Aos três minutos de jogo, quando o Sporting vencia por 3-0, muitos dos adeptos que lotaram o Pavilhão João Rocha para um jogo histórico do andebol português terão percebido que o sonho era real.

O Sporting entrava sem medo de brilhar diante do Veszprém, um gigante da modalidade que marcou presença em quatro das últimas final-four da Liga dos Campeões, e não se via ponta de demérito no colosso húngaro.

E nem o facto de aquele que tem sido a estrela da companhia não ter saído do banco – Carlos Ruesga tem estado limitado fisicamente nas últimas semanas e não foi utilizado – parecia capaz abalar a confiança de uma equipa que já alcançara algo inédito: a presença nos oitavos de final da EHF Champions League, no atual formato.

Num jogo tão importante, a primeira vitória estava alcançada a partir do momento em que o bicampeão português não mostrava excessivo respeito pelo adversário.

Uma constelação ofuscada com pragmatismo

Na baliza da formação húngara estava um tal de Arpad Sterbick, um dos melhores guarda-redes do mundo na última década. Mas era o sportinguista Aljosa Cudic quem mais defendia.

Do outro lado do campo estava um dos braços esquerdos mais temidos do andebol europeu, o de Laszlo Nagy. Mas o canhoto que mais brilhava era Ghionea, que levava quatro golos ao intervalo e acabou o jogo com sete, apenas suplantado por Nenadic, do Veszprém, que marcou nove.

E ainda houve um menino de 20 anos, Luís Frade, que no mais importante palco da modalidade mostrou que quer ser tão grande como os maiores.

Falamos apenas em dois jogadores do conjunto húngaro, para não maçarmos os leitores com a descrição daquilo que Hugo Canela definira na véspera da partida como uma «equipa galática».

Resumindo: perante o colosso que tinha pela frente, os jogadores do Sporting agigantaram-se. E apagaram com pragmatismo, e por largos minutos, uma constelação que demorou a acertar na defesa de forma a travar as movimentações ofensivas dos leões.

A equipa portuguesa liderou o marcador de forma quase ininterrupta até ao minuto 52. Até que embateu de frente com a realidade.

Três perdas de bola consecutivas no ataque no espaço de menos de um minuto, quando a equipa estava em desvantagem numérica e jogava sem guarda-redes, mostraram da forma mais cruel possível que a este nível os erros pagam-se caro.

E se é verdade que só a oito minutos do apito final, o Veszprém passou para a frente pela primeira vez na segunda parte (24-25), não é menos certo que nunca mais deixou a vantagem fugir.

É necessário dizer também que a equipa do Sporting não se deixou derrotar pela desvantagem, mas nem com o apoio de um pavilhão onde estiveram 2.903 espectadores - o recorde de assistência do recinto -, a equipa de Hugo Canela voltou a conseguir igualar o marcador.

Para os mais céticos, o 28-30 final pode mostrar uma derrota «que até nem é má». Contudo, para quem acompanha a modalidade, o que esta derrota por dois golos mostra, é que o percurso histórico que o Sporting tem feito na edição deste ano da Liga dos Campeões não é fruto do acaso.

O andebol português tem crescido, isso vê-se com cada vez mais jogadores portugueses a jogar nos principais campeonatos europeus e começa a ver-se também com os percursos de equipas portuguesas nas principais provas europeias da modalidade - como também mostrou o FC Porto neste domingo.

No início da segunda parte, num dos topos do Pavilhão João Rocha, foi mostrada uma tarja onde se lia «A nossa história escrevem vocês». A história que se escreveu neste domingo no pavilhão João Rocha não foi a de uma derrota. Foi a da prova de que não ter medo de ser feliz é mais de meio caminho andado para a felicidade.

Veja a forma como o público se despediu das equipas no final do jogo: