Histórico!

Segue-se uma pausa para respirar fundo.

Épico!

Outra vez, controle a respiração.

Precisamente 17 anos depois da passagem histórica em Old Trafford, o FC Porto encheu-se de coragem e fé para escrever mais uma epopeia na Liga dos Campeões ao eliminar a Juventus, no prolongamento (3-2).

Este que vos escreve admite ser difícil contar o que se passou em Turim. O jogo apaixonou os mais descrentes, despertou-lhes a chama já apagada. Ao mesmo tempo, fez palpitar os corações – uma e outra vez - dos que nunca deixaram a chama morrer.

O FC Porto foi do tamanho da sua história. A verdade é que tudo começou em Sérgio Conceição. O líder deu o primeiro passo e apontou o caminho. Foi assim na primeira mão e no segundo jogo. O técnico portista não teve medo nem deixou que este contagiasse a equipa e montou-a em 4-4-2. A intenção era clara: pressionar alto, defender de forma compacta e jogar no campo todo.

Assim, os campeões nacionais fizeram a melhor primeira parte da época e banalizaram a crónica campeã do Calcio. Apesar da primeira oportunidade ter pertencido a Morata, os azuis e brancos cresceram com o decorrer dos minutos e enviaram uma bola à trave por Taremi.

O golo que deu asas ao Dragão surgiu aos 19 minutos por Sérgio Oliveira, de penálti. A jogada foi deliciosa e terminou com a falta de Demiral sobre Taremi. O internacional português não tremeu e fez o 0-1.

O FC Porto não sentiu problemas para controlar o ataque da Juventus na primeira parte. Ronaldo não se viu (jogo muito fraco), Morata foi aparecendo a espaços e Chiesa raramente deu um ar da sua graça. Ainda assim, o espanhol viu Marchesín negar-lhe o golo após erro de Manafá.
  
Os números ao intervalo mostravam o domínio azul e branco: oito remates contra três. Porém, o jogo mudou em seis minutos. De orgulho ferido e corada de vergonha, a Vecchia Signora colocou o adversário em dificuldades e empatou o encontro por Chiesa a passe de Ronaldo (49m). Depois Taremi foi protagonista pelas piores razões: o iraniano viu o segundo amarelo por pontapear a bola para longe depois de o árbitro ter apitado.

Parecia uma missão impossível. Mas, lá está, no futebol o impossível é só o que ainda não foi feito. Dentes cerrados, uma entrega formidável e uma vontade de sofrer para depois sorrir. Foi assim que o FC Porto olhou para os 35 minutos que restavam.

Sofreu-se a bom sofrer no relvado. Corações palpitaram, roeram-se unhas e alguns cabelos foram arrancados por quem seguia em Portugal. Aos 57 minutos, Chiesa ultrapassou Marchesín, mas importunado por Pepe, acabou por atirar ao ferro com a baliza deserta. Depois de ter perdoado uma vez, o italiano não perdoou à segunda e bateu Marchesín com um golpe de cabeça.

Era o melhor período da Juventus na eliminatória, eliminatória essa que parecia estar a fugir entre os dedos à equipa lusa. O sufoco maior foi nos 15 minutos finais: Ronaldo falhou o que não é habitual, Morata teve um golo anulado e Cuadrado acertou na trave no últimos minutos - a sorte protege os audazes, não é?

Conceição foi reorganizando a equipa e colocou Sarr, Grujic, Díaz e mais tarde, Toni Martínez. Pepe e Mbemba lideravam no eixo defensivo, Sérgio Oliveira pautava o ritmo no meio-campo e Corona desequilibrava na frente e os dragões aguentaram-se bem na primeira parte do prolongamento. A magia de Tecatito por pouco não fez estragos: Marega cabeceou para as mãos de Szczesny.

O FC Porto resistia à tentação de recuar e de aguardar pelos penáltis. Mostrou, no fundo, uma alma do tamanho da sua história como se disse anteriormente. E foi feliz. Num livre de Sérgio Oliveira, a bola passou pelo meio das pernas de Ronaldo e caprichosamente, fugiu das mãos de Szczesny (115m).

2-2! A eliminatória parecia resolvida. Todavia, as grandes equipas têm carácter e nunca se rendem. Por isso, não foi surpresa nenhuma o facto de os bianconeri terem feito o 3-2 volvidos dois minutos por Rabiot.

O FC Porto sofreu até final, mas passou para os quartos de final. E quanto dos heróis de Manchester não esteve nas luvas de Marchesín, na liderança de Pepe, nos pés de Corona ou na cabeça de Sérgio Oliveira?

Cumpriu-se 9 de março.