Sevilha, Gelsenkirchen, Madrid, Solna e agora Tirana. José Mourinho vai jogar a sua quinta final europeia, à procura de se tornar o primeiro vencedor da nova Liga Conferência e o primeiro treinador a vencer as três competições europeias. Ganhou todas as outras, excluindo das contas a Supertaça Europeia, um jogo único que nunca venceu. É hoje um Mourinho muito diferente do que aquele que há duas décadas se revelou ao mundo, trazendo uma abordagem global ao jogo que passava também, muito, pelo que dizia à frente dos gravadores e dos microfones.

A forma como fez da sala de imprensa uma extensão do campo de jogo foi sempre uma das suas imagens de marca. Logo em 2003, Mourinho assumia que jogar com as declarações públicas era uma parte importante da sua estratégia. «É evidente que a comunicação social é, para nós, um veículo fantástico de comunicação e de influenciar as opiniões dos outros, os sentimentos, até os níveis de confiança dos outros», dizia em entrevista ao Público antes da final de Sevilha.

É pois pela voz de José Mourinho, desses «mind games» que o tornaram famoso, que o Maisfutebol revisita as quatro finais do treinador português mais bem sucedido de sempre. A primeira e especial vitória na Taça UEFA, o incrível triunfo um ano depois na Liga dos Campeões com o FC Porto, a tensa conquista com o Inter em 2010 e a já bem menos mediática Liga Europa ganha com o Manchester United.

Pelo caminho, Mourinho perdeu o efeito novidade, sofreu grande desgaste mediático e também anda longe dos títulos: a final da Liga Europa de 2017 foi o seu último troféu. Mas não perdeu por completo o toque. E continua a dar bons títulos de jornal. Como aquele que deixou quando se apurou para a decisão da Liga Conferência, a terceira competição da UEFA: «É a final mais importante da minha carreira, quisemo-la muito. Já joguei as outras, esta ainda não foi jogada e quero ganhá-la.» Foi um objetivo assumido desde cedo na época, disse também em entrevista à UEFA: «Sou um treinador com história e a Roma é um grande clube. Senti um pouco de responsabilidade em tentar fazer da primeira edição do torneio um evento para recordar.»

Na véspera da decisão com o Feyenoord, Mourinho disse que hoje, aos 59 anos, pensa menos em si próprio. Mas também garantiu que vai viver a final desta quarta-feira como se fosse a primeira. Porque, para o ano, quer «pensar em coisas maiores».

21 maio 2003

FC Porto-Celtic, 3-2 ap

Final Taça UEFA

Estádio Olímpico Sevilha

A 24 de abril de 2003, o FC Porto empatava sem golos com a Lazio, fazia valer o épico 4-1 da primeira mão e apurava-se para a final da Taça UEFA. José Mourinho não estava lá junto ao relvado do Olímpico de Roma, aquela que é hoje a sua casa. Tinha sido expulso no jogo da primeira mão depois de uma altercação com o argentino Castroman junto à linha por causa de um lançamento. Viu então o jogo na bancada, vigiado por um funcionário da UEFA e entre André Villas-Boas e Lima Pereira, que enviavam discretamente indicações para o banco. Chegava assim à primeira final europeia como treinador principal, ele que em 1997, como adjunto de Bobby Robson, já tinha festejado a conquista da Taça das Taças pelo Barcelona.

No dia seguinte, antecipava pela primeira vez a final de Sevilha

«Os adeptos escoceses bebem mais cerveja que os portugueses, mas a alegria de estar em Sevilha é a mesma. Vai ser um ambiente fantástico. Vai ser uma final muito aguerrida entre duas equipas que querem ganhar. Fomos educados para ganhar. Se eu um dia chegasse ao balneário e dissesse que íamos jogar para defender, eles expulsavam-me.»

E deixava uma primeira alfinetada a Martin O’Neill, o treinador do Celtic, que tinha dado o FC Porto como favorito:

«Ele é esperto, mas eu não sou estúpido.»

 

A 4 de maio, o FC Porto sagrava-se campeão nacional e a partir daí o foco era a final de Sevilha.

«Vamos com tudo, quer a nível táctico como a nível psicológico. Vamos jogar nos limites e fazer o jogo das nossas vidas.»

Dias mais tarde desdobrava-se em declarações no Media Open Day de lançamento da final.

«Numa final não há favoritos. Se jogasse contra o Real Madrid, não aceitava que dissessem que o Real era favorito.»

A preocupação era a condição de Derlei

«Vou colocar Derlei numa redoma para nem a gripe lá chegar. Se o Derlei se lesionasse frente ao Varzim mandavam-me embora.»

Já em Sevilha, na véspera da final, Mourinho falou durante 45 minutos na sala de imprensa, em português e em inglês. De caminho deu a equipa, mas só nove dos onze titulares

«A decisão já foi feita e não vou esperar por amanhã, posso ter uma má noite.»

Os nove eram Baía, Paulo Ferreira, Jorge Costa, Ricardo Carvalho, Nuno Valente, Costinha, Deco, Maniche e Derlei. «Para o ataque há quatro soluções, contando com Derlei, que são Marco Ferreira, Jankauskas e Capucho.» Ainda havia Alenichev, que jogou de início. Sem Postiga, castigado, a peça que completou o puzzle foi Capucho, para um FC Porto que tinha treinado o sistema 4x4x2, «em treino – no maior secretismo – contra a equipa B», contou depois no livro «José Mourinho», de Luís Lourenço, editado logo no fim dessa época.

Disse que estava tranquilo, e até ponderava dormir a sesta antes do jogo

«Acho que estou a viver este jogo com menos tensão e mais alegria do que qualquer outro jogo normal. Temos duas ou três horas livres no programa e acho que vou conseguir (dormir a sesta). Não é brincadeira, eu faço-o mesmo.»

Disse mal do estado do relvado e puxou dos galões. Não disse ainda que era «Especial», isso estava reservado para daí a um ano na apresentação no Chelsea, mas respondeu assim, a garantir que não ia adaptar o sistema tático para a final:

«Martin é um bom treinador e, desculpem, no meu país estão sempre a dizer que sou arrogante, mas também sou um bom treinador. Nós não fazemos isso. Jogamos com a nossa filosofia, o nosso estilo, com os melhores jogadores, por isso não haverá surpresas.»

A final foi épica, marcada pela lesão de Costinha logo de início, pela tensão e pelo golo de um Derlei nos limites físicos a fixar o 3-2. No final, Mourinho saudou assim os jogadores:

«Esta foi uma equipa construída do nada, constituída por jogadores pobres em dinheiro e em títulos, mas ricos em qualidade e em ambição. Um ano depois ganharam o campeonato e a Taça UEFA e estão um bocadinho mais ricos. A administração que se cuide porque os prémios vão ser grandes.»

Também respondeu ao treinador do Celtic, que acusou o FC Porto de fazer anti-jogo

«Ele queixa-se, mas se algum treinador tem razão de queixa sou eu. Aquilo que o Balde fez ao Deco, mesmo em frente ao nosso banco, não é amarelo, é vermelho direto. É uma entrada que podia pôr em perigo a carreira do Deco.»

A festa fez-se de Sevilha até ao Porto e já de madrugada, nas Antas, Mourinho revelou o que tinha dito aos jogadores, uma das frases que ficou para sempre

«Antes do jogo disse aos meus jogadores que as finais são para se ganhar, não para se perder.»

26 maio 2004

Mónaco-FC Porto, 0-3

Final da Liga dos Campeões

Arena Aufschalke, em Gelsenkirchen

Depois da conquista da Taça UEFA, José Mourinho tinha apontado mais alto. «A minha grande ambição é a Liga dos Campeões na próxima época», dizia na ressaca de Sevilha: «Podemos ganhar a qualquer adversário.» E o FC Porto foi ganhando. Houve o louco empate em Manchester, depois o Lyon e a meia-final com o Deportivo. Ao nulo no novo Estádio do Dragão seguia-se a decisão no Riazor e Mourinho, por essa altura já nas bocas do mundo e insistentemente associado ao Chelsea, deixava mais uma mão cheia de títulos na sala de imprensa.

«Quando há duas equipas empatadas a zero qualquer uma delas acredita que vai estar na final. Só que há uns que são calculistas e não o dizem e há outros, como eu, que são malucos e dizem-no.»

Derlei marcou o golo que pôs o FC Porto na final e depois do jogo Mourinho, bombardeado com perguntas sobre o futuro, respondia assim:

«Sou profissional. O que quero mais na minha vida é ganhar esta final.»

Ele que até tinha viagem marcada para Londres no dia seguinte, para ver a meia-final entre Chelsea e Mónaco

«Vou lá como inimigo e não acho que os inimigos sejam bem recebidos. De qualquer das formas vou levar guarda-costas.»

Também puxou dos galões sobre a forma como preparou o jogo

«Uma coisa absolutamente marcante que aconteceu neste jogo é que vai estar no capítulo do novo livro é que tínhamos previsto estar a ganhar e tínhamos previsto que o Tristán seria a substituição para segundo ponta-de-lança. Mudámos em dois segundos. A forma como previmos isto só é possível com trabalho.»

No Media Day de antevisão da final Mourinho voltou a dar show, disponível ao longo de hora e meia para falar em português, inglês ou espanhol com jornalistas que chegaram de todo o mundo.

Falou de tudo e também de um dos temas do momento, a ausência de Vítor Baía da convocatória de Scolari para o Euro 2004

«O que falta ao Vítor Baía numa carreira tão fantástica é levantar uma Taça dos Clubes Campeões Europeus»

Ou sobre o facto de o Mónaco ter Ibarra, jogador que tinha saído do FC Porto

«O que para mim seria um drama, seria eu ter prescindido do Ibarra e ter trazido para o F.C. Porto um jogador foleiro. Eu prescindi do Ibarra e trouxe para o F.C. Porto um jogador que na minha opinião é o melhor lateral-direito do mundo»

Depois, o FC Porto viajou para a Alemanha. Em Gelsenkirchen, a conferência de imprensa da véspera do jogo, para a qual Mourinho levou Secretário, um símbolo do FC Porto a viver o final da carreira, voltou a ser marcante.

Dessa vez não abriu jogo sobre o onze

«Se conseguirem que o Deschamps diga onde o Giuly vai jogar, eu dou-vos a minha equipa.»

Depois da vitória na final, disse que desta vez tinha aliás decidido o onze há muito tempo

«Decidi há um mês, depois da Corunha. Foi a primeira opção, a primeira ideia que tive quando vi o F.C. Porto na Corunha e o Mónaco com o Chelsea, ficou muito claro.»

Falou sobre a dificuldade da escolha do onze

«Tive das piores sensações da minha carreira como treinador ao fazer esta convocatória. Foi doloroso ter que deixar jogadores de fora, ter que fazer uma escolha para um jogo que toda a gente quer jogar e doloroso também dizer jogam estes 11 e vocês ficam no banco e vocês os dois vão ficar na bancada. Compartilhar esta sensação é o maior tributo que posso fazer ao meu grupo.»

Também deixou outra das suas ideias fortes de sempre no discurso para a equipa

«Os jogadores já estão cansados de ouvir porque eu digo sempre antes de jogos grandes: não se ganham jogos grandes sem controlar as emoções.»

Quanto ao favoritismo, variou um pouco o discurso

«As finais são sempre 50/50 e só o meu médico, o Dr. Nelson Puga, me obrigou quase a dizer que é 51/49, porque não conseguia dormir ontem se não o dissesse, e eu disse: OK, doutor, são 51 para nós e 49 para eles.»

Defendia ainda que FC Porto e Mónaco, por serem finalistas inesperados, tinham mais responsabilidade em fazer um bom jogo

«Devemos um tributo ao futebol, às pessoas que adoram futebol em todo o Mundo. Acho que o Mónaco e o F.C. Porto, especialmente porque esta não é a final por que todos esperavam, devemos jogar bom futebol e uma boa final. Não digo que vou jogar com a porta aberta à espera de proporcionar um jogo espetacular com um resultado de 5-4. Há espetacularidade no jogo tático.»

Contornou, claro, várias questões sobre o Chelsea, um «assunto privado». E deixou uma mensagem pessoal no fim da conferência

«Eu não quero ser o melhor treinador, quero ser o melhor pai. Quero muito aquela Taça, muito, muito, muito, mas mais do que isso quero a minha família, a minha mulher, os meus filhos, a alegria da minha família.»

O FC Porto ganhou, os golos de Carlos Alberto, Deco e Alenichev tornaram o sonho realidade. O FC Porto levantou a Taça e Mourinho quase não se viu nos festejos no relvado.

«A minha mulher e os meus filhos estavam à espera no túnel e eles são muito mais importantes do que as celebrações. Preferi chorar com eles do que chorar sozinho.»

 

Logo na zona de flash interviews, assumiu que queria sair do FC Porto e ir para Inglaterra. E deixou uma frase sobre o seu legado que se relevou profética até hoje

«Podem-se esquecer, podem fazer aquilo que quiserem. Agora, quando daqui a 100 anos, perguntarem quais foram os treinadores portugueses que foram campeões europeus, o meu nome vai lá estar. E quando perguntarem qual foi o único que ganhou Taça UEFA e Liga dos Campeões, o meu nome vai estar lá sozinho.»

Na sala de imprensa, contou quais as últimas palavras que disse aos jogadores

«Este dia nunca o iremos esquecer, havemos de ser velhos e contá-la aos filhos e aos netos. É melhor ficar com uma recordação eterna do que um sabor amargo, uma sensação estranha para o resto da vida.»

Ainda em Gelsenkirchen, falou sobre o queria para o seu futuro

«Há grandes treinadores que em 30 anos ao mais alto nível nunca tiveram esta oportunidade, é fantástico. Mas se me disserem que daqui por 10 anos só tenho estes títulos ficarei muito triste.»

22 maio 2010

Bayern Munique-Inter, 0-2

Final da Liga dos Campeões

Estádio Santiago Bernabéu, em Madrid

Deixou o FC Porto, levou o Chelsea a outro patamar, mas em Londres não conseguiu voltar à final da Liga dos Campeões. Seguiu-se Itália e foi no Inter que regressou ao grande palco, de novo para ganhar. Na primeira época foi campeão italiano, na segunda ganhou tudo: além da Champions, venceu o campeonato, discutido até à última jornada com a Roma, e a Taça de Itália, ganha também à Roma, por sinal um dos seus alvos preferenciais por esses dias em Itália. Ficou famosa uma das suas conferências, na época anterior, a zurzir os rivais, incluindo a Roma e os seus «zero titoli».

Foi no Camp Nou que o Inter garantiu a presença na final, depois de uma tensa meia-final com o super Barcelona de Pep Guardiola e companhia, campeão europeu em título. O exuberante festejo de Mourinho a correr pelo relvado após o fim do jogo, com Valdés a tentar impedi-lo, correu mundo.

O Barcelona até ligou os aspersores no final para boicotar a festa do Inter, mas Mourinho não levou a mal

«Quem ganha muito não sabe perder. Eu sou um péssimo perdedor, por isso, da minha parte não há problema algum.»

Criticado uma vez mais pelo estilo defensivo depois de Barcelona, Mourinho reagia assim:

«Se acham que são a melhor equipa do Mundo, não precisam do Busquets no chão a piscar o olho ao Guardiola, de fogo de artifício no hotel até às 4 da manhã, do autocarro demorar uma hora a chegar ao estádio quando devia demorar cinco minutos.»

Também visou Van Gaal, de quem fora adjunto em Barcelona, e que iria ser o seu rival na final da Champions. O então treinador do Bayern Munique disse que não teria festejado como Mourinho festejou no Camp Nou e ele respondeu:

«Eu também não teria feito muita coisa que ele fez. Como ser corrido do Barcelona, voltar depois e ser corrido novamente. Uma vez chega.»

Apesar do sucesso, a relação de Mourinho com o futebol e a imprensa italiana estava muito desgastada. Hipocrisia, dizia, já com a saída para o Real Madrid em cima da mesa

«Vêm ter comigo, dão-me uma palmadinha no ombro, esboçam-me um sorriso e dizem-me que sou o melhor. Isto à minha frente. Porque quando viro costas atacam-me. Se for preciso ainda me pedem um autógrafo e tiram uma foto comigo.»

O título italiano foi assegurado uma semana antes da final. Depois da conquista, Mourinho admitia que dificilmente ficaria em Itália e dizia-se preocupado… com o vulcão. Foram os dias em que a erupção do vulcão islandês Eyjafjallajökull condicionou o tráfego aéreo por toda a Europa.

«É completamente diferente de 2004, mas a emoção será a mesma. Levar um grupo de jogadores em que, quase todos, estão pela primeira vez na final. Mas o cuidado maior é saber se o vulcão nos deixa ir tranquilos na sexta-feira ou se temos de ir mais cedo, ou de comboio. Esse é o primeiro problema.»

Por causa disso, o Inter viajou para Madrid quatro dias antes da final. Na antevisão da final, além de bombardeado com perguntas sobre o Real Madrid, Mourinho ainda deixou mais uma alfinetada a Van Gaal, que tinha criticado o estilo defensivo do Inter, apesar de assumir a boa relação com o holandês.

«Ele não viu muitos jogos do Inter, o que é uma contradição do tempo em que estivemos juntos no Barcelona. Nós víamos dez jogos ou mais dos nossos adversários e parece-me que ele só viu o Barcelona-Inter, o que é bom.»

Também deixava outra provocação ao rival

«Sei que o Bayern preparou um casaco, tal como o Mónaco tinha preparado uma camisa, mas nós ainda não preparámos nada. Nós não temos camisola preparada, autocarro preparado, camisola a dizer que são campeões europeus. Eles têm isso tudo.»

 

Sobre a forma como o viam em Portugal, foi pragmático

«Alguns portugueses querem que eu ganhe, outros querem que perca. Os que não estão comigo não represento. Só represento os que estão comigo.»

E falava sobre o futuro, em jeito de despedida de Itália

«Não estou em posição de dar conselhos. Mas se alguém quiser ouvir é: não passem uma carreira inteira no mesmo país. Mudar de país enriquece o treinador, este aprende a ser melhor. Sou um privilegiado. Amei esta carreira. O futebol italiano fez-me sentir um melhor treinador, sem dúvida.»

O Inter venceu o Bayern Munique com um bis de Milito e no final José Mourinho cedeu à emoção.

Celebrou com o filho, levou uma bola debaixo do braço para receber a medalha, deu um abraço sentido a Javier Zanetti e outro a Materazzi. No fim, assumia o Real Madrid como destino.

«Os desafios difíceis motivam-me, se calhar é por isso que tenho estes cabelos brancos, mas motivam-me.»

24 maio 2017

Ajax-Manchester United, 0-2

Final da Liga Europa

Friends Arena, em Solna

Passaram sete anos, Mourinho passou três épocas no Real Madrid, voltou ao Chelsea, voltou a sair e no verão de 2016 regressou a Inglaterra, para treinar o Manchester United. Começou por vencer a Supertaça de Inglaterra, também ganhou a Taça da Liga e chegou à final da Liga Europa, mas no campeonato o United afundou-se no sexto lugar.

Mourinho, no entanto, fez questão de manter o foco na Liga Europa e naquele que era, lembrava, o único título europeu que faltava ao Manchester United. Foi nesse contexto que lançou, por exemplo, a decisão da meia-final com o Celta Vigo:

«Na minha maneira de ver, é o jogo mais importante da nossa história.»

Um empate feliz (1-1) em Old Trafford, depois da vitória por 1-0 na primeira mão, apurou o United. No fim, Mourinho celebrou com o filho e admitiu que o United teve sorte

 «Cabelos brancos já não há mais, já são todos. As meias-finais são duras, estes últimos minutos foram duros, os últimos minutos do Inter em Barcelona também foram duros. Também já perdi nos penaltis, também já perdi com golos que não entraram, num Chelsea-Liverpool. Muitas vezes é uma lotaria e hoje fomos uns sortudos.»

Na reta final da época, Mourinho queixava-se do excesso de jogos, mas por essa altura os seus «mind games» já era desmontados pelos rivais. «O mestre dos jogos mentais não tem direito de reclamar», dizia o treinador do Ajax, Peter Bosz: «Se olhar para as equipas iniciais que tem apresentado toda a temporada, então ele está a jogar quase com duas equipas diferentes. Uma para a Liga Europa e outra para a Premier League.»

Na última jornada da Premier League, três dias antes da final da Liga Europa, uma vitória de um United alternativo sobre o Crystal Palace selava tristemente a época interna. E Mourinho não era definitivamente o centro das atenções. Esse dia teve dois momentos surreais. Na flash, Mourinho limitou-se a dizer que tinha uma final para jogar e foi-se embora.

«Deixem-me ir. Estou na final.»

Na sala de imprensa, onde chegou logo que o jogo terminou e estavam apenas três ou quatro jornalistas, esteve… 10 segundos.

Depois, um acontecimento trágico em Manchester ofuscou a final: o atentado terrorista, num concerto de Ariana Grande, que causou 22 mortes e dezenas de feridos. Em sinal de respeito, o United cancelou a conferência de imprensa da véspera do jogo.

Mourinho limitou-se a deixar algumas declarações no site oficial do Manchester United.

«Estamos todos muito tristes, mas temos um trabalho a fazer»

O Manchester United venceu o Ajax, Mourinho venceu a sua segunda Liga Europa e festejou como se fosse a primeira. Logo no relvado com um exuberante abraço ao filho, em que acabaram os dois no chão.

No final, falava assim sobre a importância da vitória

«Foi o fim de uma época muito difícil, mas muito boa. Preferimos assim do que ficar em 2º, 3º ou 4º. Conseguimos o objetivo de voltar à Liga dos Campeões vencendo um título, um título importante, que fecha o palmarés do Manchester United, o clube passa a ter todos os títulos do futebol mundial»

E deixava uma alfinetada ao romantismo, personalizado no Ajax

«Há muitos poetas no futebol mas poetas não ganham muitos títulos. Sabíamos onde eles eram melhores que nós, sabíamos onde nós éramos melhores que eles, tentámos anular as suas qualidades e explorar as suas fraquezas.»