Pelos vistos, a metáfora anatómica que Diego Simeone lançou em Londres, depois da vitória sobre o Chelsea, tinha toda a razão de ser. Desta segunda-feira até ao próximo dia 24, os seus jogadores vão mesmo precisar de toda a produção de testosterona que os seus organismos conseguirem, para gerir o duplo desafio mais exigente das carreiras.

Como num western em dose dupla, os «colchoneros» terão de ser mais fortes não num, mas em dois duelos ao pôr do sol, frente aos rivais históricos, um depois do outro: o Barcelona no Camp Nou, dia 18, para decidir a Liga espanhola e o Real Madrid, seis dias mais tarde, no estádio da Luz, pelo título europeu. Enfim, um daqueles finais de temporada que, trasformados em filme, motivariam narizes torcidos por parte dos espectadores, por ser demasiado à Hollywood.

É verdade, porém, que a situação não é inédita. E, se os precedentes históricos contam para algo nestas coisas – normalmente contam pouco... - o cenário é favorável ao At. Madrid. Em 1951, da última vez que a Liga foi decidida num frente a frente na última jornada, os «colchoneros» garantiram o título: tinham dois pontos de vantagem sobre o Sevilha e, tal como agora, com o Barcelona, o empate era suficiente. Foi exatamente esse o desfecho conseguido (1-1) na visita ao campo do adversário.

Já o Barcelona tem más memórias do único tudo ou nada com um rival direto que jogou na última jornada: em 1946, recebia o Sevilha e seria campeão se ganhasse, tal como acontece agora. Mas ficou-se por um empate (também 1-1), dando aos andaluzes o único título no seu historial.

Willy Caballero: a defesa que manteve a Liga viva

Às portas da melhor temporada de sempre nos 111 anos de história do clube, os homens de Simeone parecem, entretanto, estar a ser vítimas daquilo que Jorge Valdano chamou em tempos «medo cénico». Depois da inesperada derrota com o Levante, há uma semana, esta foi a segunda jornada seguida em que a equipa que nunca se enganava e raramente tinha dúvidas desperdiçou um «match point» para o título - para mais, no último jogo da temporada perante os seus adeptos.

Com o Real Madrid, privado de Cristiano Ronaldo, a completar em Vigo o estranho hara-kiri que o deixou fora da luta, ao desperdiçar sete pontos nos últimos três jogos, as emoções repartiam-se pelo Vicente Calderón e pelo estádio Manuel Martinez Valero, onde a equipa local ainda precisava de um ponto para garantir a permanência.

Sem Neymar, mas com Messi e Alexis Sanchez, a equipa de Tata Martino precisava de uma vitória para ficar com o destino nas mãos mas, a exemplo do sucedido há uma semana, com o Getafe, pagou o preço de uma acentuada perda de identidade, ficando em branco pela sexta vez nesta edição da Liga – tantas como nas quatro anteriores somadas. Seria o suficiente para entregar o título

O problema é que, em Madrid, perante um Málaga tranquilo e a jogar com três portugueses de início (Duda, Antunes e Eliseu), o Atlético não conseguiu fazer melhor: sem o goleador talismã Diego Costa, o tributo aos nervos foi pago em doses sucessivas de intranquilidade, perfeitamente demonstradas no caricato golo de Samu que, por momentos, pôs os visitantes em vantagem (65 minutos). Falou mais alto, nessa altura, o fator Simeone: à falta de lucidez, valeu o temperamento e capacidade de luta dos «colchoneros», que chegaram ao empate aos 74 minutos, numa cabeçada do belga Alderweireld, e passaram o resto do tempo em busca do golo que lhes daria o título. E teriam chegado lá, não fosse esta defesa maravilhosa do argentino Willy Caballero a remate de Adrián, nos últimos instantes da partida:



Assim, fica tudo como dantes: vai mesmo haver finalíssima da Liga no Camp Nou, antes da decisão europeia na Luz. O sexto confronto da temporada entre culés e «colchoneros», com o saldo de quatro empates e uma vitória para os homens de Simeone. Novo empate chega-lhes para quebrar um enguiço com 18 anos. Alguém falou em «huevos»?