Que pose, que altivez, que capacidade para se agigantar! Está de parabéns o Dragão. José Mourinho sabia que o FC Porto gosta de ser grande frente aos grandes, mas esta noite foi mais que isso. Foi enorme. 2-1 e liderança no Grupo G da Liga dos Campeões.

A imagem daqueles longos minutos, a caminho do último quarto-de-hora, foram de um Chelsea vulgarizado, a sofrer rombos em todos os pontos da sua defesa. Por momentos, a equipa londrina foi demasiado pequena perante tamanho FC Porto.

Ali surgiu a fase lírica dos dragões, o toque sentimental, aquela variável que transmite encanto a um jogo relativamente matizado. Mourinho não acreditava nessa tentação portista. Mas ela fez-se sentir. Ao lado de um desconcertante Brahimi estavam duas figuras que provocam arrepios na pele azul e branca: Rúben Neves e André André.

Rúben merece, por si só, um capítulo. Há uns meses, nem tinha carta de condução. Agora, com 18 anos, parece um maestro de cabelos brancos a marcar ritmos. Um jogo de homem, de craque. De pura confirmação de talento.

O público do Dragão aplaudiu de pé a sua jóia, ali nascida e criada. Resistiu 77 minutos, sucumbindo a problemas físicos. Pouco depois seria André André, dois nomes e dois golos em jogos grandes. Com coração portista. Depois do clássico frente ao Benfica, a Liga dos Campeões e o Chelsea. Nova ovação coletiva.

Seria injusto reduzir o elogio a estas personagens e esquecer Maxi Pereira, Aboubakar, Imbula (que grande segunda parte!). O cabeceamento de Maicon. E Iker Casilllas. Na noite em que estabeleceu novo recorde de presenças na Liga dos Campeões, fugindo a Xavi, não merecia a pena máxima pelo empate circunstancial do Chelsea, em cima do intervalo.

Reduzir a análise ao desfecho levaria a concluir que Julen Lopetegui superou claramente José Mourinho. Mas não seria totalmente correto. Em abono da verdade, ao cair do pano Marcano cometeu grande penalidade, por mão na bola, em lance com Diego Costa (89m). Essa é a análise objetiva. Mas o FC Porto não merecia vencer? Merecia, seguramente.

As duas equipas desenharam esquemas semelhantes, com alterações de circunstância e declarações de respeito mútuo. Um falso extremo (André André do lado português, Willian no Chelsea), um segundo homem para reforçar a zona à frente da defesa (Rúben Neves no FC Porto, Ramires entre os visitantes). Lopetegui acrescentou Indi, a aposta de risco para o lado esquerdo. Não a perdeu, embora tenha três homens no plantel com rotinas para esse lugar.

A grande dor de cabeça para o FC Porto foi Diego Costa, o regressado, com as reputadas e – ainda assim – imparáveis deambulações para o flanco canhoto. Durante grande parte do jogo, Maicon e seus pares não conseguiram travar a seta do Chelsea. Sozinha recebia, segurava e servia para entradas rápidas. Fórmula simples, de equipa em transição, e não raramente eficaz.

Os dragões entraram melhor, anunciaram ao que iam mas foi Iker Casillas a impedir o golo inglês, após os minutos iniciais, parando remates dos compatriotas Cesc Fábregas e Pedro Rodriguez.

O FC Porto respondeu a partir da meia-hora, tirando partido da clara incapacidade de Ivanovic para anular um desconcertante Brahimi. O primeiro golo surgiria por ali, após bailado argelino, na esquerda para o centro. Begovic adiou, André André apareceu de improviso para recarregar.

Nem tudo era perfeito, ainda assim. Os dragões hesitavam na cobertura defensiva. Uma desatenção foi fatal, em cima do intervalo, com Ramires a aparecer entre Ruben Neves e Imbula para se aproximar da área e conquistar falta, cometida por Danilo.

Casillas gesticulava, berrava, estava desconfortável. Percebeu-se desde logo que não via a bola. E Willian, com classe, tocou-a sem misericórdia para o lado mais distante. O lado do guarda-redes. Não viu, não caiu sozinho, mas caiu. Naquele momento, Iker Casillas falhou.

O Chelsea teve mais, criou oportunidades antes e depois, mas para a história ficará uma entrada soberba do FC Porto na etapa complementar. De novo Brahimi, agora a receber de Indi e a conquistar um canto. Seguiu-se o laboratório, o desenho perfeito, Maicon a fugir do guarda-redes e a desviar após cruzamento bem medido de Rúben Neves. De novo o FC Porto na frente.

Diego Costa responde, atira ao ferro, quer resolver a questão sozinho. Hazard, mais tarde, atira às malhas laterais. Mas tudo o resto é um imenso azul e branco em torno da baliza de Begovic, uma demonstração de força, de classe, de querer. O anúncio de um terceiro golo que não surgiu.

Nesse período foi gritante a falta de segurança defensiva deste Chelsea, com uma linha dividida entre o final do prazo de validade e a urgente renovação.   Danilo Pereira cabeceou ao poste, entre vários ensaios.

Julen Lopetegui geriu esforços, tirou as unidades com maior rendimento e maior desgaste – Rúben Neves por incapacidade física, depois André André e Brahimi - , Mourinho já tinha respondido com Hazard, antes de Matic e Kenedy.

O Chelsea despediu-se com um cerco à baliza portista e a clara ameaça do empate. Não escandalizaria nem seria justo para o que o FC Porto fez ao longo da noite. Um Dragão para lá de grande. Enorme.