O tweet da página oficial da Roma diz tudo, sem dizer quase nada. Percebe-se o «Daje», a expressão romana para «Força», o resto é êxtase.

Enquanto as expectativas se centravam em Manchester, a ver se o City conseguia a reviravolta frente ao Liverpool - não conseguiu - em Roma acontecia História. Um, dois, três golos e os italianos deram mesmo a volta ao Barcelona. Nunca antes tinha acontecido os catalães, que partiam do alto da vitória de 4-1 na primeira mão, ficarem pelo caminho quando levavam três golos de vantagem para a decisão de uma eliminatória europeia. E foi apenas a terceira vez que uma equipa deu a volta a uma desvantagem de três golos na primeira mão na era Liga dos Campeões. A grande história desta Champions.

A Roma, que já tinha virado a eliminatória dos oitavos de final frente ao Shakhtar Donetsk de Paulo Fonseca, fez o que poucos esperavam, sobretudo depois da noite de pesadelo em Barcelona há uma semana. Com um daqueles volte-face que torna o futebol mágico. Foram De Rossi e Manolas, que tinham marcado na própria baliza no Camp Nou, a selar agora a «remontada». Incrível.

O grego fez o 3-0, o golo que colocou a Roma na frente da eliminatória a oito minutos do final, e a expressão dele diz tudo.

Noite de sonho para todos os romanos, a começar por este. Mesmo que o maior feito europeu das últimas décadas da Roma tenha acontecido na época depois de ele ter dito adeus.

O Barcelona, que na época passada conseguiu a maior reviravolta da história da Champions, o 6-1 ao PSG depois da derrota por 4-0 na primeira mão dos oitavos de final, prova agora do seu próprio veneno.

Essa foi mesmo a maior «remontada» da história da Taça dos Campeões Europeus. Em 2003/04 o Deportivo da Corunha tinha anulado de resto uma desvantagem de 4-1 frente ao Milan para vencer por 4-0 na segunda mão dos quartos de final. Antes, no tempo da Taça dos Campeões Europeus, aconteceu mais vezes. Há vários exemplo, incluindo uma vitória épica do Real Madrid frente ao Derby County em 1975, vitória por 5-1 na segunda mão depois de ter perdido a primeira por 4-1.

A Roma entra direitinha para o pódio desta história. Contra as probabilidades, frente a um super favorito. Um Barcelona que não passa os quartos de final desde a conquista da competição em 2014/15, quando venceu a Juventus.

É apenas a segunda presença da história da Roma nas meias-finais, a primeira aconteceu em 1984, no ano de estreia dos italianos na então Taça dos Campeões Europeus. Foi há 34 anos e a Roma chegou então à final, perdida para... o Liverpool.

Liverpool que cá está outra vez, depois de ter confirmado o arraso da primeira mão ao Manchester City (3-0), com uma vitória por 2-1 esta noite. Um apuramento notável, ainda que neste caso não possamos propriamente falar de Davids e Golias.

O salto que Guardiola não deu e as ironias

O Liverpool tem andado arredado das decisões nos últimos anos, mas tem enorme «pedigree» europeu e cinco Taças dos Campeões Europeus no cinto, ainda que apenas uma delas na era «Champions». Venceu a competição em 2005, naquela final épica da reviravolta frente ao Milan, e foi à final dois anos mais tarde, numa repetição que sorriu dessa vez aos italianos. A última presença nas meias-finais foi há dez anos, quando foi eliminado pelo Chelsea.

Podia não ser apontado como favorito à partida, mas tem de muito longe aliás melhor palmarés que o Manchester City, que a nível europeu soma como único título a Taça das Taças de 1970 e passou pela primeira vez os quartos de final da Champions, já na era dos milhões árabes, em 2015/16, quando chegou às meias-finais e acabou eliminado pelo Real Madrid.

Guardiola ainda não conseguiu dar o salto de estatuto com o Manchester City. Ele que nas primeiras sete presenças na Liga dos Campeões ganhou duas vezes, com o Barcelona, e chegou a mais cinco meias-finais, duas com os catalães e três com o Bayern Munique, ficou-se pelos oitavos no ano de estreia pelo City e cai agora nos quartos. Pep Guardiola e o Barcelona eliminados na mesmo noite, outra ironia desta Champions.

Há mais. Philippe Coutinho, por exemplo. Ele que em janeiro trocou o Liverpool pelo Barcelona, depois de cinco jogos nesta Champions pelos «reds». Impedido pelos regulamentos de jogar na competição pelo Barcelona, ficou a ver a sua atual equipa ficar pelo caminho e o clube que deixou seguir em frente.