Autocarro, retranca, ferrolho ou catenaccio, chamem-lhe o que quiserem, a verdade é que Portugal empatou pela primeira vez no Giuseppe Meazza, a segunda vez em treze jogos em Itália, e, desta forma, antecipou a qualificação para a Final Four da Liga das Nações.

Os campeões da Europa são, aliás, os primeiros a marcar presença nas meias-finais da nova competição da UEFA. A Itália foi claramente melhor em quase todos os capítulos, fez um grande jogo, mas a verdade é que não conseguiu o mais importante, o golo que precisava.

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Por estratégia ou por imposição do adversário, Portugal entrincheirou-se desde o priemiro minuto à frente da baliza de Rui Patrício e sentiu muitas dificuldades em sair a jogar ao longo de toda a primeira parte. Fernando Santos optou por uma estratégia muito semelhante à que tinha aplicado com sucesso na Polónia, trocando apenas o castigado Pepe por José Fonte e Rafa Silva por Bruma.

Era previsível que a Itália, obrigada a vencer, entrasse forte no jogo, por isso Portugal entrou com um bloco muito recuado. A ideia seria depois procurar sair com transições rápidas, apostando na velocidade de Bruma ou na genialidade de Bernardo Silva, mas a verdade é que o plano não passou da primeira fase. Por mérito da Itália, reforçamos.

A Itália, com um onze bem mais forte do que aquele que perdeu no Estádio da Luz, entrou de facto com tudo. Insigne e Chiesa abriam bem o jogo nas alas, Batrella e Verrati convergiam para o centro, para o apoio direto a Immobille, enquanto Jorginho enchia o campo.

Portugal ficou, desde logo, manietado. Insigne foi o primeiro a testar Patrício com uma bomba que deixou as luvas do guarda-redes do Wolverhampton a ferver. Mas Portugal até se defendia bem, com duas linhas muito próximas, separadas por cerca de dois metros, com Rúben Neves no meio. Duas linhas que se articulavam muito bem e que abafavam e anulavam o tridente ofensivo italiano.

Numa primeira fase demasiado próxima da baliza de Patrício, deixando a baliza portuguesa ao alcance dos remates de Imobille e Insigne que criaram os primeiros calafrios em San Siro.

O problema era quando Portugal recuperava a bola. Não havia ninguém na frente e os italianos estavam logo ali, em cima do detentor da bola. Uma pressão alta que colocava muitas dificuldades aos portugueses, sem espaço, sem tempo, sem alternativas. A Itália recuperava rapidamente a bola e partia de imediato para novo assalto. Os primeiros minutos foram assim, sem tempo para respirar.

Numa das poucas vezes que Portugal conseguiu escapar ao sufoco, Bruma ganhou uma bola a Florenzi, entrou na área, mas foi desarmado por Chiellini no momento do remate. O central da Juventus fez história logo no início da partida, uma vez que completou 100 internacionalizações pela squadra azzurra e juntou-se a um grupo restrito de notáveis com mais de cem jogos, como Dino Zoff, Andrea Pirlo, Daniele De Rossi, Paolo Maldini, Fabio Cannavaro e Gianluigi Buffon. Sentimentos contrários para o seu companheiro do lado, Bonucci, muito assobiado pelos milaneses que não perdoam o regresso do central à Juventus.

A verdade é que, depois do amasso da primeira parte, o intervalo chegou sem golos, resultado que servia apenas a Portugal. A Seleção Nacional tinha escapado incólume à primeira parte, apenas com algumas sequelas: Mário Rui e Rúben Neves viram cartões amarelos que os afastam do jogo de terça-feira com a Polónia.

Ao longo da primeira parte os adeptos portugueses recuperaram a música que ganhou popularidade no Euro2016 e que esta noite fazia todo o sentido: «Não importante, não importa, que joguem bem ou mal, vamos é levar a taça, para o nosso Portugal».

Portugal entrou para a segunda parte com um bloco mais subido, procurando jogar mais longe da baliza de Patrício, mas continuava sem bola. Era a Itália que voltava a mandar no jogo, com mais posse de bola, maior profundidade e, sobretudo, rápidas recuperações quando perdia a bola. Mas agora os «azuis» tinham de correr mais metros para chegar junto da baliza de Patrício e o desgaste começou a notar-se. A squadra azurra já não pressionava como tinha feito até aqui, já não ia a todas as bolas.

Com a entrada de João Mário para o lugar do apagado Pizzi, Portugal acabou mesmo o jogo por cima da Itália e esteve muito perto de fazer história quando Rúben Neves lançou Cancelo pela direita e o lateral cruzou para o remate de João Mário. A bola passou perto da trave e a squadra azzurra ficou a centímetros de conceder a sua primeira derrota em San Siro. Logo a seguir, nova oportunidade, com William Carvalho a puxar o pé esquerdo atrás e a obrigar Donnarumma a destronar Patrício com a melhor defesa da noite.

Com os minutos a correrem para o final, Fernando Santos decidiu fechar mesmo a porta, com as entradas de Raphael Guerreiro e de Danilo Pereira para os lugares de Bruma e André Silva. Estava feito. Portugal será, assim, o primeiro anfitrião da Final Four da Liga das Nações, com quatro grandes jogos marcados para Guimarães e Porto. Mais uma medalha para o cada vez mais rico currículo de Fernando Santos.