FIGURA: Bernardo Silva
Sublime no primeiro tempo, decisivo no segundo, relevante do princípio ao fim. É o cérebro de toda a operação no golo de Guedes, o homem que manipula a marioneta e a obriga a comportar-se da forma que ele quer, da forma que ele manda. Quando a bola lhe beija o pé esquerdo, senhores, é o prazer máximo num relvado de futebol. É inteligência, é o pensar dois momentos antes dos outros, é o idealizar e representar um filme só seu. Partiu quase sempre da direita, ao contrário do que acontecera contra a Suíça, e Portugal ficou a ganhar.

MOMENTO: Gonçalo Guedes, um golo para a eternidade
Época irregular em Valencia, aparentemente condenado a um papel secundário na seleção e de repente… decide uma competição europeia de seleções. A combinação com Bernardo Silva é perfeita, o remate é forte e a promessa de eternidade está sublinhada e rubricada. Não decidiu muitas vezes bem, esse é aliás um dos seus maiores defeitos, mas compensou com vertigem e entrega. Ah, e um golo, claro.

MENÇÃO HONROSA: Rúben Dias
Enorme! Nestas análises, o foco cai muitas vezes sobre os elementos criativos e ofensivos, e nem sempre de forma absolutamente justa. Rúben merece uma nota tão alta como Bernardo e Bruno Fernandes. Não perdeu um lance, roubou Bergwijn num um para um perigosíssimo no primeiro tempo, não teve medo de ter bola e afrontar De Roon no segundo. Agressivo, bruto e muito acertado. Enorme exibição.

Outros destaques

Bruno Fernandes
Agora sim, versão oficial e aproximada do Bruno do Sporting. Muito acima da exibição introvertida, até desconfiada, feita contra a Suíça. Mais em espaços interiores, como gosta, mais critério no passe e a arriscar num dos seus aspetos mais fortes: o remate de fora da área. Obrigou Cillessen a uma defesa concentrada no final do primeiro tempo e falhou o alvo noutro par de ameaças. Elegante na receção, dinâmico na condução de bola, inteligentíssimo na entrega. Um craque de horizontes amplos, um craque a pedir novos mundos.

Rui Patrício
Na noite em que se tornou o mais internacional de sempre nas balizas de Portugal, destronando Vítor Baía, Patrício teve uma exibição irrepreensível. Depois do golo de Gonçalo Guedes e da reação natural da Holanda, parou tudo o que podia, até um cabeceamento de Memphis Depay que parecia condenado ao golo.

Cristiano Ronaldo
É raro não ter o nome de Cristiano no topo da página, mas nem todas as noites podem ser prodigiosas. O seu oásis de fecundação da passada quarta-feira colocou Portugal nesta final, mas a mudança para 4x3x3 deixou-o mais preso nos centrais contrários. A equipa subiu tremendamente de nível, Ronaldo esteve menos em jogo. Não jogou mal, não foi egoísta, mas rematou e arriscou menos.

William e Danilo
Torres gémeas no controlo do tráfego do setor intermediário. William prioritário na saída de bola, Danilo essencial no processo defensivo e ocupação de espaço. Tão diferentes e tão compatíveis, opostos atraídos à mesma causa e ao mesmo sentido do jogo. Mais duas grandes exibições.

Semedo, Fonte e Guerreiro (mais Rafa, Moutinho e Rúben Neves)
Não houve nenhuma atuação negativa na Seleção Nacional e seria tremendamente injusto não mencionar nestes destaques todos os nomes desta conquista. Nelson Semedo fez um primeiro tempo confiante, muito ofensivo e ainda ameaçou Cillessen perto do fim (85 minutos). José Fonte fez esquecer Pepe e só errou uma vez no segundo tempo. Raphael esteve muito em jogo, atacou bastante e provou ser o melhor português na lateral esquerda. Rafa Silva levou velocidade para os contra-ataques e João Moutinho mais qualidade na gestão da bola. Rúben Neves já entrou nos descontos.

Frenkie De Jong
Monstruoso contra Inglaterra, apenas cumpridor ante a Seleção Nacional. Não sabe jogar mal, tamanha é a sua qualidade e inteligência, mas não teve a influência de outros jogos no Ajax e na Holanda. Uma boa notícia para Portugal.

De Roon e Van de Beek
Com De Jong, e mesmo Wijnaldum, com menos bola e inspiração, a Holanda viveu primeiro da intensidade do médio da Atalanta e mais tarde do entusiasmo do jogador do Ajax. A boa reação ao 1-0 de Guedes teve-os como protagonistas.

Van Dijk
Assobiado desde o primeiro minuto pelo Dragão – não percebemos os motivos -, o central foi implacável nos duelos físicos, pela relva e pelo ar, e provou que é mesmo um dos melhores do planeta na função. Nada podia fazer para parar Bernardo/Guedes no golo português.