Festa em Munique, desilusão em Paris, jogaço em Lisboa!

O apito final soa, os jogadores do Bayern correm pelo relvado do Estádio da Luz. Thomas Müller festeja como um adolescente, como se não fosse campeão do mundo ou como se esta fosse a primeira Liga dos Campeões da carreira.

Neuer corre uma milha, quase, para atravessar o campo, os que estão na bancada rompem relvado adentro. São todos os jogadores do Bayern em euforia.

Todos menos um. Alaba fica praticamente onde está. Consola Neymar.

O Bayern Munique é campeão Europeu! E é campeão europeu porque tem dentro de si campeões destes. Homens como Müller, que tem a vontade de vencer como se fosse a primeira vez, tipos como Alaba que reconhecem um campeão que apenas não venceu.

O Bayern Munique é campeão europeu porque também é e foi melhor do que o PSG. Aliás, foi melhor que toda a gente. E se esta foi a vitória mais magra do campeão alemão na prova, há que sublinhar que foi a 11.ª…em 11 jogos de Liga dos Campeões, época 2019/20.

O Bayern atingiu a perfeição no Estádio da Luz. Um palco que viu pela segunda vez uma final da Champions, mas que, sobretudo, deu cenário a um tremendo jogo de futebol.

A história do Bayern Munique trazia-o para esta final como favorito. A época 2019/20 e o facto de a Bundesliga ainda ser melhor que a Ligue 1 também. Por isso, e por estratégia, o Bayern pegou na bola com a concordância do PSG.

Os parisienses queriam explorar, sobretudo o espaço nas costas da defesa bávara. Melhor, o caminho era quase sempre servir Mbappé, Di Maria e Neymar no espaço. Paredes foi o primeiro a descobrir Kylian na esquerda, para a primeira ocasião da noite: Neuer opôs-se a Neymar.

Num jogo de estratégias e perfeitamente visível para quem estava no estádio, o Bayern procurou imensas vezes Coman e Gnabry nos corredores laterais. Kimmich vinha muitas vezes dentro, enquanto Davies vinha pelo flanco também. A isso respondia Tuchel com Herrera a descair para a direita do PSG e tentar travar as subidas do lateral.

O resto era talento e inteligência pura no relvado da Luz, era Lewandowski, também, a atirar ao poste da baliza de Navas, para resposta quase imediata de Herrera…a imaginar um golo de Di María que o argentino atirou para a bancada.

Era um jogo pensado, imaginado por Flick e Tuchel aquele que os jogadores desenvolviam, mas era um jogo com ocasiões de golo: se tem dúvidas, reveja o primeiro tempo. Herrera para fora numa bola parada, Lewandowski de cabeça para defesa de Navas, Herrera criou outra vez, Mbappé desperdiçou. Ocasiões, claro, que trazem emoção. Mas um jogo não vive apenas disso e foi interessantíssimo ver como as equipas se adaptaram ao jogo e, acima de tudo, como alguém como Müller, Alcântara e Kimmich o percecionam.

Foram eles que, já na segunda parte, deram os toques que antecederam o golo que tudo decidiu. Kimmich foi ao meio, recebeu de Thiago e abriu à direita para Gnabry. O extremo colocou no meio e Müller, pressionadíssimo, teve a inteligência de não forçar e um passe atrasado foi, ali, a melhor decisão. De frente para o jogo, Kimmich serviu o golo da vitória que Coman marcou.

Ainda havia uma eternidade de minutos e o do outro lado estavam Mbappé, Neymar e Di María. Tuchel também colocou Draxler, porque o meio-campo estava com dificuldades em alimentar os três da frente. Porque quando o conseguia, senhoras e senhores… se esta Luz já conhecera o talento do argentino, o que dizer de Neymar, mas sobretudo de Kylian Mbappé.

O PSG criou ocasiões para empatar, mas o Bayern é o Bayern. E o que é que isso quer dizer? Quer dizer, por exemplo, que nunca deixou de pressionar, nunca recuou para defender o 1-0 e mostrou à Europa inteira como se ganha uma Champions.

E ela ganha-se com as trocas de Coman e Gnabry  por Coutinho e Perisic para continuar a explorar os corredores laterais, vence-se com Müller a ocupar o espaço de Goretzka se o momento o pedia e vence-se com Manuel Neuer. Um guarda-redes inacreditável.

A Luz viu futebol de outro planeta e um campeão mais do que justo, que chegou ao sexto troféu europeu. O Bayern Munique, o tal que é feito de Alabas e Müllers, peças de uma máquina demasiado perfeita para este mundo de 2019/20.