O futebolista do Basaksehir, Demba Ba, acusou o treinador do PSG, Thomas Tuchel, de ter culpado os turcos pelo sucedido no jogo do passado dia 8 de dezembro, a contar para a fase de grupos da Liga dos Campeões, que foi interrompido após o quarto árbitro ter apelidado Pierre Webó de «negro» e apenas concluído no dia seguinte.

Depois de elogiar o PSG por ter seguido a posição do Basaksehir e todos se unirem para não continuar em campo, o avançado apontou ao técnico alemão.

«Eles [PSG] podiam ter continuado no relvado e dizer: não, estamos aqui para jogar. Mas decidiram parar. Alguns dos elementos do PSG, ou um elemento, gostaria que estivesse em frente a uma câmara e explicasse como ele nos tratou. Eu não aceito isto e nunca vou aceitar e a próxima vez que o vir, vai ouvir. O treinador. Não vou prolongar-me, mas ele provavelmente vai. Ele discutiu com um ou dois jogadores da nossa equipa, basicamente culpando-nos pelo que se passou. Não é algo que vá falar nas câmaras, mas se algum dia o vir de novo vou mostrar-lhe», afirmou, em entrevista exclusiva ao canal televisivo turco TRT World, na terça-feira.

O jogador senegalês de 35 anos relatou ainda o que se passou no balneário, quando a equipa estava a decidir o que fazer após a interrupção ao minuto 14 e recolha às cabines.

«Estávamos a debater se voltávamos ou não. Alguns, não posso dizer que queriam voltar, mas estavam bem se não fossemos. Outros, absolutamente que não. Eu fui um dos que não queria voltar, olhei para os meus colegas e disse: não sabem o que passámos, a não ser que sejam negros, aí talvez. Ou como vivemos de forma diferente. Eu não vou voltar, porque a certo ponto há que dizer chega. Não foi o pior [caso] que aconteceu no futebol, mas temos de parar. Vivemos num mundo em que o racismo tornou-se normal. Ou íamos todos ou não e decidimos não ir», partilhou, sublinhando que, quando confrontou o quarto árbitro, o romeno Sebastian Coltescu, estava apenas a questionar o porquê do termo «negro» e não a atacá-lo.

«Não me interpretem mal, não estava a atacar o árbitro, não fiz uma declaração. Eu começo com um “porquê?”, que é uma questão que nunca foi respondida. Ele estava provavelmente surpreendido, algo como: “porque é que eu estou a ser atacado?”. Infelizmente, houve palavras que ficaram normalizadas na nossa cabeça e dizemo-las aleatoriamente, esquecendo a história de parte do mundo e o impacto que isto tem nas pessoas. Não sabes o que é ser negro, até seres. Não sabes o que é ser branco, até seres. A nossa história e o que vivemos, não sabem como podem afetar-nos», continuou, dizendo que os árbitros não devem só estudar quem são os jogadores, mas também os elementos técnicos de cada clube que vão apitar.

«Eles sabem quem é quem, eu fui apitado este ano e na época passada por árbitros que nunca me apitaram e trataram-me pelo meu nome, Demba. Mas também devem fazer o trabalho de casa quanto ao pessoal técnico ou jogadores que apitaram menos vezes. São imensas nacionalidades», avisou.

«Pela primeira vez as equipas disseram basta, é o mais importante»

Também à TRT World, o adjunto do Basaksehir, o camaronês Pierre Webó, lembrou que viveu situações semelhantes quando jogou em Espanha – passou pelo Maiorca, Osasuna e Leganés – mas que finalmente houve união em campo entre todos os intervenientes para dizer «basta».

«Aconteceu-me em Espanha algo semelhante, todos pensámos que era normal na altura. Quando tocava na bola ou marcava, faziam sons de macaco, isso deixava-me desconfortável e irritado, especialmente quando tens a família nas bancadas. O meu filho perguntava e eu não sabia o que dizer, essa é a diferença entre o que se passou no passado e no dia 8 de dezembro. Pela primeira vez, as duas equipas disseram basta e é a coisa mais importante a lembrar», frisou, admitindo que, quando viu as suas imagens após o incidente no Parque dos Príncipes, não se reviu no seu estado emocional.

«Eu conheço-me e foi a primeira vez que me vi naquele estado, foram momentos difíceis, as imagens fortes, não me reconheci. A minha família, amigos, colegas, disseram: aquele não é o Webo. Foi instintivo, a raiva veio de dentro, não foi previsível. Todos viram a minha reação mas essa pessoa [quarto árbitro] não me pediu desculpa em nenhum ponto, não recebi nenhuma chamada dele ou do resto da equipa de arbitragem. A reação dos jogadores no relvado é memorável. Pela primeira vez, mostraram que todos estamos unidos. Se um incidente similar acontecer no futuro, mostrámos que conseguimos agir», disse, ainda.