A Fiorentina de Paulo Sousa veio ao Restelo impor o futebol que tem estado a surpreender a Série A, com um jogo mandão, uma elevada posse de bola e controlo absoluto sobre o jogo. O Belenenses fez o que pôde, dentro das suas limitações, e até se pode queixar da arbitragem, mas a vitória da equipa italiana por 4-0 não merece contestação. Grande ambiente no Estádio do Restelo, com muitos adeptos italianos, mas também muitos estudantes universitários a reforçar o apoio à equipa portuguesa. Foi, acima de tudo, um privilégio ver um futebol diferente, com uma tática audaz, por vezes aborrecida, mas extremamente eficaz.

Confira a FICHA DO JOGO
 
A verdade é que o Belenenses sentiu tremendas dificuldades para encontrar antídotos para um sistema a que não está habituado. A Fiorentina apresentou-se com apenas três defesas no sector mais recuado e muita gente a encher o meio-campo, sem pressa de chegar à baliza contrária, pelo contrário, com toda a paciência do mundo para esperar por um erro do adversário para depois procurar uma finalização certeira. O Belenenses caiu neste engodo. Cedeu totalmente a iniciativa ao adversário e esteve muito tempo, demasiado tempo, a correr atrás da bola.
 
A equipa italiana gosta assumidamente de ter bola e de a fazer circular de pé para pé, levando-a de uma ala à outra, para depois voltara para trás, sem pressa, mas mantendo-a sempre a rolar. Um futebol aparentemente inofensivo, mas que vai adormecendo o adversário que, mais tarde ou mais cedo, acaba por cometer um erro. O Belenenses fechou-se bem lá atrás, com duas linhas defensivas bem definidas, com André Sousa e Rúben Pinto, à frente dos centrais. Em bloco, a equipa de Sá Pinto ia basculando de um lado para o outro, procurando fechar todos os caminhos aos italianos.

O jogo sonolento da equipa «viola», que hoje jogou de branco, ia embalando os de azul que, de vez em quando deixavam-se surpreender, por um passe a rasgar vindo de trás, quase sempre dos pés de Marcos Alonso, ou por uma rápida combinação entre Vecino e Mário Suárez, os dois jogadores que iam lá atrás buscar a bola para alimentar a alargada frente de ataque. O Belenenses sofria.
 
Durante largos minutos, a equipa de Sá Pinto, cada vez mais encolhida, não conseguia melhor do que afastar a bola da sua área. Com o passar dos minutos, a Fiorentina encostou mesmo uma linha de cinco jogadores à última linha azul. A pressão tornou-se asfixiante e, na primeira vez que o Belenenses arriscou um ataque, aos 17 minutos, acabou por sofrer o primeiro golo. Rápido contra-ataque da Fiorentina com Vecino a rematar forte à entrada da área. Ventura ainda defendeu para a frente, mas Bernardeschi, na recarga, não perdoou.

Sem bola, não há reação,,,
 
A equipa de Sá Pinto procurou reagir de pronto, mas não tinha bola para isso porque, logo a seguir, os italianos voltaram à mesma lenga-lenga, com uma elevada posse de bola e um controlo absoluto sobre o jogo. Matias Fernandez também esteve perto de marcar, num canto direto, com Gonçalo Brandão a desviar junto ao primeiro poste e a bola a ir à barra. Mas o Belenenses também se pode queixar de um lance capital na área da Fiorentina quando Kuca entrou na área e foi puxado por Astori. O árbitro não viu e mandou seguir, mas parece ter ficado uma grande penalidade por marcar. Até ao intervalo, mais duas contrariedades para Sá Pinto. Primeiro, Sturgeon lesionou-se e teve de ceder o lugar a Dálcio. Mesmo sobre o intervalo, numa altura em que a equipa do Restelo parecia estar mais equilibrada, Babacar arriscou um remate fora da área, a bola sofreu um desvio em Geraldes e traiu Ventura.
 
É verdade que a Fiorentina tinha dominado toda a primeira parte, mas este segundo golo foi um castigo demasiado severo para a equipa de Sá Pinto. O treinador dos «azuis» precisava de mudar muita coisa para a sua equipa poder entrar no jogo. E mudou. Pelo menos na atitude e, sobretudo, na disposição no terreno. O Belenenses conseguiu defender uns metros mais à frente e, assim, já conseguia solicitar a velocidade de Kuca e Luís Leal na frente e impor também alguns sustos aos italianos. Logo a abrir a segunda parte, o cabo-verdiano, numa iniciativa individual, derivou da esquerda para o interior da área e, no meio de uma sucessão de dribles, obrigou Luigi Sepe à primeira defesa da tarde.
 


A Fiorentina procurava retomar o jogo mandão, mas agora já tinha o adversário a morder-lhe os calcanhares. O Belenenses, com Carlos Martins, André Sousa e Rúben Pinto a deixarem tudo em campo, conseguia finalmente incomodar, mas à medida que o sol ia descendo, o jogo ia perdendo intensidade. Já perto do final do jogo, Paulo Sousa lançou a sua última cartada e matou o jogo. Blaszczykowski entrou, destacou-se sobre a direita e cruzou tenso. Tonel tentou intercetar a bola, mas desviou-a para as próprias redes.
 
O jogo chegou ao fim, com um céu espetacular, como é habitual neste final de verão no Restelo, em tons de azul e violeta, as cores dos dois emblemas que estiveram no relvado esta noite. E mais um golo. Com o Belenenses à procura de salvar a honra, Giuseppe Rossi fugiu a toda a gente e, diante de Ventura, atirou a contar.
 
Vitória natural de uma Fiorentina claramente superior diante de um Belenenses que se bateu bem, sem nunca perder a dignidade.

Confira aqui os destaques do jogo