O Liverpool recebeu mais de cinco mil relatos de adeptos sobre os incidentes ocorridos na final da Liga dos Campeões, segundo anunciou esta quarta-feira o diretor executivo do clube, Billy Hogan, que se manifestou «horrorizado» com alguns testemunhos que recebeu.

«É inacreditável. Na terça-feira, cerca do meio-dia, apenas 24 horas após o lançamento do formulário [destinado à recolha de testemunhos dos adeptos], mais de cinco mil foram preenchidos e enviados, o que é verdadeiramente surpreendente», disse Hogan em declarações publicadas nas plataformas do clube.

O diretor executivo ficou «horrorizado com a forma como alguns homens, mulheres e crianças foram tratadas, indiscriminadamente, durante o dia de sábado», antes da final que o Real Madrid acabou por vencer com um golo solitário de Vinícius Junior.

Hogan revelou que se mantém em contacto com a UEFA, mas que, «ainda não existe muita informação neste momento», reafirmando a vontade do clube em apurar tudo o que aconteceu em Paris, não apenas antes do jogo e que levou ao adiamento do início em mais de meia hora, mas também depois.

«Todos vimos as imagens de vídeo, as fotografias, e já li numerosos relatos de experiências horríveis à saída do estádio, crimes a serem cometidos, como roubos. Ninguém deveria ter de passar por aquilo que passaram os nossos adeptos antes e depois do jogo», observou.

O dirigente do clube inglês defendeu que todos esses incidentes devem ser investigados, no inquérito independente às falhas de segurança na final da Champions, cuja abertura foi anunciada pela UEFA na segunda-feira e que será liderado por Tiago Brandão Rodrigues, ex-ministro da Educação de Portugal.

A UEFA promete a «avaliação das tomadas de decisão, as responsabilidades e os comportamentos de todas as partes envolvidas na final» e, para credibilizar o inquérito, chamou o deputado do Partido Socialista (PS) e ex-ministro da Educação - com a tutela da Juventude e do Desporto - dos primeiros governos liderados por António Costa.

No sábado à noite, a impossibilidade de encaminhar em tempo útil os espectadores munidos de bilhete levou ao atraso no início do jogo em 36 minutos, provocando situações caóticas no acesso ao recinto de Saint-Denis, nos arredores de Paris.

Empurrões, tentativas de entrada sem bilhete, adeptos tratados com brutalidade pelas forças de segurança, ou vítimas de roubo, foram testemunhados por quem se deslocou para o jogo. Alguns adeptos não conseguiram mesmo entrar, apesar de, alegadamente, terem bilhetes válidos.

Tanto o governo francês como as autoridades britânicas não pouparam críticas, com o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, a falar de uma «fraude maciça, industrial e organizada de bilhetes falsos» e o governo de Londres a pedir um «inquérito completo» sobre o sucedido, com conclusões públicas.