Cheira a Sevilha, claramente. É impossível começar a crónica de outra forma: como em 2003, na última participação na Liga Europa, o F.C. Porto entrou na meia-final a perder e acabou por dar a volta. O resultado, até ele, é semelhante. O passado pisca ao olho a esta equipa, que abre o sorriso para o futuro.

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Ora esta coincidência memorável dá todo um outro sentido ao grito do Dragão. «Venceremos, venceremos, venceremos outra vez, o Porto vai ganhar a Taça, como em 2003» é cada vez menos um sonho. As narrativas estão aí para o certificar e encher de ilusão as bancadas de um estádio deslumbrado.

O resto... bem o resto é força, explosão, espírito e muita capacidade. O F.C. Porto não fez uma boa primeira parte, saiu para o intervalo a perder por 1-0 e até podia ser por mais, o Villarreal criou três ou quatro ocasiões de golo, mas voltou dos balneários reforçado, impositivo e opressor.

Desfez um senhor adversário. O que é caso para dizer que abrandou ao sinal amarelo mas não parou: fantástica segunda parte a atropelar um Villarreal que em menos de vinte minutos se desfez em cacos. Nessa altura não era bem o submarino temível: era uma espécie de submersível. Deu até para brincar.

Destaques: Falcao a voar sobre os centrais

A vitória passou muito pelos pés de dois colombianos: Guarín deu o grito de revolta, Falcao transformou as palavras em acções. O avançado fez quatro golos, praticamente que se impôs como melhor marcador da Liga Europa e ultrapassou Jardel como melhor marcador de sempre nas provas europeias.

Nos últimos três jogos para a Liga Europa, Falcao somou oito golos. Incrível. Melhor só mesmo o F.C. Porto, que pela terceira vez consecutiva na prova chegou à mão-cheia de golos. Cinco, mais cinco, mais cinco. É uma demonstração de força enorme. Pelo caminho a viagem a Villarreal ficou mais fácil.

«Temos a vantagem de ter um Falcao incrível, não é?»

Nesta altura convém dizer que nem sempre foi assim. A primeira parte dos espanhóis foi aliás excelente. Defendia com dez homens atrás da linha da bola (até Nilmar surgia junto à área defensiva), trocava a bola rápido e explorava as diagonais de Rossi e Nilmar (outra vez ele). Por aí criou muito perigo.

O F.C. Porto não encontrava soluções para evitar as diagonais em velocidade e acima de tudo não encontrava soluções para travar os lançamentos açucarados a partir do meio. Borja Valero, por exemplo, é craque. Saiu no início da segunda parte e a partir desse instante a coisa ficou mais fácil para o Porto.

Villas-Boas: «Falcao? Nós não vendemos fácil»

Nessa altura, também é verdade, o Villarreal já não era a mesma equipa. Guarín construiu o primeiro golo, fez tudo no segundo e derrubou a oposição espanhola. O F.C. Porto cresceu, o público motivou-se e Hulk fez gato-sapato de Catalá no flanco esquerdo. Quatro golos surgiram por esse lado.

O lateral viu aliás um amarelo que o afasta do segundo jogo: foi uma noite cruel para ele. Sem piedade, segurando muito mais o jogo com o recuo de Moutinho para se colocar mais perto de Fernando, o F.C. Porto tomou conta da bola, asfixiou o meio-campo espanhol e com isso esvaziou o ataque.

Só por duas vezes o Villarreal obrigou Helton a aplicar-se no segundo tempo. Foi um domínio avassalador que deu ânimo ao ataque para um estrangulamento que garantiu a vitória, o passaporte para Dublin e um feito memorável para Portugal: duas equipas na final da Liga Europa. Alguém duvida?

Só mais uma coisa: Villas-Boas insiste em bater os recordes do Porto de Mourinho. Até aquele memorável 4-1 à Lázio.