Há noites assim: históricas, irrepetíveis e inesquecíveis. Uma noite exatamente como aquela que Cristiano Ronaldo e o Real Madrid viveram, esta terça-feira, em Turim, diante da Juventus.

Os merengues venceram a campeã italiana por 3-0 e desbravaram caminho rumo às meias-finais da Liga dos Campeões. Cristiano, outrora apelidado de comandante, foi a figura maior do jogo: abriu as hostilidades logo ao minuto três, tornando-se no primeiro jogador a marcar em dez jogos consecutivos na Liga dos Campeões (superou Ruud Van Nistelrooy) e, pouco depois da hora de jogo, assinou o golo de uma vida, ao marcar de bicicleta.

Aplausos dos tifosi da Juve e Zidane surpreendido: de mãos na cabeça e boca aberta. Enfim, imagens de rendição a Ronaldo. Se a exibição era suficiente para tocar o céu - há 15 anos que ninguém bisava em casa de Vecchia Signora -, com a assistência para o terceiro golo, da autoria de Marcelo, ganhou, indiscutivelmente, um lugar no céu ao lado dos grandes da história do jogo.


JUVENTUS-REAL MADRID: 0-3 FICHA E FILME DO JOGO

Porém, em Itália, houve outros motivos de interesse além de Ronaldo.

Na reedição da última final da Liga dos Campeões, Zidane repetiu a fórmula de Cardiff ao juntar Isco a Ronaldo e Benzema no ataque à baliza de Buffon. Privado de Pjanic – que falta fez à campeã italiana – Allegri apostou em Bentancur ao lado de Khedira, em detrimento de Matuidi.

Porém, a estratégia de Allegri começou a ruir ao minuto três, quando o Real Madrid se adiantou por intermédio do suspeito do costume. Nunca, em toda a sua história, a Juventus estivera a perder tão cedo numa partida da Liga milionária.

Por escassos minutos, até ao golo de Ronaldo, a Juventus pareceu querer assumir o controlo do jogo com a bola. Porém, subitamente, a frieza de Kroos, a omnipresença de Casemiro, a inteligência de Modric e a classe de Isco começaram a marcar o ritmo de jogo, engolindo o meio-campo transalpino.

Foi assim durante grande parte da primeira metade.

Os italianos conseguiram sacudir a pressão contrária, graças ao recuo de Dybala. O argentino começou a aparecer nas costas de Casemiro, enquanto Khedira realizava o movimento inverso, aproximando-se de Higuaín. O crescimento da formação de Allegri – que invariavelmente canalizava o jogo ofensivo pela direita - trouxe a primeira verdadeira ocasião de golo, com Keylor Navas a suster o desvio de Higuaín, após livre de Dybala (38’).

Se de um lado era Navas a brilhar, do outro valeu o ferro da trave de Buffon a negar o golo ao alemão Toni Kroos. A Juventus dependia muito do que Dybala conseguia fazer, já que Alex Sandro – a atuar como extremo – tinha dificuldades em dar profundidade e, do lado oposto, Douglas Costa estava uns furos abaixo do que o que já mostrou esta época.

A etapa complementar mostrou uma Juventus ligeiramente diferente. Para melhor, sublinhe-se. Porém, os transalpinos tinham dificuldades em criar verdadeiras situações para igualar a partida. Dybala, de livre, tentou, sem sucesso, camuflar as dificuldades sentidas pela sua equipa.

E, no melhor período da Juve no encontro, apareceu Ronaldo. O português apontou um golo de antologia e praticamente enterrou as esperanças italianas de tirar dividendos da partida e, por conseguinte, da eliminatória. O cruzamento de Carvajal foi bom, mas o gesto técnico, o posicionamento e a preparação de Cristiano roçaram a perfeição. O pontapé de bicicleta só podia acabar no fundo das redes de Buffon.

Um minuto após o 0-2, Dybala viu o segundo amarelo e praticamente convidou o Real Madrid a fechar a eliminatória. As facilidades concedidas pela campeã italiana assustavam e novo golo espanhol era uma questão de tempo. Acabou por ser Marcelo a fechar as contas do jogo, assistido por Ronaldo.

A superioridade do campeão europeu e espanhol foi demasiado evidente e os números do marcador poderiam ter sido históricos. Contudo, Ronaldo (por duas vezes, aos 85' e aos 90') e a trave (a remate de Kovacic, aos 89') impediram um resultado que, porventura, entraria diretamente para os compêndios das derrotas mais pesadas do clube italiano na Europa.

No último suspiro, já com Cuadrado, Mandzukic e Matuidi, o colombiano desperdiçou a melhor ocasião da Juventus na partida, na cara de Navas.