Duas boas ideias na Seleção Nacional portuguesa.

1. Cristiano
2. Ronaldo

O avançado, sempre o avançado, em tudo o de bom o que Portugal fez. Três golos no Dragão, um de livre direto exemplar, outro num pontapé de primeira já aos 88 minutos e outro ainda num remate em arco à procura do poste mais distante.

Por mais nomes que andem no ar, Cristiano é ainda o dono disto tudo. Faz golos, desequilibra e disfarça uma crise de identidade (ou de ideias, lá está) da seleção campeã da Europa.

Foi mais uma noite de excelência para a carreira do melhor português de sempre. Depois de sustos e problemas, teve de ser ele a acalmar um extraordinário povo nortenho e a dizer «eu estou aqui». Sim, podemos contar com Cristiano Ronaldo.

Ah, não nos esquecemos da terceira boa notícia da noite. Há 2423 dias que Portugal não fazia um jogo oficial no Estádio do Dragão. Uma situação difícil de entender, atendendo à beleza da estrutura e ao entusiasmo único e granítico destas gentes. A rever.

Para Cristiano, já o referimos, o paraíso esteve na baliza de Sommer. É impossível não fazer da exibição do menino da Madeira a manchete desta meia-final da Liga das Nações, mas também não seria sério, muito menos honesto, afirmar que o hat trick foi consequência da superioridade e da qualidade de Portugal.

Não foi.

FICHA DE JOGO E O PORTUGAL-SUÍÇA AO MINUTO

Estrada Perdida, lembram-se? Os créditos finais percorrem o grande ecrã, o espetador coça a cabeça e fica sem perceber o filme de David Lynch. Qual a ideia do realizador? Qual o propósito daquelas duas horas de película? Atores de excelência, argumento… sem sentido.

A lógica aplicada a Lynch encaixa milimetricamente no plano de jogo de Fernando Santos. Qual a ideia maior do selecionador nacional? Existirá, por certo, mas não a percebemos.

Num coletivo pejado de executantes de excelência (Bernardo, Bruno Fernandes, o estreante Félix, Rúben Neves), o que se exigia era ter controlo absoluto da bola, exploração do espaço interior, movimentações imprevisíveis, busca constante da baliza.

Na realidade, porém, o losango desenhado no gabinete do engenheiro mostrou-se tenso e inflexível. Em posse, a seleção saía essencialmente no passe longo de Rúben Neves e na receção orientada de Cristiano, partindo depois para a busca de qualquer coisa interessante.

William como médio interior esquerdo é uma ideia… rebuscada, para sermos simpáticos; encostar Bruno Fernandes à direita e meter Bernardo na posição-10 também não resultou. Previsibilidade, incapacidade de domar o jogo em posse, dificuldades na reação à perda.

A Suíça ameaçou num pontapé de Seferovic à barra e empatou num penálti revisto pelo árbitro, alertado pelo VAR. Um penálti que anulou, ironicamente, uma grande penalidade assinalada a favor de Portugal. Excentricidades do futebol tecnológico.

DESTAQUES DO JOGO: Ronaldooooo!

Com 1-1 no marcador e meia-hora por jogar, a partida entrou em ritmo de navegação em alto mar, com domínio repartido e a promessa de prolongamento. Com William a jogar mais por dentro e Bernardo a cair na direita, Portugal melhorou, sim senhor. Poucochinho. 

Fernando Santos lançou José Fonte no lugar do lesionado Pepe, tentou agitar com Gonçalo Guedes em vez de João Félix, mas a resposta estava no lugar mais óbvio e na melhor ideia da Seleção Nacional.

Perdão, nas duas melhores ideias do futebol da Seleção Nacional.

1. Cristiano
2. Ronaldo  

Seja como for, Portugal está na final da Liga das Nações. Domingo, neste mesmo palco, terá de jogar mais, jogar melhor e de ter um plano diferente. Mais atraente, mais convincente.

Cristiano não dura sempre.