O FC Porto procura nesta quarta-feira no Dragão dar a volta a um resultado desfavorável fora de casa e seguir em frente na Champions, algo que conseguiu pela última vez há mais de 30 anos. E vindo de uma derrota pesada como foi a de sábado frente ao Benfica, que lhe custou a liderança da Liga a 10 jornadas do fim. Do outro lado está uma Roma a lamber feridas, depois de ter perdido também um jogo crucial, o dérbi com a Lazio. A inspiração de que o FC Porto precisa está nos anos 80, nas únicas quatro vezes em que os azuis e brancos deram a volta a eliminatórias europeias que começaram a perder fora de casa. E o Maisfutebol falou com quem esteve em todas elas.

Foi nele aliás que começou a primeira dessas reviravoltas. Jaime Magalhães marcou os dois golos da vitória sobre os dinamarqueses do Velje na primeira eliminatória da Taça das Taças em 1981/82, um triunfo por 3-0 que anulou o 1-2 da primeira mão. Dois golos a abrir a segunda parte num triunfo selado por António Sousa. «O importante é estar bem física e mentalmente, para fazermos o que normalmente fazemos bem e correr bem. Foi isso que aconteceu», diz. Dos seus golos não se lembra bem. «Sinceramente, não me recordo. Foram muitos jogos.»

Foram mesmo, mais de 400 em 15 épocas no FC Porto. O antigo extremo tinha chegado na época anterior e ficou até 1995. Fez parte da equipa que chegou à primeira final europeia, a Taça das Taças perdida para a Juventus em 1984, e fez parte, claro, da equipa campeã da Europa em 1987. São dessas duas épocas as outras três reviravoltas portistas depois de uma derrota fora. Duas delas na campanha de 1983/84, frente a Dínamo Zagreb e depois Glasgow Rangers, nas duas primeiras eliminatórias, dois triunfos por 1-0 depois de derrotas por 1-2. Nas outras três ocasiões em que começou a perder fora por esse resultado, o dragão não passou.

A última reviravolta em casa aconteceu em novembro de 1986, na segunda eliminatória, frente aos checos do Vitkovice. O FC Porto perdeu em Ostrava por 1-0 e na segunda mão ganhou por 3-0, marcou André logo aos cinco minutos e depois Celso e Futre selaram o apuramento. Nunca mais o FC Porto voltou a virar uma eliminatória que começou a perder fora, em oito ocasiões desde então, a última das quais em 2015/16, nos 16 avos de final da Liga Europa, frente ao Borussia Dortmund.

Em vez de falar numa abordagem especial ou numa preparação diferente para uma eliminatória que se está a perder a meio, Jaime Magalhães diz que o importante é a atitude, a qualidade e a confiança da equipa. «Preparávamos os jogos a ver vídeos da equipa, jogos que tinham feito há pouco tempo, ver como jogavam. Também revíamos o jogo da primeira mão, para melhorar o que tínhamos feito de errado», diz, para voltar à ideia de base: «Tínhamos uma excelente equipa, sabíamos que podíamos dar a volta ao resultado.»

«A equipa tinha que estar bem, era isso. E termos confiança uns nos outros», continua, a reforçar a importância do todo e a salientar a confiança mútua nessa equipa que lançou o FC Porto de dimensão europeia. «Tínhamos mais portugueses que agora. Quando há mais portugueses é mais fácil, os jogadores conhecem-se melhor, são jogadores que já vêm a jogar entre eles. Agora tem muitos estrangeiros. Não faço ideia do que se passa no balneário, mas naquela altura o nosso balneário era extraordinário, o nosso grupo era extraordinário. O nosso presidente até disse isso, a equipa de 1987 foi das melhores que conheceu.»

Eram outros tempos também, reconhece o antigo jogador. Agora é bem mais difícil uma equipa fora dos grandes campeonatos europeus chegar longe na Liga dos Campeões. «Agora é o poder financeiro que manda. Não quer dizer que uma equipa com mais poder financeiro ganhe sempre, mas tem mais probabilidades», observa. Pois, e o Ajax cá está para o provar, depois da fantástica reviravolta que eliminou o Real Madrid nesta terça-feira.

Conseguir dar a volta a uma eliminatória «depende de muita coisa», diz Jaime Magalhães. Mas a derrota no Clássico começa por ser um lastro pesado para o FC Porto, prossegue. «A equipa vem de uma derrota muito má em casa. Agora os jogadores têm de pensar no jogo de amanhã, pensar em fazer melhor perante os seus adeptos, em recuperar a confiança que se perdeu», diz, olhando ainda para o Clássico de sábado passado: «Foi um grande jogo, normalmente é difícil os clássicos serem grandes jogos, mas este foi. Acho que podia ter havido mais golos e que o empate não ficava mal. Mas o futebol é isto, o Benfica está muito bem.»

Para esta noite Jaime Magalhães espera dificuldades para o FC Porto, mas acredita que a equipa pode dar a volta. «A Roma tem uma excelente equipa, certamente que vai causar muitos problemas ao FC Porto, mas esperamos que o FC Porto consiga concretizar as oportunidades que cria, como criou com o Benfica», diz: «O FC Porto tem as suas armas, tudo pode acontecer. Se não correr bem, paciência, temos de olhar para a frente.»

Jaime Magalhães evita recorrer à sua experiência para deixar um conselho ao FC Porto para a decisão desta quarta-feira: «Certamente que o Sérgio Conceição pode ter bons conselhos para dar, ele conhece a casa e é ele quem conhece a equipa.» O campeão europeu de 1987 vai estar fora do país e não assistirá ao jogo no Dragão. Fica a torcer por fora, como mais um adepto.