediato, era o estatuto de cabeça de série na Liga Europa, que permitiria evitar já as equipas mais fortes. E para o conseguir, o Benfica entrou em campo a saber que o empate não bastava.

Mas, e o prestígio europeu? Depois de na época passada ter somado por derrotas todos os jogos disputados na Liga dos Campeões, a equipa de Rui Vitória não tinha margem para encarar nenhum jogo desta competição - ainda para mais em casa – «apenas para cumprir calendário».

E ainda havia o peso de não vencer na Luz para a Liga dos Campeões desde fevereiro de 2017.

Mas nada disso parece ter estado na cabeça dos jogadores numa primeira parte demasiado pobre para aquela se ouve tantas vezes dizer ser a competição que todos querem jogar.

Verdadeiras oportunidades de golo, nem vê-las. Vontade, pouca também.

Resolvemos isto como adultos?

Na segunda parte a cara mostrada foi outra. Houve jogadas de perigo e só por manifesto azar a bola não entrava. Não que o domínio tenha passado a ser avassalador, mas era o suficiente para merecer um pouco mais.

Seferovic cabeceou à trave, Gedson falhou na cara de Barkas já depois de Grimaldo ter feito o mesmo. E chegou a dar a ideia que a relação ia azedar ainda mais.

Só que aí surgiu o pé esquerdo de Grimaldo, já muito perto do final. E não deixa de ser curioso que tenha sido um dos jogadores que criticou publicamente os adeptos pela falta de apoio a selar novo acordo de paz.

Com um livre direto perfeito, Grimaldo fez o 1-0 e deu a valiosa vitória aos encarnados e garantiu o importante estatuto de cabeça de série na Liga Europa. Mais importante que isso, deve ter garantido que as festas sejam passadas de forma pacífica.

Um dia de cada vez. Não nos precipitemos.