O futebol está cheio de duplas mais ou menos prováveis e, esta noite, viu mais uma emergir. Dois jogadores batidos, de países que são tudo menos amigos, com passado ligado aos dois rivais espanhóis mas presente no coração de uma Juventus embalada para a final de Cardiff. Dani Alves e Higuaín passaram por cima do Mónaco de Leonardo Jardim, sugando até ao tutano as falhas dos monegascos, coisa que, do outro lado, quase nunca aconteceu.

A Juventus ganhou 2-0 e está embalada para a final. Joga a segunda mão em casa e nem o, até aqui, sensacional Mónaco parece capaz de inverter a marcha de uma equipa que, para ser eliminada, tinha de sofrer mais golos numa noite do que em toda a caminhada até agora. Os distraídos talvez não tenham notado, mas os campeões italianos estão a um jogo da final e ainda só viram os rivais festejar duas vezes.

No Luís II, esta noite, fizeram novamente uso da sua extraordinária solidez defensiva, com um trio de centrais que fica para a história do clube e do futebol: a geração atual certamente lembrará aos vindouros Bonucci-Chiellini-Barzagli. Provavelmente em tripla.

Foi, de novo, no entendimento do trio que joga de olhos fechados que começou a assentar a vitória italiana. Porque são eles que dão aos laterais estabilidade e conforto para arriscar no ataque. E foi num deles, Dani Alves, que se desenharam, então, os dois golos do encontro.

O primeiro veio ao minuto 29. Um contra-ataque perfeito, com Dani Alves, na área, a tocar de calcanhar para o remate vitorioso de Higuaín. O argentino, até então, tinha acertado muito pouco do que tentara fazer, mas lançou-se para ser a figura do jogo.

Isto porque, depois desse golo, o Mónaco caiu a pique. Antes, tinha as melhores oportunidades do jogo. Depois foi querer sem poder.

Sem Mendy, Leonardo Jardim foi obrigado a mexer nas laterais da defesa, lançando Sidibé e Dirar. À frente apostou em Bernardo Silva num flanco, como habitualmente, deixando o outro português do grupo, João Moutinho, no banco. Entraria já com o resultado feito.

Como dizíamos, antes do golo inaugural, foram do Mónaco as melhores oportunidades. As duas primeiras por Mbappé, principal figura do grupo, que se esgotou, porém, nesses dois duelos perdidos para Buffon. A outra por Radamel Falcao, em novo lance em que o italiano levou a melhor, embora até tenha ficado a sensação que o remate de cabeça iria passar ao lado.

Veio, então, o primeiro de Higuaín e tudo mudou. A Juventus controlou o ímpeto contrário com classe, resistiu a uma entrada espevitada do rival no segundo tempo, com destaque para nova perdida de Falcao após passe de Bernardo Silva, logo aos 46, e matou o jogo (e possivelmente a eliminatória) a meia hora do fim.

Perda de bola de Bakayoko, Dybala toca em Dani Alves que volta a fazer funcionar a sociedade do golo. Centro para o segundo poste onde Higuaín remata de primeira e deixa o Mónaco em muitos maus lençóis para seguir em frente para uma final que só em 2004 conseguiu.

Até ao fim nada mudou. A Juventus jogou com o banco para queimar tempo, o Mónaco fez o mesmo para tentar um golo que desse outra esperança para Turim. Mas o discernimento andou longe do necessário e, desse período, fica apenas um cabeceamento de Germain, em cima da hora, que Buffon desviou sobre a trave.

Se, até agora, o Mónaco foi incrível, terá de ser histórico em Itália para chegar à final. Se o futebol tiver lógica, pelo que se viu no Principado, a «vechia signora» terá lugar em Cardiff. Mas há 90 minutos para jogar e, já se sabe, neste desporto nunca há finais antecipados...