Após 1010 dias no trono, o reinado europeu do Real Madrid ruiu. Desmoronou-se de forma embaraçosa por culpa de Ajax que chama a si os holofotes do Velho Continente. Os holandeses envergonham o tricampeão europeu (1-4) e garantiram a primeira presença nos quartos de final em 16 anos.

Rei morto, mas não Rei posto. É cedo para dizer até onde pode chegar a formação de Erik ten Hag, embora o mérito de ter roubado a coroa ao Real Madrid ninguém lhe pode tirar. Uma noite histórica para o Ajax que enche de orgulho Rinus Michels e Cruijff.

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O resultado de Amesterdão (2-1) deixava os blancos mais confortáveis para o jogo da segunda mão. Contudo, este Ajax tem uma das melhores gerações dos últimos anos - juntou-lhe alguns jogadores de valor como Blind e Tadic - e demorou apenas 18 minutos a «remontar» a eliminatória. Esse curto espaço de tempo foi o início do uma noite trágica para o conjunto de Solari.

Depois de Varane ter atirado ao ferro (5'), Kroos foi desarmado por um adversário e Tadic aproveitou para lançar o contra-ataque. Ziyech correspondeu na perfeição ao passe do sérvio e atirou cruzado para o 0-1.

Ainda o Real Madrid se recompunha do primeiro golpe, já Neres fugia a Modric na direita, fintava Courtois e celebrava o 2-0. Na génese do lance esteve Tadic (quem mais?). O ex-Southampton «limpou» Casemiro do lance com uma «roleta» - lembras-te de Zidane, Real? - antes de fazer um passe a rasgar a linha defensiva espanhola. Nunca o Bernabéu tinha assistido a dois golos de um adversário na Liga dos Campeões em somente 18 minutos.
 


Pouco depois Neres tentou um golo que faz corar qualquer guarda-redes, mas o chapéu saiu ligeiramente ao lado (23'). Por sua vez, o Real Madrid vivia dos lances individuais, sobretudo de Vinícius. Numa dessas ocasiões, o brasileiro serviu Lucas Vázquez que obrigou Onana a intervenção difícil (24').

Se a noite estava a assumir contornos horrorosos, ficou ainda pior quando Lucas Vázquez e Vinícius forçaram Solari a mexer por volta da meia hora. Com as saídas dos dois extremos por lesão, especialmente a do prodígio brasileiro, as dificuldades do Real Madrid em criar situações de perigo agudizaram-se. Viu-se uma equipa sem fio condutor, sem ideias, enfim, vazia. 

Courtois aplicou-se - e de que maneira - para negar o 3-0 a Ziyech (35'). Tadic abandonava constantemente a zona perto dos centrais, abria espaço para a entrada de van de Beek, confundia e arrastava marcações. Em suma, o Ajax fazia o que queria do Real Madrid.

Os meregues tiveram oportunidade de encurtar distâncias em cima do intervalo, mas a jogada individual de Gareth Bale esbarrou no poste direito da baliza defendida por Onana (43').

Pedia-se muito mais ao Real Madrid no segundo tempo. Benzema deu o mote e, após uma jogada individual, ficou a centímetros de assinar um belo golo (58'). Em pouco mais de dez minutos, essa foi a única jogada digna de registo dos blancos. Curto, muito curto para quem defendia o estatuto de campeão da Europa. Tricampeão, aliás.

Alheio ao número penoso ensaiado pelo adversário, o Ajax construiu o terceiro golo. Tudo começa num lance em que Mazraoui que desarma Reguilón. A jogada prossegue até ao passe de van de Beek para Tadic. O génio do sérvio libertou-se em definitivo quando este atirou ao bola ao ângulo da baliza de Courtois. O Bernabéu ficou em suspenso cerca de quatro minutos para ser preciso - enquanto o árbitro decidia se o lance a bola tinha ou não saído do terreno de jogo aquando do corte de Mazraoui. Após recurso ao VAR, o golo foi validado. Caso contrário, seria uma injustiça tremenda para Tadic.

Asensio ainda reduziu para o Real Madrid num pontapé em arco da entrada da área (70'). Contudo, quando se pensava que os espanhóis pudessem apertar em busca de mais dois golos para seguir em frente, Schone roubou-lhes a coroa. O dinamarquês apontou um golo sensacional de livre direto - embora Courtois não fique isento de culpas - e acabou com o jogo.

O Rei caiu, corado de vergonha. O reinado europeu terminou em tragédia e provavelmente o ciclo de Solari também. Segue em frente o Ajax, um dos bons fidalgos com direito a reclamar o trono.